segunda-feira, 30 de novembro de 2009

que acontece de repente

Dois lugares que não juntam falam de cada lugar.
De cá sem saber de lá, volta a se ver
Por saber que há o que ver no que ouve.
A imagem sem, soa várias.

Beleza certa de onde não tem.
Projeto pra onde não calça.
Se querer ali é saber onde não.

Ouvindo a mesma música,
procuro a imagem que não sei fazer,
Faz diferente que me perde.

A sensação confunde onde tá,
Confundo também.
Não sei, e quero.

domingo, 29 de novembro de 2009

queria querer toda flor de todo copo

Foi acordar como qualquer vez que se acorda.
Depois de amanhecido.
Um cheiro diferente, a cara pior.
Resto de coisa.
Pela casa procuro o líquido que fazia falta.
O copo de água na mesa.
Amanhecido também.
Algo que bóia.
Dada as costas, bebi da fresca.
De volta pra cama, culpa do excesso de sono.
Menor que o sono que fez dormir.
O alarme, o segundo, diz que não dá mais.
Levanto como se a primeira vez.
O cheiro, a cara, o resto, o copo ainda na mesa.
Dada as costas, lavar no banho a fumaça, mudar o cheiro, aquele resto.
Depois a casa, mudar o cheiro, tirar resto que sobrou.
O copo vazio, a água não bebi, a flor eu joguei.

guarda um cravo para mim

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sua cara, 27 de novembro




É perturbador ter consciência de si,
ou se achar conhecedor.
Mas, ser inerte adoece
e contamina os desatentos.
Estar desatento funciona como um mecanismo de proteção
ao que pode lhe arrancar a cabeça.
(...)
A vontade de ser criador de sonhos
é a vontade de ser tranquilo e amável.
Talvez, seja esta a forma
que encontrei para ser amável.
(...)
Hoje eu não tenho um sonho,
amanhã não estarei dizendo isto,
nem serei este que aqui vos fala.

Carlosmagno Rodrigues

sampaio

domingo, 22 de novembro de 2009

Eu não tenho nada a ver com isso

Uma menina que mora aqui perto tinha nela um jeito de quem tem história pra resolver.
Não sei se chegou a falar, escutei o que disse e se não falou eu conto o que é.
Tinha lá outro alguém que não consegui enxergar, mas vi que tinha e não a escutava, não ouvia o que ela dizia.
Ela contou que não sabia mais.
Repetiu três vezes, eu ouvi.
Que tinha gostado de alguém, isso talvez não me disse.
E que ele, talvez homem, talvez outra dela, um bichinho ou um livro novo do Lourenço, não derramou borbulha por ali.
Então correu dias, 5 dias correu sem soprar, de peito cheio pra ir até lá onde não via.
De lá esticava o pé pra ver se vinha.
Sabia que não, sem saber o que dizia deixou pra ela o som dele pra escutar.
A corrida diminuiu e o passo seguia.
Pensava que ia em reta, segura da frente, do que não conhecia.
E a linha fez uma curva, sem querer a volta, seguiu a linha reta que vira.
Fez curva durante dias.
Os dias comemoraram meses, e ela ia, até palma batia.
Viu então um risco no chão que dizia de um dia, e nele ele e ela se viam.
Olhando pra trás pensou em voltar.
Mas se o risco era de um dia que não conhecia, talvez naquele dia ela ria e nem sabia.
Outro risco apareceu, disse a ela que se arrumasse, que ajeitasse os peitos e combinasse as partes debaixo e de cima.
Ela descombinada no que pensava, no que sentia, ergueu e trocou o que o risco mandou.
Três passos e ela sabia que era ali que fazia o dia.
Ela chegou e tinha lá o risco que dizia, daqui pra frente não tem mais guia.
Ele, que pode ser homem, outra dela, o bicho ou de ler, chegou depois.
Estava surpreso, olhava e não entendia.
Ela sabia, ela sabia. O risco safado aumentou a curva, meteu as partes em roda.
Mas ele tinha razão na arrumação.
E o dia passou, ela até ria, o ônibus que passou reparou, buzinou e deu bom dia.
O risco apareceu, disse que mais uma volta ela tinha.
Ela brigou, querendo dizer que queria mas que ele tinha que contar a ela o que tinha depois, onde não via.
Ele, que pode ser homem, outra, o livro ou um animal.
Mas quando? Perguntou se não podia voltar no dia da arrumação.
Tem que dar a volta toda pra poder chegar, levanta o peito e combina aqui com lá.
O risco passou. Ela gritava, sem saber se dizia, por que tanta volta? Cadê a linha reta por onde eu vinha?
Viu na frente alguém, deve ser o dia.
Quando pisou na linha não havia, sumiu.
Cansada e desarrumada foi confusa do que fazia, porque essa merda de tanta rima, que mania.
O risco apareceu no susto, pra defender a história que ele fazia.
Minha história é riquíssima, nem rima eu uso, menina, você escuta o que pode porque é estúpida, pequena e vazia.
E não falei vazia.
Chateados o risco escreveu . a menina pisou e esticou _
O risco de pirraça continuou, fazendo a menina andar e pular _ _ _ _
Não aguentava mais, queria parar.
Ele fez um sorriso de lado e escreveu, três passos pra levantar e arrumar.
E atrapalhada entre andar, vestir e erguer viu que lá na frente o risco dizia daqui pra frente adivinhação.
Fique aí, é aqui.
Ela sempre chegava, chegava, esperava.
Eu quero reta.
Ainda não.
E lá vinha ele que ele, ela, coisa ou aquilo, e a surpresa, por que a surpresa?
Tudo empinado, combinado como disse o risco ali pra trás.
O dia vira outro e o risco diz que mais uma volta talvez possa dar.
Eu não quero mais a volta pra chegar, berrou que todo mundo do prédio ouviu. Mesmo o que não sabia se havia mas via que não a escutava, vi que olhou na direção onde ela estava.
E gritou na cara de cada um com perdigoto que pulava dela pra lá:
Corri dias sem respirar, fiz reta, curva, pensei em voltar, pulei, li, ouvi essa chatice, via, sabia, levantei, ergui, combinei, chego, espero, faço, não quero mais me arrumar, não quero ter que provar, não topo mais essa volta, não quero ouvir sem dizer, não quero outro tempo que não o tempo que eu sei, não aceito mais esse, essa, isso ou aquilo assim, que não esteja caminho inteiro, não gosto mais que me diga se reta ou se curva, quero agora sair dessa porra de linha e andar pra qualquer lugar!
E foi aparecendo no chão:

