segunda-feira, 26 de outubro de 2009

É desdobrar fibra por fibra

Em um dia há tempo atrás,
num desses comuns que parecem esburacar,
que dá vazio de não saber mais o que fazer dali, pra que.
Queria chorar e dormir. Dias.

Não choro na frente do meu filho.

Quando recém-nascido (ainda não sei dos hífens), teve dificuldade de pegar meu peito. E nenhum dos dois conhece. Passam a saber juntos, quase de imediato, às vezes nem tanto. Como nosso caso.
Um dos momentos mais duros que vivi.
Nunca acho o difícil pior, sinto algo bonito quando lembro.

Mas sabia que estava num hospital que não favorecia, onde quase me fizeram uma cesárea por engano, e discuti com uma equipe inteira enquanto em trabalho de parto, sem Lipe que não deixaram entrar, o que é proibido.

Queria brigar pra não darem leite artificial, queria ajuda pra amamentar. O médico foi displicente com o pós-parto onde o útero não voltou a contrair. E um sangramento que não deixava sentar, que desmaiava.

Num desses dias ainda lá, fiquei seis com Tito, que teve icterícia, me bateu desespero que não consegui transformar, chorei de berrar. Ele chorava, de fome, não cabe suportar ver filho com fome. Tinha ali uma outra mãe, que o filho mamava bem, levei o meu pra mamar no peito dela, não pode, sei que não, fiz. Ela, a outra mãe, chorou comigo.
Uma enfermeira disse pra não chorar assim perto do meu filho, podia fazer mal a ele. Chorei lá fora.

Volto pro dia que estava com ele e com o vazio todo que bateu, mesmo com ele. Quis também sair pra chorar. Segurei meu choro. E de repente não. Deixei vir na brincadeira, chorei de berrar mais uma vez.

Não me entendeu por um tempo. Parou, me olhando.
Abriu um riso logo mais. Como se riso fosse choro. Chorei rindo. Continuei berrando. Rindo. Ele só rindo. Me abraçou. Me deu brinquedo.
Vi a gente inteiro, rindo como choro, chorando rindo.



3 comentários:

tainah disse...

Demorei a vir, e tanta coisa pra ler.. riso, choro, riso, mãos, unhas e colo.

Mamãe, mamãe, não chore...

essa música é tão linda, e eu costumava pensar na minha, mas tem agora uma outra mãe que me faz pensar quando ouço a música.

"então conhecer é ser invadido?" - me perguntaram uma vez...
tava pensando nisso enquanto lia o blog e pensava em nós.

abraço bem forte!

Poesia a Metro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Poesia a Metro disse...

Gosto de ler seu blog assim, no meio do dia, quanto mais bagunçado o meu dia melhor.

Após uma dessas reuniões em que muita coisa foi dita, mas não serviu pra nada.

Me sinto mais. Incrível como as palavras se encaixam.

Vou chorar com você quando o meu berrar, pode?

Quero pão na chapa, de novo, sempre. Essa semana?

Bjoenorme