sábado, 31 de outubro de 2009

uns mal, uns bem, uns nada além

Um amigo mandou Quando você saiu, eu fiquei pensando: Será que essa menina nunca fica triste, mal humorada, estressada?

Não respondi até agora.
Nem sei se é pra responder.

Mas eu queria dizer NÃO!

Se fosse meia verdade podia.
Mas sou um bicho.
Um bicho trabalhadinho.
Quando com tempo. Sem ameaça.

Os instintos me entregam.

Lipe dizia que não podia jamais estar com Tito no colo e aparecer um bicho voador.
Sempre tem uma voz que diz: É só um bichinho.
Não há coisa mais nervosa e tensa que bicho que voa.
Bicho me faz correr, mais ainda com asa, que bate em tudo, fazendo barulho de asa nas coisas.
Quando eu corro de um bicho desse eu quebro coisas.
Se tenho algo na mão me livro logo pra não atrapalhar a corrida.
Se tenho um filho no colo talvez lance pra algum lugar.
Uma vez quebrei um ventilador em dois pedaços por estar no trajeto da fuga.

Eu não sei pensar.
Meu normal não é pensar.
Eu me esforço, preciso de tempo.

Outtra vez tava com minha amiga de infância, lá do sul, com cara de europa, subindo pra Santa Teresa.
Quis ir à pé.
Me acho inroubável.
Tenho a impressão que piso firme, olho forte e crio cumplicidade com toda gente.
Nunca tinha sido assaltada.
Eu branca de cegar, e uma polaca de olho azul que parece mentira.
As duas de casaco curitibano.
Subindo Santa Teresa à pé.
Depois da moça avisar Sobe não, pega a Van.
Pisando firme.
Eu percebi os dois vindo, dois grandões.
Tive tempo.
Pensei.
Fui até uma casa e apertei a campainha.
Eles passaram.
Um tempinho, resolvemos subir.
Viramos a esquina e os dois descendo: Assalto!
Ameaça, sem tempo.
Deixei minha amiga Curitibana de olho azul de mentira e fui mais rápida que quando bicho com asa.
Minha amiga gringa só esticou a mão, entregou a bolsa.
Eu no maior sufoco.
Correndo do grandão. Socorro!
Vi um carro e uma mulher saindo.
A única alma que vi mexer fora a nossa.
Ela trancou a porta.
Eu corri pro outro lado. Socorro!
Ele desistiu de mim.
Levantou a mão, falou Tranquilo pra mulher.
Os dois desceram e ela abriu a porta pra mim e pra minha amiga que abandonei.

Sou uma besta.
Não tenho moral.
Profunda não.
Sempre que alguém diz que estou errada eu concordo.
Não tenho convicção sobre certo e errado.
Nunca aprendi.

A chance de estar errada é grande.
Principalmente essas coisas que a gente tem que saber, lados, pessoas, grupos que sempre estão certos, outros sempre errados.

Não acredito que o ser humano está pior, não acredito em mundo justo, igual.
Acho, como achista convicta, que sempre foi assim, vezes pior, vezes melhor.

Em qualquer lugar tenho a impressão que sou de fora.
Que cheguei depois.

Tem uma cidadezinha que sempre íamos, onde os moradores somem com bandido.
Eu não sei dizer errado. Nem certo.
Não sei.
Só sei dizer que não gosto de morte, nenhuma.
De lado nenhum.

Não sei dizer praquele ex-aluno, que morava no morro e se dizia a favor do tráfico pois era comunitário, que ele estava errado. Não tenho convicção em nada. Posso acreditar em tudo.

Quando adolescente era uma das líderes, quase sempre.
E estudava em uma escola de gente rica, de valor sem valor, estudo sem conhecimento.
Fui muito ruim, tive posturas ruins, aprendi a ser mais gente depois de velha.
Morria de vergonha do que sempre fui.
Por isso sempre dou razão.
Entendo a ignorância da maldade.

Hoje não sou mais assim.
Se faço maldade é consciente.

Nem tenho mais vergonha de ter sido como fui.
Por pensar que talvez tenho mais do que se tivesse sido outra.

Não me meto em discussão de lados.
Só sei ver um por um.
Não tenho cancha pra grupo.
Sou pequeníssima.

Aqui em casa elas perceberam.
Que não mereço respeito. Que fico puta, estressada, jogo meu filho se precisar.
Fui pegar a leiteira e tinha uma delas lá dentro, com a cabeça de fora.
Uma barata na minha leiteira com a cabeça de fora.

Só agora elas fazem assim.
Nunca foram tão cruéis quando era casada.
Agora riem de mim.
Ocupam a casa às gargalhadas.

Eu queria só dizer da pergunta do meu amigo.
E dizer que sim, muitas vezes pior.
Quem me vê de perto sabe.
Peço desculpa, sempre peço.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

não se afobe não, tem carnaval

Tenho sentido enjôo.

E de alguma forma me sinto em gestação.
Lembro lá atrás de querer estar sozinha, pensando coisas que só dá pra pensar sozinha.
Como esse tempo de agora.

Não estou triste.
Nem feliz de esbanjar.
Como se contadinha.
Que dá pra mim, meu pequeno e um carinho pro amigo.

Lembro também de querer quem tivesse em situação parecida.
Assim o assunto desembrulha, desenrola, fica solto sem precisar outro que não preciso.
Tenho ido assim agora também.
E melhor que seja uma pessoa só, pra ter espaço pra esticar bem a ruga que dá.

Tenho uma paciência de Jó.
Normalmente tenho.
E sei que esse é tempo de pausa.
De reabilitação.

Não sinto pressa.
Ansiedade.
Agora não.

Não tenho ido a festa, bar, show, visto tv ou falado on-line.
Nem bebido eu tenho.
Com excessão dessa quarta que bebi no Turco.
Faz dois dias isso, sei.
Mas antes fazia uma semana e meia.
Uma semana e meia são entre 10 e 11 dias.
Algumas pessoas podem rir.
Mas quem bebe não, quem bebe não ri.

Quero estar sóbria.
Ouvir.
Ver.
Andar.

Pensar, sentir.
Faço isso todo dia.

Fico arrepiada de estar viva.
Não tem outra coisa que penso que me faz assim deliciar.
Minha única bandeira.
No sorrisinho leve, no silêncio ou na gritaria.

"O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos"

Gosto como altera, como vai, volta, gira, te acerta.
Vivo ela passando roupa.


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Inauguração Sala 1042, Lima - tema Brasil



Mário, violonista peruano, e eu fizemos a apresentação de música brasileira, com samba, bossa e chorinho.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

mas meu coração é outro

Fujo pra uma cerveja com pouquíssimos amigos,
Que amo, conheço e posso estar à noite em silêncio.

Tem uma coisa que hoje falei com minha pipoca.

Quem separa quer casar.
Uma contradição pra deixar a gente toda que separa de boca solta.

Juro, falei mesmo.

Me disse ela que se não fosse pra casar não era interesse.
Eu reconheci o buraco.
Imediato.
Disse à minha irmã, isso é falta. Preencher o que esvazia.

Depois de uma separação você cria vazios inteiros de tudo.
Amizade, parceria, cumplicidade, amante.

E fica querendo preencher isso de outro jeito, com impressão de sentimento novo.

