sexta-feira, 2 de outubro de 2009

"Venha, eu vou cuidar de você" (O Natimorto)

Sentei aqui pra escrever e coloquei, "repeat one" em "Enquanto seu lobo não vem".
Essa música me faz importância de enlouquecer esses dias.

Hoje acordamos mais cedo que de costume.
"mamãe, mamãe..."
Sete e meia da manhã.
Tito anda mais inseguro que de costume também.
Claro, sou eu. Ele sabe quando estou mais maluca.
Pede alto como se me lembrasse: mãe, volta!

Bom, vou lá e agarro ele. Seja a hora que for.
Em pedido de desculpa disfarçado.
Ele tem sido cada vez mais lindeza de vida na vida que eu tenho depois dele.
Tenho me concentrado mais.
Não demais, nem de menos. Acho.

A música na terceira repetição.

Tinha planejado levar Titão na escola, voltar pra casa fazer umas coisas que tinha pra fazer e mais tarde ir pro Rio num encontro que tinha marcado com Gus tan van.
Como mãe e filho acordaram antes, me preparei melhor e depois de deixar filhotudo na escola fui direto pro Rio ver O Natimorto.
Cheguei lá, comprei meu ingresso e sentei no banquinho da praça do Odeon. De frente.
Em seguida vejo Lourenço vindo fumar um cigarro perto.
Fui lá ver ele, agarro um abraço e uma conversa.

Muito emocionado com a recepção que o filme teve na estréia.
Depois me pergunta: Como é que você tá?
- Caminhando. Pé por pé.
- Difícil, né?
Ele é assim, generoso pra te olhar, pra saber de você enquanto o filme dele estréia no festival.
Apareceu o pessoal da produção, ele se despediu pra encontrar com eles.
Perguntou ainda de gentil que é: Toma um café?
Querendo que ficasse à vontade, disse que não.

Entrei no Odeon que pra mim é sempre especial.
Não fiquei na fila porque sei que sozinha a gente entra fácil em qualquer poltrona que sobra.
Sentei na melhor, atrás do lugar reservado pro júri.

Teve apresentação do filme e depois Lourenço veio vindo pra trás pra sentar e assistir. Disse que na estréia ele não viu direito pelo nervosismo. Já escuro, sentou na poltrona que tinha na minha frente. O cara da produção falou pra ele que ali era reservado. Levantou simples, deu a volta nas cadeiras e sentou na poltrona do meu lado. Eu dei um beijinho no ombro dele e disse: Consegui! Ele riu e de gentil que é: Tava te procurando.

Vimos o filme.
O Lourenço é um dos artistas atuais que mais me tiram do lugar.
Mais ainda depois que conheci o que ele é.

Terminou o filme. Aplaudimos.
Eu tinha que virar e cumprimentá-lo e não conseguia, não sabia sair da tela.
Ele me cutucou e disse: preciso ir, o pessoal tá me esperando.
Tinha debate.
Abraçamos de novo do jeito melhor de abraçar.
Me perguntou: Gostou?
Eu na minha pobreza espontânea: nossa senhora!
Ele foi e eu fiquei ali, escorrendo do olho, até a última letra. Feliz de não estar em cinema que acende a luz nos créditos.

Fui ao banheiro. Fila.
Chorava ainda.
Esperei olhando pra baixo. Dentro do filme.
Xixi.
Saí e lá fora encontro de novo Lourenço entrando na Van.
Abraçamos de novo.
Digo a ele que tenho uma reunião e não posso ir vê-lo no pavilhão.
Ele diz: Gostou, então, não?
Eu de novo na idiotice: - Puta que pariu. Queria ficar lá.
Despedimos.

Se houvesse outra sessão eu ficaria, e se mais uma de novo.
Como o repeat do Caetano.
Podia estar até agora lá, e até amanhã.

Não preciso de muitos lugares diferentes, mas desses poucos que me dão casa.

Me derreto com esse encontro.
Com esse tipo de.
Com ele, Lourenço, o encontro tem sempre um pouco de melancólico.
Mas melancólico do jeito correto, como diz um amigo que gosto.
De poder entregar também o que não tá sorriso.
Sempre saio melhor.
E dá certeza que nada precisa ser forçado.
Que as coisas se atraem.

Eu precisava dos três abraços dele hoje.
Também de assistir a esse filme que me mexeu tanto desde o livro, ao lado dele.

Obrigada, Lourenço querido.
Sem saber mais como agradecer do cuidado que me tem.


Um comentário:

Marina disse...

Nossa maravilhoso.
Sigo lendo e ouvindo...