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sábado, 21 de novembro de 2009

o lenço sujo agora enfrenta o jantar

E num dia atrás de alguns não tinha outra coisa que não fosse a coisa,
Era ela, ela e só ela era que,

Aflição em toda lombriga se a coisa única coisa não era, e fosse, seja, vai.
E não.

E se a coisa única coisa era agora a única coisa que não,
Vai vendo pra onde foi.

Escorregada da ida que não vinha,
Em socorro que vinha senão, se não vinha, adivinha.

Aí lá de lá onde não enxerga nem lá, tem o passo único passo, pra cá.
E às vezes volta, e ir, sem ir de volta
Sem saber como é que é que.
Outro lugar que veio,
Com cara de mesmo que não viu,
Como preservativo, dos poucos,
Faz a volta de toda vinda.

Cresce a vida se está, depois como se não tivesse,
E não pode porque não vai,
E não volta de volta pra onde foi quando chegou.
Pra onde?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

o olho prateado virou a cara

O computador parou de funcionar há um tempo atrás.
Antes já tinha queimado o teclado.
Com algumas versões do caso.

E sem ele nada resta.

Lipe ficou de ajudar.
Tinha passado por isso, tinha uma tentativa pra fazer.

Chegou um dia que não aguentava mais.
Estava com ele no telefone.
- Tem que deitar o computador com a tela pra baixo.
Mas olha...
Pou!
- Não faz isso enquanto fala comigo.

Me conhece.

Não falei na hora.
Tenho vergonha desses impulsos.

Ao mesmo tempo que preciso de um buraco pra me enfiar, às vezes,
Ê o único jeito de alguma coisa andar aqui.
Bruta-uta.

Pausa.
Não acredito como as coisas riem de mim o tempo todo.
A luz da sala acabou de cair!
Caiu agora.
No meio da frase.

E já como se vivesse em acordo.
Continuo escrevendo.
Termino o chá.
Faço chá o dia todo.

A lâmpada espalhada.

Dúvida se continuo, se páro pra limpar.

Já venho.
Uma música enquanto isso.
A que tocava aqui, agora.



