quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

asas



Quando uma criança era uma criança
Ela andava com seus braços balançando,
queria o córrego pra ser um rio,
o rio pra ser uma torrente,
e uma poça pra ser o mar.

Quando uma criança era uma criança,
não sabia que era uma criança,
tudo era tão cheio de espírito,
e todas as almas eram uma só.

Quando a criança era uma criança
não tinha opinião a respeito de nada,
não tinha hábitos
e sentava-se sempre de pernas cruzadas,
descansando de uma corrida
e tinha o cabelo lambido
e não fazia poses na hora da fotografia.

Quando a criança era uma criança
era a época destas perguntas:
Por que eu sou eu e não você?
Por que estou aqui, e por que não lá?
Quando foi que o tempo
começou, e onde é que o espaço termina?
A vida debaixo do sol não é só um sonho?
Aquilo que eu vejo e escuto e cheiro
não é só uma ilusão de um mundo de antes do mundo?
Considerando-se o mal e as pessoas.
A maldade realmente existe?
Como pode aquilo que sou, quem eu sou,
não ter existido antes que eu viesse a ser,
e que algum dia, eu, quem eu sou,
não serei mais quem eu sou?

Quando uma criança era uma criança,
Mastigava espinafre, ervilhas, bolinhos de arroz,
e couve-flor cozida,
e comia tudo isto não somente porque precisava comer.

Quando uma criança era uma criança,
Uma vez acordou numa cama estranha,
e agora faz isso de novo e de novo.
Muitas pessoas, então, pareciam lindas
e agora só algumas parecem, com alguma sorte.
Visualizava uma clara imagem do Paraíso,
e agora no máximo consegue só imaginá-lo,
não podia conceber o vazio absoluto,
que hoje estremece no seu pensamento.

Quando uma criança era uma criança,
brincava com entusiasmo,
e agora tem tanta excitação como tinha,
porém só quando pensa em trabalho.

Quando uma criança era uma criança,
Era suficiente comer uma maçã, uma laranja, pão,
E agora é a mesma coisa.

Quando uma criança era criança,
amoras enchiam sua mão como somente as amoras conseguem,
e também fazem agora,
Avelãs frescas machucavam sua língua,
parecido com o que fazem agora,
tinha, em cada cume de montanha,
a busca por uma montanha ainda mais alta,e em cada cidade,
a busca por uma cidade ainda maior,
e ainda é assim,
alcançava cerejas nos galhos mais altos das árvores
como, com algum orgulho, ainda consegue fazer hoje,
tinha uma timidez na frente de estranhos,
como ainda tem.
Esperava a primeira neve,
Como ainda espera até agora.

Quando a criança era criança,
Arremessou um bastão como se fosse uma lança contra uma árvore,
E ela ainda está lá, chacoalhando, até hoje.

Handke

--

te amo sempre mais!
Como?

sábado, 8 de dezembro de 2007

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

mi m eu

gosto das coisas que gosto em mim
adoro as coisas que me chacoalham de insegurança.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

favo rito



Construo quando surpresa
amo
sou o som satisfeito de ser
sou caso inteiro
força quente que abastece
os olhos estão ricos
a mão é sempre mais
sem limite você
não conheço nunca seu fim
a corrida parece sempre estar na próxima volta.

23/09/07

Ti (to)


A impressão é de que você sempre esteve aí.
E que pra sempre vai estar.
Um órgão livre e expressivo que comove o corpo maior.

Dizem que sete meses é pouco pra dizer "te amo".
Espero seus olhos.

domingo, 4 de novembro de 2007

precipit ação


eu não pretendo ser boa, melhor, não pretendo ter muito dinheiro, não pretendo morar no melhor lugar, ser admirada, subir na vida. Eu quero é muito mais que isso!

tent ativa

não consigo me localizar direito, fico entre um tanto de coisas que não me mexem.
digo isso e gostaria que isso me desse uma cara limpa dentro do movimento, mas até nessa escrita já tenciono estar sendo olhada e isso delimita cada letra. isso me torneia dentro do que eu queria olhar de fora.
ia agora escrever um tanto de coisas.
as coisas que ia dizer eram livres, e não estou.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

nova

Começo hoje minha fase de falar.
Hoje não.