quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

verbalizar

A gente percebia
A gente escutou que percebia
A gente viu que escutou que percebia
A gente reparou que viu que escutou que percebia
A gente fez que reparou que viu que escutou que percebia...
A gente acreditou que fez que viu que reparou que percebia que escutou
A gente inventou que fez que escutou que viu que reparou que percebia que acreditou que queria que saiu sarou valia



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 pra aqui

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

será

A vista triplica um ponto só?
Com um o que acho, o outro o que é e nos dois que queria que.
Mas acho que o que queria que às vezes é o que é e não o que eu acho ou o que queria que.
...
Queria que o que eu acho, não fosse o que queria que só pra ter certeza que é o que já sabia que é, porque pode ser só o que eu acho e é o que eu acho que eu queria que, acho.
É, se fosse, o que eu acho seria o que eu queria e não só o que eu acho e que queria que só pra estar certa que é.
Queria então que, o que eu queria que, fosse o que é, o que eu acho o que eu queria que, que seria o que acho e que é.
Acho que é o que eu queria que.


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 pra reler na crise, que uma passou

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Ana Martins Marques

“Livro das semelhanças

O modo como o seu nome dito muito baixo pode ser confundido com a palavra xícara
e como ele se esquenta de dentro para fora
o modo como a palma das suas mãos se parece com porcelana trincada
o modo como ao levantar-se você lembra um grande felino
mas ao caminhar já não se parece com um animal mas com uma máquina rápida
e de costas sempre me lembra um navio partindo
embora de frente nunca pareça um navio chegando
o modo como dita por você a palavra “sim” parece uma palavra
que fizesse o mesmo sentido em todas as línguas
o modo como dita por você a palavra “não” parece uma palavra
que você acabou de inventar
o parentesco entre as fotografias rasgadas os brinquedos esquecidos na chuva cartas
que deixamos de enviar produtos em liquidação frases escritas entre parênteses
papel de presente as toalhas que acabamos de usar e massa de pão
e, mais importante, o parentesco de tudo isso
com o modo como você chama o táxi por telefone
a camisa branca que você acabou de despir sempre me lembra um livro aberto ao sol
seus sapatos deixados na sala sempre me parecem ensaiar os primeiros passos de dança
numa versão musical para o cinema do seu livro preferido
o modo como no seu apartamento as coisas sempre parecem estar em casa
e você sempre parece estar de visita
e como você pede licença à penteadeira para chorar
o modo como as nossas conversas me lembram bilhetes interceptados cardápios de
restaurantes exóticos rótulos de bebidas fortes documentos comidos nas bordas
por filhotes de cão
o modo como os seus cabelos parecem as linhas de um livro lido por uma criança
que ainda não sabe ler
ou apenas desenhos que alguém por equívoco tomasse por escrita
o modo como os seus sonhos parecem os pensamentos de pessoas que sobreviveram
a um desastre de avião
parecem as lembranças de um ex-boxeador apaixonado
parecem os contos de fadas preferidos de ditadores sanguinários
parecem os projetos de futuro de crianças muito pequenas
os parentescos entre as guerras íntimas os jogos de armar as primeiras viagens sem
os pais os países coloridos de vermelho no mapa-múndi pessoas que sempre esquecem
as chaves as primeiras palavras ditas pela manhã e a disposição para usar a violência
o modo como apesar de tudo isso você não se parece com ninguém
a não ser talvez com certas coisas
similares a nada

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Fórmula

é muita gente
milhares de anos
e ninguém se repete

depois dos haikai kerouac

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

e a vontade
de entrar pra dentro
no começo da segunda-feira?



em toca