sábado, 26 de setembro de 2009

Essa minha tensão pós-moderna tem que menstruar

Nunca liguei muito pra gente.
Sempre teve uma via rápida entre nós.
Como ator e agência de casting.

Rio como tonta, deve ser isso.
Agora ainda tem Tito, outro tonto.
Sai os dois catando gente pra perto da gente.

Ao contrário do que parece,
Não sou de grupo.
Sou monogâmica.
Mais que gostaria até.
Como diz Tatoca, minha amiga: um canal só, né nega?

Eu gosto de estar na companhia de uma pessoa só.
Não como as minhas amigas, mas ainda assim a idéia do canal funciona também.

Depende muito do que a gente está querendo dividir,
Mas se a gente sabe o que é também sabe com quem fazer.
Tem gente que te tira de dentro e não deixa voltar,
Que vai lá pra dentro com você e te mergulha pouco mais.
Uns que gostam de teatro. Outros só querem a praia.
E a gente sabe da energia e conexão pra encontrar.

Bom, isso quando tá tudo colorido.
Porque quando a coisa aperta, aperta mesmo, pra valer
Vejo minha imagem pequeninha lá embaixo, a câmera lá do alto, a voz baixinha:
- Tá tudo branco aqui. Cadê vocês?

Que sufoco, Geni.

Esse é o desespero que meu filho tem quando acorda sem abrir o olho.
Berra como se em sessão de tortura.
Quando lembra que tem olho pra abrir: faz-se a luz.

Hoje fui com Tito para um dos lugares mais bonitos de Niterói,
Praia da Boa Viagem.
Encontramos algumas pessoas boas de encontrar pelo caminho,
Seguimos andando.
Corrijo.
Eu andando empurrando carrinho, ele deitado na maior banca de bonachão.
Até que dormiu.

Andei até o último lugar com sol.
Estava um vermelhão por toda parte, ali.
Parei num quiosque e pedi uma cerveja, como não?

Só que no quiosque eles não servem na mesa.
Ai saco, detesto quebra de clima.
Fiquei ali atrapalhada pensando em como fazer pra pegar a cerveja, empurrar o carrinho, não ia deixar Tito ali sozinho, dormindo.
Um senhor que estava de pé no balcão me gritou: Deixa que eu te levo!
Eu dei um sorriso rasgado e: ai, que bom!

Ele me trouxe, serviu meu copo também.
Agradeci, muito agradecida.
Ele disse que eu estava parecendo muito feliz.
- Com esse filho lindo também!
Eu sorri menos rasgado.
Agradeci mais uma vez, ele voltou pro lugar onde tava.

Olhei pro meu filho lindo e resmunguei da idiotice de não lembrar disso a cada segundo.

Voltei a olhar o vermelho, lá na frente agora, em cima do Rio.
O senhor me sorria do balcão.
Eu percebi que não ia parar, desviei o olhar pra baixo, olhando o mar.
Sim, porque eu sei do meu público forte,
A juventude da década de setenta.
E eu os adoro também.
Mas o senhor de gentileza impecável não tirou minha vontade de estar sozinha.

Terminados sol e cerveja, comecei a me arrumar pra voltar.
O senhor veio vindo na minha direção.
Quando bem próximo deu uma paradinha:
- Essa foi cortesia minha. Tchau, querida.
Meu sorriso de agradecida e envergonhada.
- Poxa, muito obrigada pela gentileza.
Ele me acenou. Foi.

E eu me lembrei o tamanho de quase nada que tem meu universo.
Esse que me emburacou.

Que meus amigos estão por perto, ainda os que longe, os que estão pra chegar.
Que a ansiedade de sair daqui faz o tempo arrastar.
Que vale a pena respirar, parar de me bater.
Perceber o movimento natural e fluido que tem.
O tempo todo, pra todo lado,
Só o olho abrir.

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Um comentário:

tainah disse...

"hoje o sol veio vermelho como um rosto.." Fiquei com a imagem na cabeça de cê e Tito sob o sol... belezuras!