Quebrou.
Ficou coisa lá dentro, a bunda da lâmpada.
Não consigo colocar outra.

Casa.
Casa.

Barata se afoga, dorme na concha de olho pra fora.
Máquina de roupa pára de centrifugar.
Luz do quarto não funciona nem com lâmpada nova.
A outra se joga, a bunda enroscada.

É assim?
Sempre foi?

Eu chego a jurar que não caso mais.
Não pelo casamento.
Pela separação.
Não quero mais separar.
Nunca.
Nem morrer.
Venho conseguindo!

Mas parece que casa é feita pra ter dois gêneros.

Sem ismos.
Nem fêmeos.
Nem machos.
A bunda da lâmpada é pro homem.

Barata é do homem!

Se bem que Lipe e eu discutíamos pra ver quem matava as cascudas.
Não pode.
Barata é do homem.

Diz que discutia mas sempre matava.
Mas enquanto não decide vem adrenalina, medo, ansiedade de vencer.
Talvez tenha sido decisivo.

Com as próximas pessoas que conhecer vou perguntar.
Antes de qualquer coisa começar.
Não quero nunca mais separar.

Se não quero casar não devia ficar aflita.
Não sei dizer disso.
A barata já foi.
Só tem a bunda, da lâmpada.

Depois de cair com a tela na mesa fiquei me olhando nele, no computador.

Comecei passo por passo, conforme orientada.
O corpo transtornado.
Tenho desespero por concluir.
Me segurei.

E a vida é outra!
Tudo funciona.

Parecia estar em outra pessoa.
A vida aconteceu como nunca tinha visto.

Na faculdade era a pior aluna de maquiagem.
Começava com uma idéia legal no olho.
Depois outra ótima no queixo.
Mais uma perto da orelha.
O outro olho tinha uma cor assim.
O nariz uma textura.
E já não via mais nada.
Uma massaroca.

A professora sempre começava gostando.
Quando voltava ria, sempre.

O maior trabalho pra conseguir fazer minhas coisas é diminuir.

Esses dias estava fazendo o cartaz do cineclube.
Nessa sexta, cineclube.
Fazia com o Gus.
Ele fazia, eu esperava.

Aí disse, pra que isso aqui? (do texto)
Pra ser performático.
Acho demais, ele disse.
Tá, tira então.

E isso?
Estranho isso.
Tira, Gus.

Posso tirar isso aqui também?
Pode, tira.

Tem outra coisa...
Tira!

Ainda bem que eles existem.
Quero encher tudo de maquiagem.

Por isso nunca pude pintar, desenhar.
Ocupo o espaço todo.
Sem poder tirar depois.

Essa máquina aqui que me faz feliz.
Uma barbaridade de coisa e depois del del del

Assim também de outro jeito.
Falo demais.
Rio muito.
Alto.
Choro fazendo barulho.
Ou me engulo, sumo.

Por isso talvez precise tanto ficar sozinha.
Sozinha encho de silêncio.
Exagero.
Sempre exagero.
Tem o espaço todo pra entupir dele.

Numa brincadeira com o sobrinho uma vez achei genial o que ele fazia.
Pequeninho começou a dizer uma palavra com letra tal.
Eu dizia outra.
Ele outra.
Achei genial.
Outra.
Outra.
Outra.

Chega Mari.

Não sei parar.
Não sei ocupar a parte de cá vendo a outra em eco.
E esse texto eu não páro também.
Quero lembrar tudo.
Dizer todas as coisas que lembro, vou lembrando.
Mais chá, mais, mais
del del del

Bruta-uta.

a história do photo booth e a ex-atriz

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

sábado, 14 de novembro de 2009

meu amigo mais Veloso



"Como diria meu amigo Gabriel: "Muito me emociona" ver e participar dessa nossa arte.

Você é demais, seu talento cria realidades: faz perceber que vale a pena tudo, até tocar o meu humilde violão.

Recebi esta sua dádiva como um sopro de vida na nossa manhã.

Um beijo com amor,

João - o não-diplomata"

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Vivo que nem papel

Não sei como.

Veio uma.
E essa agora.
Essa outra de agora.

Quase dezembro.
Duas.

Segurando minha mão, me olhando bem
Preparada? Pode acontecer.
Sorrio, no limite, rio.
Marcado, temos pressa.