Se conseguir que ninguém te aguente, vencer se derrubar nessa etapa, talvez sinta o prazer de estar só. O prazer de ter o coração arrumado, aconchegado, e o trono sem rei.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

sei lá, sei lá, a vida tem sempre razão

Tenho achado as pessoas chatíssimas.
Os lugares tenho achado chatíssimos também.
Não tristes, chatos.

Tem sido chato trabalhar também.
Merecia não trabalhar.
Não precisar.
Ganhar por ser.

As pessoas que amo continuo amando.
Muito.
Mais.

Mas o mundo anda chato.
Tenho achado.

Esses encontros de bastante gente.
Aceitação.
Mostrar riso.
Acenar.
Conhecer.
Ser conhecido.

E repete.

Esses encontros de bastante gente.
Aceitação.
Mostrar riso.
Acenar.
Conhecer.
Ser conhecido.

Eu não sei o que há comigo.
Tenho amor que vaza.

Mas chego em casa querendo ficar.

Biscoito com mostarda. Pipoca, com mostarda também.
Chá sem açúcar.
Ler, um filme, uma escrita.
Música. Música.
Deitar na rede com o piquinin.
Espio alguma coisa atrás do computador.

E repete.

Biscoito com mostarda. Pipoca, com mostarda também.
Chá sem açúcar.
Ler, um filme, uma escrita.
Música. Música.
Deitar na rede com o piquinin.
Espio alguma coisa atrás do computador.

Sem compartilhar.
Nem dar, nem pegar.
Ser, só.


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

É desdobrar fibra por fibra

Em um dia há tempo atrás,
num desses comuns que parecem esburacar,
que dá vazio de não saber mais o que fazer dali, pra que.
Queria chorar e dormir. Dias.

Não choro na frente do meu filho.

Quando recém-nascido (ainda não sei dos hífens), teve dificuldade de pegar meu peito. E nenhum dos dois conhece. Passam a saber juntos, quase de imediato, às vezes nem tanto. Como nosso caso.
Um dos momentos mais duros que vivi.
Nunca acho o difícil pior, sinto algo bonito quando lembro.

Mas sabia que estava num hospital que não favorecia, onde quase me fizeram uma cesárea por engano, e discuti com uma equipe inteira enquanto em trabalho de parto, sem Lipe que não deixaram entrar, o que é proibido.

Queria brigar pra não darem leite artificial, queria ajuda pra amamentar. O médico foi displicente com o pós-parto onde o útero não voltou a contrair. E um sangramento que não deixava sentar, que desmaiava.

Num desses dias ainda lá, fiquei seis com Tito, que teve icterícia, me bateu desespero que não consegui transformar, chorei de berrar. Ele chorava, de fome, não cabe suportar ver filho com fome. Tinha ali uma outra mãe, que o filho mamava bem, levei o meu pra mamar no peito dela, não pode, sei que não, fiz. Ela, a outra mãe, chorou comigo.
Uma enfermeira disse pra não chorar assim perto do meu filho, podia fazer mal a ele. Chorei lá fora.

Volto pro dia que estava com ele e com o vazio todo que bateu, mesmo com ele. Quis também sair pra chorar. Segurei meu choro. E de repente não. Deixei vir na brincadeira, chorei de berrar mais uma vez.

Não me entendeu por um tempo. Parou, me olhando.
Abriu um riso logo mais. Como se riso fosse choro. Chorei rindo. Continuei berrando. Rindo. Ele só rindo. Me abraçou. Me deu brinquedo.
Vi a gente inteiro, rindo como choro, chorando rindo.



domingo, 25 de outubro de 2009

Miss, linda, feia, Lindonéia desaparecida




Uma amiga minha uma vez disse que eu era livre, uma pessoa livre.
Ela disse que achava isso antes, mas me contou depois de saber que eu não faço as unhas das mãos nem dos pés.
Determinante.

Adoro unha bonita.
Sempre quis ter unha comprida, de mulher.
A vida toda trouxe na mão unha de criança.
Redondinha.
Pequena.

Toda manicure diz que se eu fosse toda semana lá, minha unha ia ficar comprida, quadrada.
Eu consigo ir duas semanas seguidas.
Já consegui.
Depois a idéia some, esqueço, não lembro mais.
Se lembro é porque a unha quebrou.
Ou coloquei a sandália pra sair e vi que feio meu dedão.
Como eu não reparo em unha das pessoas, fico achando que vou passar despercebida.

Chega uma hora que a gente entende como a gente funciona.

Como querer pegar sol, ficar morena.
Até hoje escuto gente falando que eu preciso.

Eu sei que posso no máximo 15 minutos frente, 15 costas, depois das cinco.
Pra osteoporose.
Nem isso faço.

Tem 4 coisas que não me habituei no Rio.
Trânsito, quantidade de arma, funk e o sol.

Apesar desse meu terror, o Rio não pode viver sem sol.
Tenho estado aflita esses tempos.
As pessoas se perdem, chegam cedo demais, andam com olho no chão.

O sol faz as pessoas aqui voltarem pra cá.
Traz o orgulho nelas, o orgulho que o carioca tem de ser carioca e de ter esse sol insuportável.

E voltam a pintar as unhas.
De vermelho.
Carioca não tem outra cor.

Se coloco vermelho parece que tenho dez feridas na mão.
Metiolate.
Não, acho que metiolate não era vermelho.
Metiolate ardia.
O vermelho era qual?
Lá em casa passava os dois. Um ardia, outro pintava.
No pé não gosto de cor, gosto dele limpo, curtinho.

Na mão minha unha não cresce, não vai crescer.
Conheço ela a 31 anos, quase trinta e dois.
Nenhuma manicure pode saber mais dela que eu.
Ou mais de mim.
Porque eu sei que não vou à manicure semanalmente.

Queria unha vermelha, comprida.
E cor morena no corpo.

Mas eu sou livre.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

e depois de partir poder voltar e dizer este aqui é o meu lugar

Há muito tempo venho querendo arrumar minha casa.
Dessas arrumações que nem Elaine pode fazer.

De olhar cada papel, pegar a roupa que caiu atrás da gaveta, limpar brinquedo por brinquedo, pôr junto livro que combina com o outro do lado.

Essa arrumação não saía.
Tentei.
Parecia sonho que paralisa.
Vocês têm?

Esses dias à noite botei Tito na minha cama, fui pro quarto dele, num impulso de ladrão.

Tirei tudo do guarda-roupa (e agora? sem hífen?), tirei o pó antigo, sentei com tudo que botei fora, separei as roupas que não cabiam mais, as que não usava, caixas de nada, reorganizei tudo nos cabides, nas gavetas.
Fui pro cesto de brinquedo, pras prateleiras, pros quadros.
Troco os panos do berço.
Encaixo Tito de volta.

Senti alguma coisa lá dentro.
Como se agora sim soubesse cuidar do meu filho.

Precisava saber de mim.
Outra madrugada e me embalo feito gente sem senso no meu quarto.

Tenho a sorte de ter meu vizinho debaixo.
Tento não fazer barulho.
E eu tentando não fazer barulho, pareço dez.
Mamutes.

Mais uma madrugada e avancei a cozinha.
Lavei todas as louças.
Separei muitas pra dar.
Outras pro lixo.

Pra sala outra noite.
Livro caindo de cima.
Amontoado de cd que despenca.

O vizinho segue bom.

Eram três horas, da madrugada.
Faltavam dvd's e gavetões.
Perdi tempo nas fotos, ah as fotos.
Arrumei cada álbum.
Uma por uma eu vi.
Coloquei Vinícius.

