sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Ass: ex-atriz

Não sei bem como começar, comecei essa primeira frase de uns três jeitos que não eram como eu queria. Nem esse é, mas vai assim que foi como deu.

Esses tempos estava numa cervejinha com Gus e ia encontrar Tatoca pra ver uma montagem.
Tati me liga pra dizer que o Baita Homem (Bait Man), estava lotado, que tinha uma indicação pra ver um outro espetáculo ali perto. Sonho de Outono.
Esse nome já arrepiou.
E a gente precisa confiar nos arrepios.

Chamei Gus pra ir junto. De maldade, talvez.
Ele disse que ia, pela companhia. De bondade, talvez.

A peça são cinco horas de defuntos que não se sabem defuntos, a gente sabe antes de começar.
E não se carrega como entretenimento, nem isso.
Tem cara de texto escolhido, estudado.

Lá pela terceira hora (engraçado que quando saímos o relógio mostrava que tinham passado 1 hora e meia de quando entramos, foram cinco, eu sei) eu estava a ponto de explodir.
Queria sair. Tatoca e Gus não me deixaram.
Enrolei um pano na cabeça pra tentar dormir, ao menos.
Gus disse que foi ruim o que fiz, que acaba com os atores.
Eu entendo o que ele diz.
Mas queria ter sido pior.

Os atores estavam sérios.
Fazendo com seriedade.

Ator é uma tristeza.
Não devia ser aceito em lugar nenhum quem se chamasse assim.

Vou me corrigir.
Ator de teatro.
O cinema e a tv têm espaço pra isso aí como profissão.
O teatro não.

Se quer fazer teatro não pode se chamar ator.
É de uma infelicidade eterna.
Quer ser musa, sempre musa.
Do diretor, do autor, dos outros atores, da família que foi ver porque tinha convite e muito pedido de por favor.
Ele precisa ser demais, o tempo todo. E bonito. E charmoso. Interessante. Reconhecido.
E pra fazer algo bom precisa saber ser ruim.
Precisa de uma coleção de vergonhas.
Com orgulho de cada uma.

Vive nessa corrida triste de provar ser bom, inteligente, versátil.
Ah, porque tem mais essa.
O ator tem que ser inteligente.
Não cabe isso no ator que se chama ator.
Teve um período em Curitiba, último ou penúltimo ano, que eu estava em 5 espetáculos ao mesmo tempo. Entre ensaio e apresentação. Pura labuta. Ganha pão. Pé preto. Roxo no corpo. Eu não tinha que pensar nada. Tinha que fazer. Os diretores que pensassem. Eu instrumento deles.

Pra ser ator precisa se enxergar ferramenta.
Como uma câmera, um escrito, uma tela.
Se usar como ferramenta.

Se chamar ator não tem nada de grandioso.
Não pode ter.
Esse glamour cafona.

Devia ser proibida a formação "bacharel em cênicas, habilitação em interpretação" (a minha).
Tinha que ser "profissional de teatro".
No teatro você tem que saber e fazer tudo.
Pra conseguir talvez, autonomia.
E poder talvez também, sobreviver.
Porque quicar na frente do figurão, nao vai te fazer artista.

Se envolvendo em tudo, tendo ferramentas, talvez ache um lugar.
O maior problema é que teatro é grupo.
Todo mundo acha isso lindo.
Mas achar grupo de gente que fale além de "teatro é minha vida" não é o mais fácil.

Todo mundo conhece ator.
Só o ator não sabe o tanto de gente que sabe.


4 comentários:

fernanda baukat disse...

no meio de um texto do Benjamin, obrigatório para os meus créditos... no meio da preguiça, lembrei que tinha coisa mais interessante pra ler, e decidi colocar a leitura (um tanto atrasada) do seu blog em dia.
Sempre uma delícia encontrar com você por aqui, sem você saber, ou sabendo, pois você é bem danadinha e sabe que é irresistível. Então você prepara essa armadilha deliciosa, pra adiar um pouco mais o trabalho acadêmico forçado.
Amo cada palavrinha, independente de ter acento ou não. Beijo grande, bem gigante mesmo.

tainah disse...

Eu ia falar do texto, do quanto já pensei nisso reparando em "atores profissionais" por aí... mas é que a foto me contagiou!

maria disse...

aula pra mim ler isso aqui hoje

e às vezes um pequeno conforto da vida vem, não em um carinho materializado de carinho, mas de (re)conhecer no outro, uma interseção de sofrimento.

obrigada

;-)

maria disse...

belo sorriso de mariana ! :D