Bom dia!
Vez que detesto esse riso na minha cara.

Vamos lá?

Desce mais.
Bem perto daqui.
Usamos uma câmera e fazer o que for possível fazer.
Claro!
Inconsequente.

Puxa.
Já está aqui.
Vê?
Não tem mais jeito.
Está bem?

Pari meu DIU.
04/11/09.

--

Faço chá.
Dia todo faço.

Na próxima água,
Vejo.
Na panela que não lavei.
Ia lavar.

Agora não sei.
Preciso de ajuda.
Estou sozinha.
Quero alguém comigo.

Por favor, alguém comigo.

Se afogou.
Vi depois.
Tempo depois.
Movimento nenhum.
Agora nenhum.
Se jogou, sim.

Era uma, acabou.

Bóia na panela, na água que fez dentro.
Ia lavar.
Agora não sei.
Preciso de ajuda.

Era ela.
Concha, leiteira, no fim a panela.
14 de novembro de 2009.

Tenho também caminho de volta

Tenho também caminho de volta from Mariana on Vimeo.

Quem vem, chega, quem não, passou

Joaquim chegou!

Mãe, vira mãe assim que vira mãe.
E mãe é ser mãe em tudo que não era.
Nunca dei trela pra criança.
Bebê então, ria porque assim que faz.
Talvez por ser caçula, talvez por outra coisa.
E depois de mãe uma "mantegona".

Choro besta o nascimento.
E as histórias que parecem a mesma são uma só.
Joaquim tem a sua.

Além dele, Sérgio também chegou.
Do Peru, pro apagão.
Ontem na rua, fui vendo porque o mundo inteiro se apaixona por brasileiro.
Houve, ouve todas as tentativas de espanhol.
Ninguém faz isso!
Lugar nenhum.
Só a gente que é louco pra respirar um extra-Brasil.
Tão isolado que a gente fica, no português de todo lado.

Me lembro que quando fui morar longe dos meus pais, tinha 16 anos, descobri que nem enviar carta eu sabia, meu pai levava pra mim.
Ser daqui é como um filho caçula que nunca levou carta pra enviar.

Cedo fui atrás de abacate.
Eles comem abacate com pão.
Na salada.
Abacate com sal.

Abacate, água de côco, umas comidas e chocolate.
Não tem nada demais nosso chocolate, eu que gosto.

Ele vai cozinhar.
Todo homem peruano que conheci cozinha.
E quando um peruano cozinha, homem ou mulher, é cozinhar como se pra tv.
Inacreditável.
O gosto, a quantidade.

Só tomo chá.
Dia todo tomo chá.

Além de Joaquim e Sérgio, tem o cineclube Sua Cara.
Aqui em Niterói.
Chega na sexta.
Nessa hoje não, na próxima, dia 20.
Todas as sextas, 20 horas.
Bar do Turco.

E eu chego ao fim.
Bom dia!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

aonde vai o pé, arrasta o salto

Quero agradecer às pessoas que reclamam o entusiasmo da página.
Mês de fechar o livro, que vem daqui.

Além de trabalhar no que preciso e no que preciso.
Um preciso de interesse, outro abastecer.
Alguns preciso-preciso (com o hífen que caiu).

Não me desistam.
Todos vocês quatro, cinco, dez, por favor, não.

Daqui três dias faz um ano que comecei a escrever.
Do jeito que soube.
Um ano que estive mais aqui que aqui.
Que me fez ir pra uma quantidade de sensação.
Reconhecer lugares, outros.
Pessoas outras.
Mesmo as que já tive por perto, aqui outras.

Gritar e espremer o que não aguentei pra dentro.
Textos diários.

E agora momento de saída e entrada.
Onde não sei fazer mais o que fazia, nem fazer o que ainda não entendi como fazer.

Me cria silêncio.
Aqui.
Em alguns outros lugares.
Tentando entender o que levei, o que deixei, o que vem que não conheço.

Perceber pra onde me carreguei.
O que usar.
O que não mais.

Ouço sem parar.
No silêncio que faço.
E preciso ouvir.

Enxergar diferente, o que vejo, o que não.
Não tem mais pra ir onde já foi.
Esgotamento que faz começo do que ainda não sei que começou.

E posso ir.
Com o que ainda não reconheci.

O que mais me interessa.
Nenhuma resposta são todas.

E esse silêncio cheio.