O melhor da arrumação é sentar no chão.
Entre sujeira, bicho morto e o que vai voltar pra dentro.
Abrir papel por papel, ler carta, bilhete e ver cada foto.
Com Vinícius.

Como é que o passado faz isso da gente?
Como é que a gente lembra às vezes de um cheiro, tem a sensação que sentiu certa vez?

Deixei os dvd's bagunçados.
Os gavetões também.
Três horas da manhã.

Hoje corri pra área de serviço.
Minha nossa.
Detesto coisa amontoada!

Como elas amontoam?
Se eu detesto?

Joguei tudo, tudo.
Quanta aranha, tadinhas.
Eu gosto de aranha.
Hoje gosto, não gostava.

Na outra casa que a gente morou, teve uma que fez casa na sala, na luz da sala. Era grande. Passou tempo com a gente. Mostrávamos a casa, sala, quarto e a aranha. Num dia, com gente lá tomando cerveja, ela começou a andar, numa linha que não sei como fez, foi indo, direção à janela. A gente não sabia o que fazer. Pedir volta? Parou toda a conversa. Todo mundo fez silêncio, ela foi indo, devagarinho. Saiu. Nossa Charlote. Lipe era apegado nela, como o porquinho.

Mesmo gostando, matei todas hoje.

Não queria achar barata.
Rezei pra isso.
Eu quero morrer quando acho barata.

E eu não quero morrer nunca! Nunca!

Levanto o balde e tchãn!
Claro.
Porque elas são assim.

Bicha burra.
Eu que tenho uma vassoura compriiiida na mão.
Pá!
Pá!
Pior da barata são os espasmos que demoram morrer.
Pá!

Tiro logo dali.
Nem satisfação de ver morta tenho.

Continuo.
Jogo água em tudo.
Detesto paninhos.
Quero água!
Xuá!
Vizinho quieto.

Me viro.
Na hora!

Quase pega meu pé.
A vassoura na mão faz giro no ar.
Pá!
Pá!
Puta que pariu!
Pulinho de descontrole.
Nojenta!

Vizinho um santo.

Xuá.
Xuá.

Ah, não!
Não é possível!
Não é possível!
Pá! Pá!
Três pedaços!
Que ódio!
Merda, merda.

Quem conhece minha área de serviço sabe, não cabem três baratas ali!

Puxo a água.
Isso demora.
Não sei o que acontece, a água aumenta na hora de puxar.

Fim!

E o banheiro?
Banheiro tem que limpar sempre, todo dia!
Ensinou a mãe da Déa pra mim quando eu morava na república.

Agora fico passeando pela casa, abrindo porta de armário, rindo, olhando embaixo de móvel, brilho de vitória, orgulho de posse.

Achei simbólico.
Como se estivesse mais arrumada.
Eu.
Matando meus bichos.
Jogando fora o que não uso.
Sabendo o lugar das coisas.
Passando adiante o que não me serve.

Com umas gavetas e uns dvd's sem mexer.
Pra graça de ter ainda o que fazer.

.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Me dê motivo pra ir embora

A rua que fica dentro do bairro Santa Rosa.
Santa Rosa nada tem de Martins Torres.

Sem saída, a única saída que tem na rua é minha casa.
Tem umas vielas, sem saída também, que não saem aqui.

Eu queria morar ali, nas vielinhas, zinhas.

Rua cheia de casa.
Cheia.
Casas de frente pra calçada.
Portão baixinho.

Não tem assalto, nem tiro.
Em três anos ouvi um.
Quando ainda morava com Lipe, a gente ouviu.
Um só.

Todos os botecos são na frente das casas.
Puxadinho.
Do Cadinho, da Dona Dina, com voz da vó da família dinossauro, do Seu Jorge e os dois aqui mais perto que não sei nome.

Os moleques que jogam bola no meio da rua.
Param pra cada pessoa passar.
Os grandes.
Os pequenos não, são envocados.

3 cavalos que descem de uma casa lá de cima, do morro.
Disputam o lixo com os cachorros.
Com a família de porco que às vezes tá por aqui, em passeio de fim de semana.

A vizinha aqui de baixo que tem árvore de goiaba.
Os meninos passam o dia pedindo.
Exigem.
A casa talvez veio depois da árvore.
Ela resmunga e dá.

A molecada desce de papelão no morro de grama aqui do condomínio.
Andam nos cavalos também.
Se puxando numa corda.

As meninas correm gritando pra apertar Tito quando a gente chega.
Os meninos também, mas quem berra são elas.

4 crianças que conversei ontem vieram gritando e correndo pra cima de mim.
Um abraço, dos quatro.
Em mim!

Todo mundo diz bom dia, olá, tudo bem.
Perguntam E o bebê?
Alguns que vejo mais, Seu Jorge de Skol 2,10, já sabe nome: E Tito? Tá bem?

Os mais bebuns são os que faço maior número de cumprimento.
Variam a mesa, às vezes o boteco.
Durante todo o dia.
Acho lindo o olhar que eles têm, bêbado.

A gorda que teve filho pertinho do meu.
Sempre cria cumplicidade.
E o seu? Tudo bem?

As crianças criadas na rua, os pais no boteco.

A vizinha de cima.
Karina, deve ser com K.
Lipe detestava, ouvia funk alto, dançando, tum-tum.
Uma gracinha. Comigo.
Já vi que ela que manda na garotada.
Tem bunda, peito, e confia.

O namorado que tinha cabelo comprido.
Vivia molhado.
Parecia usar soglu, do príncipe de NY.

Acerola e Laranjinha,
dois gêmeos que vão construir a boca da rua logo mais.
Dá pra saber.
Mal têm 1 metro e falam como se trogloditas.
- Porra! Puta que pariu! Caralho, mané!
E partem pra cima dos maiores, com os bracinhos pra trás.

Falei das casas na calçada, mal calçada tem aqui.
Ou é buraco, ou tem carro encima.

O hospital da polícia militar é aqui.
Dizem que eles não deixam nada acontecer.
O que fazem pra isso nem quero saber.

Tem o mercadinho da velha bruxa.
Uma estúpida, grosseira.
Há mais de 1 ano não compro lá.
Ando duas quadras mais pra chegar no outro que além de mais gentil, dá coragem de comprar frios.

Tem o manco abusado que mexe comigo.
Eu cumprimento engrossando a voz.
A ponto dela ficar fina.
Tito adora ele.
Acho legal.

Tem a Lory que teve filho agora.
Disse que é horrível eu ainda não ter ido conhecer.
Eu vou, semana que vem eu vou.

Minha vizinha hoje que interfonou dizendo que fez a chave da porta debaixo pra mim.
Que vende natura.

A Pri que desistiu de mim.

O Júnior que leva Tito pra escola.
Reclama de eu gostar do frio, da chuva.

A vizinha da frente que estrangula o filho.
Eu já denunciei.
Já interfonei,
- Você não sabe o que EU passo!
Tá bem. Desculpa.

A Dona Rosa que fala que pareço Hippie.

Dona Miriam.
Doceira.
Disse que cuidava mais de mim, se pudesse.

Me lembra o porto onde passei a infância.
Lá no Paranazão.
Onde o pai tinha uma casa.
Que afundou na enchente.
Sempre achei assim, afundou.
Lipe ensinou que o rio que subiu.

Lembrava mais quando dizia:
Segue até o fim, é depois do barco.
Como assim barco?
Na rua tem um barco.

