quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Somatopsicopneumático

- Coloquei um trecho do que você escreveu, achei tão lindo.

- Que presente.

- Tá tudo bem?

- Tudo bem, melhor cada dia.

- Isso é bom. Dormiu bem ontem?

- Dormi, capoploft.

- Você voltou pra Niterói sozinha?

- Voltei, ando sozinha esses tempos.

- E isso é bom?

- É bom, tem me feito bem.

- Ficar sozinha eventualmente é ótimo, estar não é bom.

- Eu não estou, nunca estou. Procuro estar agora. Um processo solitário, essencialmente.

- Essa sua fase é importante mesmo que esteja.

- Eu tenho pensado muito, tenho me visto com algo parecido do que minha mãe sempre falou.

- O que sua mãe falou?

- Que as coisas vão ficando diferente, que um filho muda tudo, e minha vida tem outro peso, junto com ele. Isso me faz me reconhecer em outro lugar.

- Acho isso natural.

- É, eu penso e reconheço minha responsabilidade, minha necessidade de nos criar. Sinto todas as minhas escolhas fazendo efeito. O distanciamento familiar desde cedo, acompanhar outra vida, esse meu jeito de não ter medo de deixar.

- Assim mesmo. Acho que primeiro você viveu a euforia da liberdade, agora realmente passando pelo processo

- Também acho, entendendo minha posição nisso tudo, como mulher, como mãe.

- Tudo muito individual e solitário.

- É. E me sinto tomando posse disso agora. Sinto outra coisa, outro lugar, que não tinha encontrado antes, que não tinha entendido. Me sinto mais consistente. Mais forte por estar me reconstruindo sozinha, com verdade.

- Importante achar o devido lugar das coisas.

- Me sentindo real, entendendo tudo que eu escolhi.


(...)


- Tenho fumado.

- Não acredito.

- Uma merda, mas não me matei.

- Você não pode fazer isso.

- Ah, sem drama.

- Não é drama.

- É sim.

- Sei como é difícil parar.

- Moleza parar estando grávida. Difícil não voltar depois disso tudo.

- Você que está sendo dramática agora. Procura outro prazer, sexo casual.

- Deus me livre dele.

- Tem que usar seu lado homem.

- O cigarro nunca me fuma.


(...)


- Fica bem, tá?

- Estou bem, acredita.

- Beijos, querida.

- Beijo, lindeza.

- Qualquer coisa grita.

- Você também.

- Pode ligar qualquer hora.

- Você também.

- Beijos.

- Muá.

- Dorme bem.

Um comentário:

maria disse...

esse seu post me lembrou uma música do paulinho da viola. vou te mandar por email depois. beijos