sábado, 24 de julho de 2010

Aquilo a que a lagarta chama fim do mundo, o homem chama borboleta

Quanto tempo deve ter de tempo pra matar a idéia de estar vivo depois de morrer?

Tenho tido medo de um dia saber que morri.
Como pode ser?
Morro toda?
Pode ser que não saiba então?

No tempo depois que páro me esqueço?
Esqueço o que fazia, minhas pessoas, a parte que cheguei do livro, o que ia fazer depois de antes de ir?
E as coisas que ando pensando, que demorei pra pensar? A sensação do que experimentei? A falta do que não pude? A impressão de ainda poder? O som do meu filho que escuto quando não está? O prazer que procuro todo dia? E sinto nem que seja ausente.

Impressão que não.
Não é não.
Quase certeza que não.

Acho que não.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A Briga do Edifício Itália e do Hilton Hotel



O Edifício Itália
era o rei da Avenida Ipiranga:
alto, majestoso e belo,
ninguém chegava perto
da sua grandeza.
Mas apareceu agora
o prédio do Hilton Hotel
gracioso, moderno e charmoso
roubando as atenções pra sua beleza.

O Edifício Itália ficou enciumado
e declarou a reportagem de amiga:
que o Hilton, pra ficar todo branquinho
toma chá de pó-de-arroz.
Só anda na moda, se veste direitinho
e se ele subir de branco pela Consolação
até no cemitério vai fazer assombração
o Hilton logo logo respondeu em cima:
a mania de grandeza não te dá vantagem
veja só, posso até ser requintado
mas não dou o que falar
Contigo é diferente,
porque na vizinhança
apesar da tua pose de rapina
já andam te chamando
Zé-Boboca da esquina

E o Hilton sorridente
disse que o Edifício Itália
tem um jeito de Sansão descabelado
e ainda mais, só pensa em dinheiro
não sabe o que é amor
tem corpo de aço,
alma de robô,
porque coração ele não tem pra mostrar
Pois o que bate no seu peito
é máquina de somar.

O Edifício Itália sapateou de raiva
rogou praga e
até insinuou que o Hilton
tinha nascido redondo
pra chamar a atenção
abusava das curvas
pra fazer sensação
e até parecia uma menina louca
Ou a torre de Pisa
vestida de noiva

domingo, 4 de julho de 2010

Conto de fraldas

Uma vontade de um fim de domingo.

De barca, pra fazer bonito.
Que lindo é!

Inspirada, dormi os 13 minutos.

Levanto com cara acesa sem entender como andar.
CCBB ou Caixa?
Segui pra esquerda.

Faz tempo que não venho pra cá aos domingos.
Feio.
Silêncio, pouquinho de gente e porta baixada.

Não combinando com a idéia da vontade decido um ônibus pra botafogo.
Só eu.
Depois ele que veio vindo perto da parede e mudou pro lado que eu tava da calçada.

A Caixa!
Resolvo e ando correndo pedindo desculpa se caso ele não quisesse me assaltar.

Nada que entusiasma acontece na Caixa.
Só às sete. Uma peça com Luis Melo.
Quero ver, depois.
Assustador a quantidade de porta e a noite das cinco e meia ainda mais noite na Rio Branco.

Botei cartão no sutiã e fui tentar o Odeon.
Sete, sete.

Chega bem perto, falando baixinho conta que acabou de perder o filho com tumor no cérebro, que resolveu tudo que precisava resolver no Rio e a mulher esperava desesperada no hospital. Faltava o dinheiro da passagem.
Dei o que tinha, precisava de R$ 4,00 pra ir pra casa. Ele me deu.

Era R$4,10, o motorista me liberou.
Não pensei mais no pai do filho que morreu.

As voltas pareceram maiores, não sei, deve ser coisa de domingo.
Queria um café num lugar delicioso.
Na minha frente um moço de cabelo pior que o meu parecia legal, podia chamar ele pra tomar comigo.
Uns meninos fortinhos de regata apertada sabiam da Parada em Icaraí.
Um deles me disse que eu era linda, lin-da!

Depois da ponte só via luz de freio.
Demorou um tantão e desci onde achei que valia à pena.

Acontecem coisas em Niterói, coisas feíssimas, acontecem coisas em Umuarama até.
O assassino do Chico Mendes era de lá, o Darcy.
Mas dá uma segurança enorme quando ando aqui.
Mais que em Umuarama hoje.

Fui rápida do jeito Curitiba.
Lá na frente passa o ônibus, a janela: Linda mas ficou pra trás!
Desisto do café, compro um chocolate e pego meu ônibus, o 30 de todo domingo.