Rua Martins Torres.
Durmo com barulho de sapo.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Como eu me sinto ao final do dia?

Recebi de um amigo:

"Você virou meu jornal da manhã. Acordo, faço café e vou saber o que aconteceu no mundo, de Kaspar Hauser. Quando não tenho notícia, até meu café esfria".

Lindo.
Meus amigos são lindos.
Bobos, mas lindos.
Que notícia melhor posso dar?


terça-feira, 20 de outubro de 2009

cof

Hoje me prometi que não passava das onze, ia dormir cedo!
Não sei mais fazer isso.
Não sei mais deixar a madrugada.

Ontem fiquei até quatro da manhã, lendo e vendo filme.
E sempre fui de ler meia página ou assistir 20 minutos e babar.

Agora tenho tido esse prazer que me custa deixar.

O som da madrugada.
Minha nossa.
Meio inconsciente.
Som de sonho.
Que não sabe bem se escuta.

Estou pensando aqui nessa fissura.
Pensei agora, deve ser o cigarro.

Voltei a gostar de fumar.
E na madrugada.
Vendo filme, lendo.
Só quem fumou um dia pra saber o sabor que isso tem.
Cigarro é fedido, esfumaçado.
Mas uma mulher é outra mulher depois de fumar (mais fedida).
Eu sempre fui fumante convicta.

Não queria engravidar, fiz a maior campanha aqui em casa pela adoção.
Entrei em grupos de discussão, baixei textos, me fundamentei.
Parecia mesmo que eu fazia por ideal.
Eu mesma me convenci.

Sei hoje que era o cigarro. A cerveja.
Sou mais rala que gostaria.

Mas por amor eu baixo a guarda, a proteção e bolota!
Ufa!

Fumei o último quando tive a notícia da gravidez, por acaso estava no bar, bêbada!

Nunca gostei de maconha.
Meu nariz sempre mantive virgem.
Não bebo nada de destilado. Nem vinho.

Só cerveja.
Cerveja e cigarro, gente!

Ah, já tive outra droga sim, lembrei, lança perfume!
Já foi minha droga pesada.
Minha cidade de nascença era bem perto do Paraguai, no carnaval eram caixas nas mesas do clube.

Bom também tiveram os derivados.
Loló, benzina, e algumas tentivas de cheirar esmalte depois da bebida acabar.

Lembro de passar uma tarde trancada no quarto com uma amiga ouvindo Janis Joplin com frasquinho de benzina.
Cantamos juntas aquele dia, eu e Janis.
Minha amiga assistiu.

Dizem que cigarro é coisa de gente estressada.
Bobagem.
Me sinto mais tranquila em cada trago.

Mas eu conheço meu corpo, sei que sou frágil na garganta.
Isso me angustia.
Não quero morrer nunca.
Nunca!

Vou parar.
Vou sim.
Hoje não, hoje não dá, tenho Inland Empire pra ver.

___

Marcos me disse que os textos ficaram mais fracos depois que comecei a ficar melhor.
Hoje não deixo dúvida.
Pro Lynch?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Ass: ex-atriz

Não sei bem como começar, comecei essa primeira frase de uns três jeitos que não eram como eu queria. Nem esse é, mas vai assim que foi como deu.

Esses tempos estava numa cervejinha com Gus e ia encontrar Tatoca pra ver uma montagem.
Tati me liga pra dizer que o Baita Homem (Bait Man), estava lotado, que tinha uma indicação pra ver um outro espetáculo ali perto. Sonho de Outono.
Esse nome já arrepiou.
E a gente precisa confiar nos arrepios.

Chamei Gus pra ir junto. De maldade, talvez.
Ele disse que ia, pela companhia. De bondade, talvez.

A peça são cinco horas de defuntos que não se sabem defuntos, a gente sabe antes de começar.
E não se carrega como entretenimento, nem isso.
Tem cara de texto escolhido, estudado.

Lá pela terceira hora (engraçado que quando saímos o relógio mostrava que tinham passado 1 hora e meia de quando entramos, foram cinco, eu sei) eu estava a ponto de explodir.
Queria sair. Tatoca e Gus não me deixaram.
Enrolei um pano na cabeça pra tentar dormir, ao menos.
Gus disse que foi ruim o que fiz, que acaba com os atores.
Eu entendo o que ele diz.
Mas queria ter sido pior.

Os atores estavam sérios.
Fazendo com seriedade.

Ator é uma tristeza.
Não devia ser aceito em lugar nenhum quem se chamasse assim.

Vou me corrigir.
Ator de teatro.
O cinema e a tv têm espaço pra isso aí como profissão.
O teatro não.

Se quer fazer teatro não pode se chamar ator.
É de uma infelicidade eterna.
Quer ser musa, sempre musa.
Do diretor, do autor, dos outros atores, da família que foi ver porque tinha convite e muito pedido de por favor.
Ele precisa ser demais, o tempo todo. E bonito. E charmoso. Interessante. Reconhecido.
E pra fazer algo bom precisa saber ser ruim.
Precisa de uma coleção de vergonhas.
Com orgulho de cada uma.

Vive nessa corrida triste de provar ser bom, inteligente, versátil.
Ah, porque tem mais essa.
O ator tem que ser inteligente.
Não cabe isso no ator que se chama ator.
Teve um período em Curitiba, último ou penúltimo ano, que eu estava em 5 espetáculos ao mesmo tempo. Entre ensaio e apresentação. Pura labuta. Ganha pão. Pé preto. Roxo no corpo. Eu não tinha que pensar nada. Tinha que fazer. Os diretores que pensassem. Eu instrumento deles.

Pra ser ator precisa se enxergar ferramenta.
Como uma câmera, um escrito, uma tela.
Se usar como ferramenta.

Se chamar ator não tem nada de grandioso.
Não pode ter.
Esse glamour cafona.

Devia ser proibida a formação "bacharel em cênicas, habilitação em interpretação" (a minha).
Tinha que ser "profissional de teatro".
No teatro você tem que saber e fazer tudo.
Pra conseguir talvez, autonomia.
E poder talvez também, sobreviver.
Porque quicar na frente do figurão, nao vai te fazer artista.

Se envolvendo em tudo, tendo ferramentas, talvez ache um lugar.
O maior problema é que teatro é grupo.
Todo mundo acha isso lindo.
Mas achar grupo de gente que fale além de "teatro é minha vida" não é o mais fácil.

Todo mundo conhece ator.
Só o ator não sabe o tanto de gente que sabe.


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Não importa, são bonitas as canções



Difícil alguma mais que essa:

Somatopsicopneumático

- Coloquei um trecho do que você escreveu, achei tão lindo.

- Que presente.

- Tá tudo bem?

- Tudo bem, melhor cada dia.

- Isso é bom. Dormiu bem ontem?

- Dormi, capoploft.

- Você voltou pra Niterói sozinha?

- Voltei, ando sozinha esses tempos.

- E isso é bom?

- É bom, tem me feito bem.

- Ficar sozinha eventualmente é ótimo, estar não é bom.

- Eu não estou, nunca estou. Procuro estar agora. Um processo solitário, essencialmente.

- Essa sua fase é importante mesmo que esteja.

- Eu tenho pensado muito, tenho me visto com algo parecido do que minha mãe sempre falou.

- O que sua mãe falou?