Obrigada por tanto afeto.
De verdade, afeta.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

há há há, hó hó hó, ela tem é uma só

Já tinha desistido.

Porque depois da leiteira, outro dia estava ela na concha, que penduro na parede. Como se deitada na rede. Me olhando. Com carinho, calma. Como se meu bichinho favorito. Para quem separei a concha pra onde dormir.

Na leiteira e na concha foi como se tivesse indo ver o sono de meu filho à noite.
Vi, apaguei a luz e fechei a porta.

Não quero passar a vida assim.
Uma vem, morre, e vem de novo.
Achei que era melhor parar.
Tudo bem, fica na concha.

Talvez o descaso seja o segredo do baygon.

Porta fechada.
Dormimos, todos da casa.
Cada um na sua concha.

Chego em casa, louca de fome.
Quatro da tarde e sem almoço.
Não tenho nada pra comer.
Tomate, adoro tomate.
Salsicha.
Gosto de salsicha com tomate, salada.
Pimenta.
Na falta de comida melhor, fazer cara de gosto.

Abro o armário da cozinha, não imagina o que encontro...

Duas!!!
Uma pra cada lado, às voltas, perdidas, como se gaguejassem.
Pensaram que eu não vinha, não costumo chegar essa hora.
E eu tinha deixado essa uma.
Dormindo com a gente.
Na concha, na conchinha, luz apagada.

À noite tenho filho dormindo.
Não sei matar em silêncio.
Saí vermelha, aos berros Eu mato! Eu mato!
Uma subiu, outra ficou.
Peguei a vassoura e antes que me olhasse Pá!

Caiu zonza com três panelas.
Não perdoei, estava convicta, fria.
Pá! Pá!

Subiu.
Sumiu.
Têm um esconderijo.
Na minha concha ela fingiu, Boa noite.
De certo a outra amassada embaixo dela.
Por isso ela me olhou, esperando que apagasse a luz.

Elas não sabem.
Cada dia estou mais pronta.
Eu volto.
Eu chego.

domingo, 1 de novembro de 2009

Onde a vida melhor sabe dar

A gente tem momentos, e outros muito fortes.
Esses fortes marcam forte também as pessoas que estão com você.

Tenho marcado, como todo mundo, desde lá atrás.

Desde quase niguém com minha mãe pra todo lado.
Depois o quintal com meu irmão, com idade mais próxima. Com caminho de terra que a gente passava o dia fazendo pra depois ligar a torneira e ver a água que ia em cada curva que a gente inventou.
Com minha amiga de berço que temos até mesmo hoje, no estado de hoje, tanto disso forte juntas.
Mais adiante com minhas amigas que sempre foram, lá na cidade. Descobrindo toda idade. Com o que a gente pode em cada uma. Da mais estúpida descoberta à mais profunda possível.
A mesa de fora com meu pai.
Minha saída pra próxima cidade, com minha irmã. Em momento diferente quase igual na diferença de seis anos. Uma querendo entrar, outra saindo da faculdade. Dormindo às cinco, com tereré, buraco, vizinhos, vó, violão.
A outra cidade, a única onde fiz vestibular, querendo o frio depois de Ribeirão. Que me trás minha amiga, amiga desde a primeira saída onde a gente cantou Marisa Monte. As que viraram irmãs na república. O primeiro namorado que me contou da paixão que dói. O fim da faculdade tão bem vindo na Santa Catarina, onde vivi com outra amiga, depois mais uma, um dos momentos mais livres e de expectativas tão novas no Jabuti.
O amor de vida toda que veio lá de trás e no filho soubemos que pra sempre.
Tantos amigos e a família que é minha, nessa outra cidade que vim parar.
O olhar estrangeiro de gente apaixonada com minha amante do Peru.
Os amigos de longe que se aproximam mais do que dá.
E agora, num outro fim e outro começo, sem perceber, nos juntamos e fizemos quase o mesmo caminho. Quase o mesmo.
Disse antes de enviar o texto que encaminho abaixo: Sei que um pouco adiante, vou chorar de saudade, sentir aquilo delicioso que o passado faz com momento assim tão forte na vida, tão difícil e especial. Podendo lembrar ainda dessa partilha do tamanho que a gente faz.

A lista segue, vai seguindo.


Eu fico aqui pensando nesse medo, Tatoca.
Nesse choro.
Nessa intensidade de dias.

