quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O fim que a gente vive

Se a gente não reconhece o fim do mundo em conviver com aquele que dorme onde a gente só passa, com a criança que nunca conheceu o amor de alguém que cuida, o adulto que foi e continua essa criança, com o incomodo quase raiva que o outro seja outro completamente e não um quase a gente, se a gente não reconhece o medo da pobreza como um sentimento profundo de irresponsabilidade nossa por ela existir, se ser mais ou melhor é ainda o objetivo e isso não é o fim, se ainda é possível achar que seu filho merece mais que outro filho, se tem ainda espaço pra gente viver sem gosto, pagar contas ou acumular, comprar qualquer coisa, buzinar, xingar e bater em alguém, não temos nenhum espaço pra qualquer outro fim.
Que o fim seja espanto

sexta-feira, 20 de julho de 2012

de 2004

Caio presa um laço solto me cerca os dentes meus olhos caem soluçam surge de dentro do peito um grito imagem sem som a cor quente vida perco as nuances um total ao meu redor dentro de mim explodindo o seio construindo listras de espessura magra grande profundidade indo e vindo como em respiração lançando longe preenchendo espaço sugando matéria viva em equilíbrio desconstrói perco a última sombra deitada ao pé que já não pisa recolhido ao centro que não é referência apenas parte e parte em mim.


A cada dia tenho um pouco mais de vida dentro do meu corpo e meu corpo cada vez é menos como fosse maior que toque afogando a matéria crua alimentada outra coisa que não menos terra menos eu aqui passando menos pegar menos um certo o sem pergunta não deixo que me tirem que me tragam de volta sou assim indo quase sem marca quase sem nada levando vivo vertigem vivo a quase loucura tenho dor sorrio em tristeza me despeço sangro o claro se põe espia o fogo o que fica o que queima que é.


Sigo seca sonho água luto vento faço terra e me assombro com o sabor suspendo a frase surpreendo a fase tiro o laço que me travou solto as mãos que me apóiam salto ao mar chamo um nome transpiro a falta que mantém vazia o calor que estremece um corpo que nada pensa que quase tenso mente tira trai serrando a perna sorrindo calmo relendo o texto que é você seu corpo seu pensamento perto pensado longe seguro o medo de me calar de me ouvir de te escutar de mascarar a ânsia de restaurar a mansa passagem do grito que segue som que quer ser mais pede chega ou pede a volta quer imagem e também não quer.