- Que as coisas vão ficando diferente, que um filho muda tudo, e minha vida tem outro peso, junto com ele. Isso me faz me reconhecer em outro lugar.

- Acho isso natural.

- É, eu penso e reconheço minha responsabilidade, minha necessidade de nos criar. Sinto todas as minhas escolhas fazendo efeito. O distanciamento familiar desde cedo, acompanhar outra vida, esse meu jeito de não ter medo de deixar.

- Assim mesmo. Acho que primeiro você viveu a euforia da liberdade, agora realmente passando pelo processo

- Também acho, entendendo minha posição nisso tudo, como mulher, como mãe.

- Tudo muito individual e solitário.

- É. E me sinto tomando posse disso agora. Sinto outra coisa, outro lugar, que não tinha encontrado antes, que não tinha entendido. Me sinto mais consistente. Mais forte por estar me reconstruindo sozinha, com verdade.

- Importante achar o devido lugar das coisas.

- Me sentindo real, entendendo tudo que eu escolhi.


(...)


- Tenho fumado.

- Não acredito.

- Uma merda, mas não me matei.

- Você não pode fazer isso.

- Ah, sem drama.

- Não é drama.

- É sim.

- Sei como é difícil parar.

- Moleza parar estando grávida. Difícil não voltar depois disso tudo.

- Você que está sendo dramática agora. Procura outro prazer, sexo casual.

- Deus me livre dele.

- Tem que usar seu lado homem.

- O cigarro nunca me fuma.


(...)


- Fica bem, tá?

- Estou bem, acredita.

- Beijos, querida.

- Beijo, lindeza.

- Qualquer coisa grita.

- Você também.

- Pode ligar qualquer hora.

- Você também.

- Beijos.

- Muá.

- Dorme bem.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

tem dias que a gente se sente

Conversando com um amigo falamos do fim de casos
Ele de um jeito que me parece muito sem jeito
Disse que não estava mais querendo estar com quem estava
Questionei o jeito de fazer como fazia

Eu tenho comigo que a gente pode sentir o que for
Não interessa muito sendo que é tudo que interessa
Mas na hora de resolver a gente tem que se apagar
A hora que a gente decide algo que sabe que dói no outro
A gente precisa eliminar a gente

A gente precisa entender os cuidados
Precisa saber exatamente como fazer da melhor forma
Porque fazemos parte daquilo que machuca no outro
Alimentamos aquilo em algum momento

Sendo nosso a gente precisa saber como tirar, quase sem ele perceber
Precisa conversar, fazer a mão afrouxar
Fazer confiar no que se diz, seja o que seja

E nesse momento a gente precisa ser certeiro
Precisa de uma reta
Não é justo a dúvida com quem está a espera.
Nenhuma curva pode ter.
Agora não.

Exercer amor dentro de onde quase não existe.
Uma saída só

Precisa saber amar quando não se ama mais
Como companheiro
De sempre.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

dia dele, mais um







Depois de duas semanas ouvindo peixe, peixe, peixe, peixe....

domingo, 11 de outubro de 2009

No céu de uma cidade do interior...

De volta do Rio à noite entrei no terminal das barcas.
Não gosto da praça XV, mas lá dentro é minha casa.

Chega a barca velha, demora mais mas minha favorita.
Tem janela. Sacada de frente e de costas.
Cadeiras mais baixas, mais largas.
Melhor pra quem cresceu pouco.

Meu olhar tá lá pra dentro.
Tenho olhado pouco além disso.

Vejo no canto da vista, lá embaixo, um movimento rápido por debaixo das cadeiras.
Algo preto.
Um rato?
Me preparo pra uma corrida.
Um grito.
Algum agito inesperado que vem, com certeza vem, se mesmo um.

Estava perto.
Não tanto.
Me abaixei e vi entre as cadeiras.
Esperando se mexer.
Mexeu!
Um sapo?
Agora sim eu vi, um sapo.
Um sapo preto enorme.

Não desespera menos, mais sentido só.
Fascínio alerta.
Fascinada enquanto não pula pra cá.
O olho não sai dele.
Um sapo preto enorme.

Tinha um menino atrás de mim.
Queria chamar ele pra ver.
Esperei que o bicho mexesse, pra provar.
Fez um movimento estranho.
A dúvida de novo.
Caranguejo?
Não, que caranguejo!
Um sapo, um sapo.
Movimento lateral mas um sapo.
Um sapo preto enorme.

De repente ele ameaça avançar.
Avançar significa chegar perto.
Meu pé só ponta no chão.
Fascínio.
Fascínio.

Avançou!
Veio vindo, agora vou ver.
Vou ver.

Voou!

O sapo preto voou.

O menino não estava ali pra ver.
Tentei achar.
Um sapo preto enorme voou.
Foi.

Como se um saco plástico.

Niterói.
23:00.


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A volta dos que não foram

Encontrei uma pessoa que gosto muito, que já nos encontramos outra vez e me afastei.

Meu irmão vai ler, que gosto muito, nos comemos outra vez e me afastei.
Nem sempre se come, Rô.
Mas é por aí.

Vivi o contrário também.
Querer (precisar) me aproximar e não poder.
Em outro lugar.

E fiquei pensando nessa confusão.

"Não é uma questão de ordem ou moral.
Eu sei que eu posso até brincar meu carnaval
Mas meu coração é outro".

Sacanagem que o não ganhe sempre nessa coisa.
Tinha que ter outro jeito.
Sei lá um jeito de Dane-se, eu vou mesmo que você não queira!

Por que só o sim tem que entender, mesmo que não entenda bulhufas?
O não quer assim e assim que tem que ser...
Se ferrar!

Porque, onde é que guarda isso?
Que que o sim, coitado, faz da massa que volta?

E é ele o mais bonito, cheio de planos.
Ele que quer dar o mundo inteiro.
Manhãs acordadas juntas, viagens, projetos, sonhos, sorrisos, sempre sorrisos.
E o não que não dá nada, nada, nada, define: não!

Estúpido!
Ridículo!
Árido!

Que infertilidade!
Que incapacidade.

Essa definição é irritante!
Todo mundo sabe que é.

Uma coisa toda descombinada.

E um fica ruim.
E um fica bom.
Qual é?

Fica o ar cheio de pensamento que agoniza com opção só de morte.
A sensação boa vira buraco.
As imagens do futuro sim têm que desmanchar.
E vai você arcar?

Ah, cruz credo, pessoal.
A gente conversa tanto da vida, isso daqui não discute?

.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

É que tem uma árvore engolidora de pipas que come as minhas pipas

.
Como não está na fase mais tranquila dele tem que ter estratégia.
Mudar o assunto.
Entrou em crise, come o pé.



Fui no hospital psiquiátrico.

Ele disse que meu blog está parecendo confissões de adolescente.
Sempre foi.
Nunca me senti tão menina.
Nem quando era.



A mulher do tronco no ônibus.
Não gostou do meu tênis.
Não gostou.

Fui chamada pra uma reunião, me assustei no início.
Falaram pra ir na biblioteca, falar com a Vânia.
Não via eles.
A biblioteca era uma sala, sem livro.
A Vânia disse que o cachorro preto, da foto que me mostra no celular, come 3 pães de uma vez, pesa 60 quilos.
Nossa, como seu olho é lindo.
Já estão chegando, espera só um pouco mais, sim?



Esse som de gente aprendendo música é coisa de outra vida.
Flauta e o que? Qual é o outro?
O cobrador falou pra eles pararem.