A gente se repete.
Eu você, você eu.

Parece que nos sabemos refém.
Que de novo estamos sendo carregadas, pra longe demais.
E que é tudo que a gente quer.
Mas dá o medo da volta.
Do peso que uma volta dessa tem.

E estamos mais frágeis.
Temos filhotes.
Não sabemos ainda como fazer.
Um lugar novo.
Estado novo.
Questões novas que a gente tem.

E isso faz a gente chorar.
Faz duvidar o quanto é vazio, o quanto é preenchimento.

A gente só vai saber conforme viver.
Conforme a gente vive o caminho vira conhecido.
Como quando a gente muda de casa. De região.
Ficamos apreensivas até ter tempo de se reconhecer ali.

Não tenho resposta nenhuma.
Temos a mesma idade por aqui.
Mas a gente se ajuda pensando juntas.

Te amo, mais que ontem. Menos que amanhã.
31 de setembro de 2009.

Onde um pauzinho boiando é navio a navegar

Enfim visitei David, nasceu há dois meses.
Pequeno que nem um ratinho não sabe do pânico que causa na gente.
Abre a boca de um tamanho que ela nem tem.
Enruga a cara que parece tartaruga.

Peguei ele tentando fazer entender Um descanço pra sua mãe, David.
Colo, em pé, deitado, experimento o berço, o brinquedo e uma música.
Resmunga, chora, se enruga, abre a boca além do tamanho da boca.
Me mantenho calma, tranquila, finjo bem.

Botei no peito de volta, no dela.
Voltei pra casa e fui procurar o kit.
Disque amamentação, reunião Niterói amigas do peito, syntocinon, homeopatia.

Já tive a mesma cara da Lóri.
Amém por eles crescerem.

Quanto mais tiquinho, mais pesado.
O meu hoje um bolotinha.
Vira-latas.

Eu sempre tive disso.
De comer qualquer coisa em qualquer lugar.
Sofisticado ou trash.
Não passo mal, normalmente não.

Na minha casa de infância pouco tinha almoço.
A gente comia pão, presunto e queijo.

Hoje não compro mais, se tem como até acabar.

Minhas amigas eram loucas pra almoçar lá em casa.
E eu sonhava com bife, arroz, feijão e salada da casa da Alê.

A gente tinha conta na padaria.

Meu pai sempre foi de facilitar.
Pouco exagerado, às vezes.
Dava mobilete e a conta no posto.
Descobriu que eu fumava e deu o pacote, da marca preferida.
Namorando? Sério? A caixinha da pílula que citei.
Ai, pai.

A conta da padaria era alta.
Ele, meu pai, avisava Tem uma doença que aparece pra quem come muito doce, diabetes.
Meu irmão descobriu, diabético.
Achei uma bruxaria.
Ele avisou antes de saber.

Aprendi a beber água na faculdade.
Minha infância toda achei que água era falta da coca-cola.
Lá em casa era.

Mal posso ver refrigerante mais.
Não tenho conta na padaria.
Como quiabo, e posso comer só quiabo.

Minha mãe também come qualquer coisa.
Quando a gente se dizia com fome escutava
Tá cheio de comida, se vira. Maçã, ovo, iogurte, milho.

E meu pequininho que me deu baile na amamentação,
Um vira-latas, graças talvez ao iogurte com milho, ovo e maçã.

Come mamão com a alegria de um toblerone.

A gente tinha há um tempo, decidido dar leite só pela manhã e pra dormir.
Esses dias que tem feito friozinho, lembrei do leite que minha mãe sempre tomou com a gente.
Esse leite que ela oferece na manhã ou madrugada, tarde ou noite,
Vem com um afeto que guardei em todo leite.
Quentinho.
Tenho feito assim com meu tiquinho.

Quebramos a regra pra trazer o afeto lá de trás.

Até pedi esses dias pra Lipe deixar molhar o pão de Tito no Toddy dele.
Tito sabe pouco de chocolate ainda.
Mas lembrei desse prazer de mergulhar o pão no leite com chocolate.
O prazer bateu nele, a gente viu.

Descobriu o não.
Dormir, não. Mamar, não. Banho, não. Doce mais doce que batata doce, não.
Não sei parar de rir.
O prazer da palavra nele contagia.
Fico louca por um beijo, mas não.

Amém que eles cresçam.
Vou lá conversar com David.