segunda-feira, 30 de março de 2009

Aiaa


Faz tempo tenho vontade de me concentrar em minha mãe pra escrever.
Algo pra ela e pra mim. Uma vida de coisas.
Tenho estado desconcentrada.
Com sono também.
O texto encontra espaço depois da uma.
A questão é que quero que minha mãe saiba e espere.
Eu vou escrever!
Hoje preciso agradecer um agradecimento.
Há algum tempo atrás, quanto tempo será? Talvez dois, três anos. Independe.
Fui convidada a participar de um projeto de uma menina que, segundo quem me convidou, estava querendo adaptar um texto, era dela o texto.
Com os médios anos que tenho, conquistei uma série de liberdade e uma porção de preconceitos, pena.
Quando me convidam para um projeto de alguém eu tenho o entusiasmo do não.
Tantos projetos inacabados participei.
Veio a certeza de mais um.
Enviaram o texto e ficou ali por um tempo, em anexo.
Preconceito.
Aí naqueles dias de espera de nada em frente ao computador, download.
Parece bacana.
E é bom!
Bom texto da menina!
Reunião marcada e foram alguns bons encontros.
Não sou lá a pessoa mais sensível, a praticidade ocupa espaço maior.
Mas olha, quando eu sinto que o negócio não vai...
Não foi.
Era encontro pras pessoas se encontrarem.
Nesse momento estava um tanto distante, envolvida com outras coisas que não lembro quais. Tudo bem.
Todas as peças mudaram de lugar, umas foram pra lá, outras mais pra perto.
Estava grávida! Lembrei agora.
Não tinha pique, minha cabeça estava na barriga e na afirmativa: "não vai sair!"
O projeto pausou, a gravidez seguiu, Tito saiu e com influência de Lucía veio uma idéia.
Não lembro bem se contei a ela sobre essa influência. É que se contei foi naqueles dias de mulheres e cerveja, não memória.
Lucía sempre me cutucou com a questão de usar como material artístico situações, personas do dia-a-dia. Aquilo que te movimenta - seu tema - diz ela.
Fiquei atrás disso.
Não saiu quase nada.
Veio no entanto a vontade,a ansiedade de mostrar ao pessoal distante como era Tito.
Pedi orientação ao cineasta da casa e arrisquei na edição.
Que prazer foi aquilo.
Mandei pra todo mundo, minha irmã sugeriu o nome e virou produto.
Não foi bem isso que Lucía tinha me dito.
Tinha decidido que ia passar a ganhar dinheiro. Pois é.
Quando descobri a edição senti um prazer enorme pelo poder que ela dá, senti um prazer imenso por se poder guardar, ver depois, mostrar, prazer estupendo pela grandeza e pela independência. Descobri o prazer de trabalhar sozinha.
Mas tinha que vir alguém.
Eu posso jurar, mesmo que não convença ninguém, pois a primeira pessoa que pensei foi ela. Aquela menina do texto bom. Que vi algumas vezes há alguns anos.
Não aceitei tão fácil.
Uma escolha difícil. Não era óbvia. Desconhecida, quase.
Eu não sou lá a pessoa mais sensível, mas quando eu sinto que o negócio vai.
Não tinha jeito. Ela ficou presa ali na cabeça.
Chamei ela pra conversar. Pensei que fosse estranhar, pensar - disse sim!
A Tati. Aiaa. Sósia. Tatoca.
Tatoca é um movimento inteiro.
E inteiro parece pedaço pois a palavra é um tico.
A Tati é iiiinnnnttttteeeeiiiiirrrraaaaaa.
É o tango!
Algumas palavras parecem mais fracas do que são.
Vale.
Aiaa parece também mais fraca do que é.
Ela é sim um furacão. Uma tempestade.
É uma aflita.
Estrondosa.
E doce. Gentil.
Minha sósia é urgente.
Se não desse em outro caminho gostaria de dizer: Emergente!
É a Lóri da Clarice.
Adoro que seja agora o que temos a fazer.
Tati é confiança.
Eu, vira-latas, tenho vergonha que gostem do que faço.
A Tati adora.
Ela é rainha. A sócia aristocrata.
Eu tenho o maior prazer no nosso convívio.
Fico feliz mesmo nos nossos dias difíceis. Inteiros, vivos.
Confesso que eu não faria quase nada por você se não fosse tanto assim.
Eu não sou lá a pessoa mais sensível...

domingo, 22 de março de 2009

minha sensação de fim

Com exceção da minha relação com meu filho que chega a queimar, tenho a sensação que as relações foram resfriadas. Entupidas.
Alguma conexão perdida.
Como se a peça de encaixe não estivesse.
Minha sensação de fim de mundo.
Os maiores amores estão quase, estão sub.
Entupimento.
Quieta, escondida no lençol.
Que o desespero de um beijo e uma dança me faça levantar.