Composição é a brincadeira.
Tecidos, retalhos, e palito de sorvete.
Depois um tema pra colocar brinquedos a partir dele.
Tema de hoje, carro.




Emília chegou.
Só mais um momento, por gentileza.
Leci entrou na sala, falou e eu não entendia.

Começou a cantar.
Era uma deles.
Tinha vários papéis amassados na mão.
Passou o John.
Entrou e eu tava de costas.
Parou do lado da Vânia, de frente pra mim.
Me olhou rápido e voltou a olhar, descobriu que não me conhecia.
Gostei dele. Parece dopado.
Vamos?
Emília, Maristela e outra coordenadora.
Produção pra eles e pra comunidade.
E o projeto pra lei. Pra conseguir verba depois.
Um grandão, com tudo.
Melhor um pequeno, funcional, pra começar.
Isso.
Vamos fazer a reunião pra ver como te pagamos.





Sentei do lado e fui fazendo o desenho junto.
Passamos um tempão assim.
Em silêncio.
Com música.

Não pode.
Uma coisa é o que você tá, outra coisa é o que produz disso.

À merda. Pára de me ler.
Já parei.



Olha aqui, quem tá aqui na foto?
E olha essa, filho!
Chateado porque, meu anjo?
Por que tá irritado assim?
Vou fazer seu mamá, vem dormir.
Aqui, chuchu, o sapo já tá aqui.
Uuuuuu
Vem, vem, vem no colo, vem.
Aaaaaaaaaaahhhhhh
Calma, filho. Calma.
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhh
Toma, toma o mamá. Vou cantar, tá?

Teria alguma possibilidade de fazer isso antes de termos certeza do dinheiro.
Não.




Você achava que me conhecia, só demorou saber o que eu era.

Nos falamos então.
Têm meu telefone?
Vou anotar.
8899

"publicar postagem"

Ontem saí da reunião e peguei as barcas.
CCBB, 20 anos de CCBB, queria assistir "Deve haver algum sentido em mim que basta".
Cheguei lá e uma fila enorme.
Espera pra receber senha.
Fui andando pra perguntar qual fila teria chance.
Encontrei a Ju, lá na frente.
Era a chance, não podia titubear.
Agarrei o braço e ela rápida: Ah! Chegou!
Não tínhamos marcado nada, há muito tempo não nos víamos.
Pra Esperando Godot.
Fiquei ali com ela.

Senha e pra fora conversar.
Ju tá bem. Tem sido difícil encontrar gente bem.
Eu me resumi pra ela em minutos.
O que tenho realmente a dizer precisa de minutos,
Depois é repetir.

Esperando Godot.
Sentamos.
Contei a ela que a última vez que fui naquele teatro, cheguei atrasada.
Tudo já apagado e eu pisando nas pessoas.
Cheguei na poltrona que podia ser a minha, mas tinham duas, uma ao lado da outra.
Virei pra trás e perguntei: Moço, pode ver o número pra mim?
O moço era o Caetano.
Não ouvi mais nada da montagem.
Ela me contou que outro dia ele passou ao lado dela,
Ela deu tchauzinho.
Ele riu.
Na volta deu dois beijinho nela, convencido pelo tchauzinho.

Depois de uns vídeos chatíssimos do Minc e do BB, começou.
O cenário é lindo.
O texto é esse mesmo do Becket que enforca a gente com humor de gargalhar.
Meio débil.
Como acordar todo dia.
Todo o tempo faz sentido esperar o que se espera sem saber o sentido que isso faz.
As duas atrizes que interpretam Didi e Gogo, queria me casar com elas.
Alcançam a gente. A gente elas.
Poderia esperar Godot por muito tempo ali. Com eles.

Fico emocionada de ver espetáculo bom.
Tenho relação de amor e ódio com o teatro.
Com o que fazem dele.
Armazém geralmente faz boa digestão.

Hoje tem de novo.
19:30.
No teatro I.
Ali embaixo, ao lado do café.
Chegar antes, lá pelas seis.
Se a Ju estiver na fila melhor.
Mesmo assim consegue.
Vale! Vale!

Todos os dias tem duas ou três montagens.
Sexta tem Till, a Ju vai estar na fila.
Domingo Toda Nudez, do Nelson, pelo Galpão.
Eu não vi da outra vez.
E a Ju vai estar viajando.

Depois voltamos de barcas.
Fomos pra cantareira tomar uma cerveja, tomamos três.
Taia, Tatá e Érica chegaram.
Saideira!
Aqui não, eu falei.
Aonde?
Ah, num lugar bonito.
Ai Mari, aonde?
Bar do Seu Xote! Vamos! Vamos, insisti.
Eles não vão estar aberto.
É lindo lá. O boteco mais feio e mais lindo que Niterói tem.

Vamos, decidimos no caminho.
Ju gemendo de vontade de fazer xixi.
Fagundes Varela fechada, dá a volta!
Ju faz som mais agoniado.
Gente, olha a praia! Voltei assim do Godot.

Torcida pro bar do mocinho simpático estar aberto.
Vamos ver, vamos ver....
Está!
Eeeeeeee
Mulher adora comemorar assim, eeeeeeee

Sai a saideira, perguntei?
Sai, saideira sai.
Só uma?
Mais, sai mais um pouco.
Maravilha. Antártica.

Fechamos o bar.
Amarelinho, disse Taia.
Rio? Perguntei.
Não, aqui perto, ali.
Nunca chamei aquele bar de Amarelinho.

Nelson Rodrigues estava lá.
Suspensório até!
Só o Nelson do bar e Domingos de Oliveira usam suspensório.
Adoro.
A Tatá não gostou dele e do amigo dele.
Disse que eles falavam coisas nojentas.
Safado, Nelson safado.

pá, pá, pá, pá, pá, pá, diu, pá, pá, pá, diu.
Bora gente?
Não fui eu que falei.
Mas concordei.
Concordamos.

Pra casa.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sou de cobre

Estou botando DIU.
Acho que meu assunto em qualquer lugar poderia começar assim.

Fico orgulhosa, me sinto interessante.
Sabe, não é qualquer uma que pode.
Tem que ter trajetória.

Me sinto maior que quando tomava as bolinhas.
Pílula é diária.
Pra quem tem memória.
Meu DIU tem 10 anos de vida!
Posso esquecer ele lá.
Pílula é coisa de policisto.
Quando adolescente tomei pílula.

Rodrigo é o homem que me faz ter vontade de ter outro filho.
Ginecologista e obstetra.
Quando tive Tito não foi com ele, foi com um médico que ameaçou até a última hora de me fazer uma cesárea. Porque eles agem assim, acham que a palavra final é deles. Não é!
Meu parto foi normal, afinal.

Depois de Tito conheci Rodrigo.
Ir numa consulta com ele é uma das coisas mais agradáveis de fazer.
Como se no boteco com amigo dos melhores.
Ele sabe de tudo meu.
Da separação, do filho e das encrencas.
Cuida do que descuido.
Brinco que ele é o melhor homem pra se ter um filho.

Mas sabe que quando foi colocar descobriu que meu colo do útero é pequeno.
Perguntei sorrindo Não posso mais engravidar?
Ele riu e disse que eu vou mudar essa opinião assim que me apaixonar.
Disse que já mudei, mas também já voltei.

Meu DIU está em análise.
Vou nesses lugares de ultra-som pra ver meu segundo filho.
Com destino traçado até 10 anos, não mais, meu pequeno.
Começamos sabendo que era assim.

Eu tenho 31, daqui 3 meses 32!
O dobro da idade da que quando comecei a conhecer os homens comigo.

Botei óculos escuro e saí pra trabalhar.
Eu e meu DIU.

.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

E que Durango Kid quase me pegou

Esses dias venho tentando escrever um roteiro.
Não achava o caminho.
Hoje acho que achei, achei, certeza!
Escrevi ele quase inteiro em três horas.
Ele pode ser a maior chatice mas eu ri e chorei enquanto fazia.

Gosto de títulos.
O restante pode ser uma porcaria.
O título nunca. Não pode.
Tem que valer qualquer estupidez.
Esse que parece Meg Ryan vale que seja assim, assim!

"Amo você mais que tudo na impaciência de quinze horas"

Ao meu pequeno mais grande




Hoje fui procurar umas músicas dentro da pasta de música pra criança que tenho aqui.

E escutando o que escutei, veio o mesmo cheiro que sentia nos primeiros meses de Tito. E mesmo antes, na gravidez. Minha pele sentia diferente, o olhar, o que eu pensava sem saber o que pensar.

Me carregou lá pra gravidez, pro dia do meu parto que foi o momento mais bonito que já tive em toda a vida.
Um momento em especial, quando depois de algum tempo no trabalho de expulsão o médico falou: Na próxima Tito sai.

O que me fez chorar quase com dor da emoção que era receber essa fala.

Ser mãe é um presente de enlouquecer.
Uma selvageria.

Um filho vive em tantos lugares, pra sempre.


Esse foi o primeiro vídeo que editei.
Aprendi a editar entre uma mamada e outra pra conseguir guardar o que eu vivia todo dia, todas as horas desses dias.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Assim que passou a haver tudo quanto não havia

Eu preciso escrever alguma coisa bonitinha aqui pois minha mãe não gosta quando fico só de escrito triste.
Ela diz que vem olhar com um olho só pra ver o tom que as coisas estão, se estiver deprimente ela fecha e corre pra outra página qualquer.
Meu irmão disse que além de deprê, acha que eu tô dando mais que chuchu na cerca.

Aproveitando o momento eu vou escrever pra eles.
Podem ler até o final!

Estou escrevendo um roteiro que tá me enchendo o saco.
Porque tá me levando de volta a um monte de coisa que tem me deixado em paz por hora.
Melhor não ficar cutucando demais.

Meu filho é um dos melhores, não é por ser meu não.
Ele contagia.
A gente dança estranho juntos, canta gritando em microfone de colher, brinca de composição com palito de sorvete e resto de tecido, tudo ele tá dentro, na maior energia.
Tem três dias que tá um saco!
Hoje conversamos. Falei que antes de ontem achei que ele estava chato, ontem também achei que estava, hoje tenho quase certeza que ele é.
Se ele soubesse dizer ia me retrucar uma maravilha.
Sorte, ou azar o meu.

Ontem num momento caótico que tudo irrita peguei a criança, coloquei no carrinho e Vamos Andar!
No caminho tivemos três convites de carona.
Como não tinha rumo nem pressa, recusei.
Vi que os bares estavam cheios de brucutus de uniforme virados pra uma tv.
Eu já gostei de futebol, antes de morar no Rio.
Aqui devia ser semana sim, semana não.

Bom, de pirracenta eu passo no meio deles que ocupam a calçada toda, faço todo mundo se mexer.
Tito ainda não tem vergonha de mim.

No caminho vi um desses, um senhor, caindo.
Vi que ele ia cair, fiquei apavorada, ele ia de cabeça no chão.
Ele passava pelos outros que não o viam. Não o viam.
Eu gritava coisas, essas coisas que a gente fala e não sabe depois, eles me olhavam e era como se eu estivesse vendo fantasma. Só eu.
Corri com Tito pro outro lado da rua. Onde ele estava.
Caiu antes da gente chegar.
Os outros continuavam passando, sem enxergar.

Chegamos perto e vi que ele teve a sorte de cair num canteiro.
Eu perguntei a ele o que estava sentindo.
Ele disse que estava ruim.
Mamãe, caiu!
Direto ao assunto: O senhor bebeu?
Bebi, bebi.
Ah, que bom! Pensei que fosse coração.
Caiu, caiu.

Parou uma família com a gente.
Mãe, pai e filho.
Eu perguntei onde ele morava, que a gente podia levá-lo pra casa.
Caiu, mamãe, pá!
Perguntei se ele morava sozinho.
Disse que morava com a mulher.
Eu disse que levava ele em casa, que ia escutar um bocado, mas pelo menos chegava lá.
Disse que não precisava.

Começou a dizer que estava puto.
Que na verdade, na verdade, estava puto.
Caiu, caiu!
Eu disse a ele que na verdade, na verdade eu também estava.
E que de verdade, meu filho também estava.
E também de verdade, bem verdade eu não tava afim de escutar a história que ele não conseguia contar.

A mãe da família disse pra eu não falar assim que ele podia ficar irritado.
Só empurrar de volta pro canteiro, eu disse.
Porque eu e eles, esses que caem, temos uma ligação profunda.
Sabemos lidar um com o outro.

Por fim ele saiu se segurando nas grades e foi.
Eu fui até a esquina acompanhando pra ver se ele não corria risco de ser atropelado.
A família já tinha ido.

Hoje estive com o...péra...vou pegar o cartão.
Flávio Eli T. Silva.
Massoterapeuta.
Cego.
Nossa, eu fiquei com essa imagem de um cego fazendo massagem, achei incrível.
No cartão não tem CEGO, falei pra ele que devia colocar.
Riu, por sorte minha.
Vivo em risco.
Conversamos um tanto e eu vou lá qualquer dia.
Não posso deixar essa experiência.

Estive fazendo uma oficina pra professores.
Que foi muito gratificante.
Um público muito carente de tempo e espaço pra aprofundar, ampliar repertório.
E tão aberto, receptivo, rico mesmo no que falta.
Eu me dizia ex-professora e me vi de volta à labuta, com prazer.
Mas lembrei o que me pega na área de educação.
O correto.
Tudo tem que ser dito de forma correta.
Os têrmos.
A gente não pode chamar o Flávio de cego, ele é deficiente visual, agora talvez diferente...Eu me sinto muito mais próxima chamando o Flávio de cego.

Esses dias estava sem um puto e sem nada pra comer.
Virei pro Tito e falei: Vamos brincar de resto?
Conseguimos um almoção, juro!
Estranhíssimo mas imponente!

Voltando pra casa peguei o ônibus que me trás com o cobrador careca que faz do trabalho dele a parte mais agradável que tem no dia.
Ele tem uma gentileza, um prazer em conversar com as pessoas, facilitar, ajudar, fico fascinada.

Queimei meu teclado há um tempo atrás.
Peguei um provisório pra não pagar 180,00 em um novo, por ser da apple.
Não tenho acento nenhum.
O que demorava minutos pra escrever fico horas caçando acentos e cedilhas, completando.
Pedi a uma amiga que me mandasse agora todos os acentos em um e-mail só.

A cor tá de volta pra onde vejo.

Eu quero tudo, tudo, tudo da vida,
E meu tudo é esse quase nada de tudo.



domingo, 4 de outubro de 2009

As coisas são as mesmas, mesmo quando variam

Essa semana trouxe um gosto diferente pra mim.

Quanto Tito fez nove meses, no dia 21 de outubro do ano passado, eu estava dando almoço pra ele numa cadeirinha que balançava e colocava encima do sofá. Ele sempre comeu tudo. Fui colocar o prato vazio na mesa atrás de mim e virei pra tirar ele dali.

Gritei um grito de morte.

Tinha de algum jeito se balançado e estava já no ar, com impulso, indo cadeira e ele inteiro sobre a testa mínima bater no chão.
Eu vi meu filho morto. Vivi a morte dele em segundos.
Peguei ele do chão de qualquer jeito, chorava com ele apertado em mim como se ele nem vida mais tivesse. Carregada de culpa por não proteger quem era naquele momento incapaz de qualquer auto-proteção.

Tito está vivo!
Mas ali eu tive a sensação quase sem ar de quanto é rápido deixar de estar.

Esses dias, esquecida da experiência, ou talvez não me pensando indefesa, me vi no ar também, caindo de testa, sem mão pra me proteger.
Ninguém me empurrou.
De inconsequente eu me balancei na cadeira de cima do sofá.

Tive a mesma sensação de morte.
Gritei também.

Voltei pra mim. Me apertei em mim.
Tive o maior desejo de me cuidar, como faço sendo mãe.

Redescubro na queda o prazer desse cuidado e a máxima necessidade que tenho agora.

Depois foi como se ouvisse a médica que cuidou dele naquele dia, há quase um ano atrás:
"Essa é a parte do corpo mais forte que temos".

sábado, 3 de outubro de 2009

o descaso com a função

Meu irmão quando pequeno pegava uma lupa colocava entre o sol e a formiga pra ela queimar e morrer.
Eu achava aquilo assombroso.

Meu irmão tem olho verde.
A cena piorava.

Eu sempre fui a tapadinha.
Meu irmão era o máximo!
Ainda é.
Rápido pra pegar as coisas, fuça, descobre, fez medicina na Unicamp, ganha bem e tem a vida do jeito que ele programa.

Me espanta esse domínio.

Tenho um jeito estranho de pensar.
Confesso aqui.

Pra mim as coisas são funcionais.
Seja o que seja.
O fio dental, o chá, o cinzeiro, o pensamento, a amizade, a paixão, o filho, o palito de sorvete.
As coisas existem pra funcionar, de algum jeito.
Difícil pra mim entender uma saia que suba com o vento, ou o grampeador que não grampeia a última folha. A mãe que pragueja o filho, a pessoa que detesta a vida, a relação entre duas pessoas que se gostam e não acontece.

A saia é pra cobrir, o grampeador pra grampear, só é mãe quem tem filho, quem não quer viver morre, gente que se gosta se junta.

Queria saber a função das formigas que tenho em casa.
Fazem formigueiro em banana, avançam em resto de água, sobem na pimenta, na tábua de cortar, no varal.

Não me faz sentido nenhum.
A não ser detestá-las.

Me falta a lupa.
E o olho verde pra cena ficar pior.

Continuo lenta.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

"Venha, eu vou cuidar de você" (O Natimorto)

Sentei aqui pra escrever e coloquei, "repeat one" em "Enquanto seu lobo não vem".
Essa música me faz importância de enlouquecer esses dias.

Hoje acordamos mais cedo que de costume.
"mamãe, mamãe..."
Sete e meia da manhã.
Tito anda mais inseguro que de costume também.
Claro, sou eu. Ele sabe quando estou mais maluca.
Pede alto como se me lembrasse: mãe, volta!

Bom, vou lá e agarro ele. Seja a hora que for.
Em pedido de desculpa disfarçado.
Ele tem sido cada vez mais lindeza de vida na vida que eu tenho depois dele.
Tenho me concentrado mais.
Não demais, nem de menos. Acho.

A música na terceira repetição.

Tinha planejado levar Titão na escola, voltar pra casa fazer umas coisas que tinha pra fazer e mais tarde ir pro Rio num encontro que tinha marcado com Gus tan van.
Como mãe e filho acordaram antes, me preparei melhor e depois de deixar filhotudo na escola fui direto pro Rio ver O Natimorto.
Cheguei lá, comprei meu ingresso e sentei no banquinho da praça do Odeon. De frente.
Em seguida vejo Lourenço vindo fumar um cigarro perto.
Fui lá ver ele, agarro um abraço e uma conversa.

Muito emocionado com a recepção que o filme teve na estréia.
Depois me pergunta: Como é que você tá?
- Caminhando. Pé por pé.
- Difícil, né?
Ele é assim, generoso pra te olhar, pra saber de você enquanto o filme dele estréia no festival.
Apareceu o pessoal da produção, ele se despediu pra encontrar com eles.
Perguntou ainda de gentil que é: Toma um café?
Querendo que ficasse à vontade, disse que não.

Entrei no Odeon que pra mim é sempre especial.
Não fiquei na fila porque sei que sozinha a gente entra fácil em qualquer poltrona que sobra.
Sentei na melhor, atrás do lugar reservado pro júri.

Teve apresentação do filme e depois Lourenço veio vindo pra trás pra sentar e assistir. Disse que na estréia ele não viu direito pelo nervosismo. Já escuro, sentou na poltrona que tinha na minha frente. O cara da produção falou pra ele que ali era reservado. Levantou simples, deu a volta nas cadeiras e sentou na poltrona do meu lado. Eu dei um beijinho no ombro dele e disse: Consegui! Ele riu e de gentil que é: Tava te procurando.

Vimos o filme.
O Lourenço é um dos artistas atuais que mais me tiram do lugar.
Mais ainda depois que conheci o que ele é.

Terminou o filme. Aplaudimos.
Eu tinha que virar e cumprimentá-lo e não conseguia, não sabia sair da tela.
Ele me cutucou e disse: preciso ir, o pessoal tá me esperando.
Tinha debate.
Abraçamos de novo do jeito melhor de abraçar.
Me perguntou: Gostou?
Eu na minha pobreza espontânea: nossa senhora!
Ele foi e eu fiquei ali, escorrendo do olho, até a última letra. Feliz de não estar em cinema que acende a luz nos créditos.

Fui ao banheiro. Fila.
Chorava ainda.
Esperei olhando pra baixo. Dentro do filme.
Xixi.
Saí e lá fora encontro de novo Lourenço entrando na Van.
Abraçamos de novo.
Digo a ele que tenho uma reunião e não posso ir vê-lo no pavilhão.
Ele diz: Gostou, então, não?
Eu de novo na idiotice: - Puta que pariu. Queria ficar lá.
Despedimos.

Se houvesse outra sessão eu ficaria, e se mais uma de novo.
Como o repeat do Caetano.
Podia estar até agora lá, e até amanhã.

Não preciso de muitos lugares diferentes, mas desses poucos que me dão casa.

Me derreto com esse encontro.
Com esse tipo de.
Com ele, Lourenço, o encontro tem sempre um pouco de melancólico.
Mas melancólico do jeito correto, como diz um amigo que gosto.
De poder entregar também o que não tá sorriso.
Sempre saio melhor.
E dá certeza que nada precisa ser forçado.
Que as coisas se atraem.

Eu precisava dos três abraços dele hoje.
Também de assistir a esse filme que me mexeu tanto desde o livro, ao lado dele.

Obrigada, Lourenço querido.
Sem saber mais como agradecer do cuidado que me tem.