quinta-feira, 17 de setembro de 2009

História sem fim

Era uma vez uma menininha
Já não tão menina
Nem tão pequenininha

Vivia de sorriso aberto
Num lugar calmo
De cor, sabor e afeto

Sabia o que fazer
Sabia o que dizer
E o que não sabia não fazia

Um dia ela reparou
Gente, o fogo acabou!

E sem o fogo o ar parou.

A menininha, já não menina, nem pequenininha
Não sabia mais o que fazia, o que dizia
Nem sorriso mais saía

Viu então uma saída, a única que tinha.

Olhou por ela e viu como era
Era alta como num prédio uma janela

Sem saber bem como pular ela pulou
Caiu lá embaixo, machucou
Caída e machucada veio o ar que respirou

Chegou alguém e lhe ajudou
Pegou no colo, levou
E a sensação do fogo voltou

Já não menina, nem pequenininha
O dono do colo não conseguiu
Pôs a menina no chão
E o pé que parecia melhor, abriu

Outro colo apareceu
E o pé nem doía mais
Mal conseguiu dois passos
E o dono que era fraco
Largou ela que nem saco

Alguém chegou e viu
Disse pra menina que o pé abriu
E que a melhora só vinha
Quando ela pisasse sozinha

A menina agora mais pequenininha
Abriu a boca pra chorar
Não aguentava mais lamentar
Da dor que doía e fazia também respirar

O ar agora vinha
Faltava saber andar
Pra chegar onde ela tinha
Onde via o fogo queimar

Mais um colo ela ganhou
Calmo
De cor, sabor e afeto
E nesse colo ela notou
Esse é meu predileto

Pediu então pra descer

Viu o pé rasgado
E sangue pra todo lado

Não se assustando mais
Firmou no chão o calcanhar
Sabia agora o que não soube lá atrás
Insistir, tentar, até andar

O antigo colo lhe deu a mão
Mas sem conseguir segurar
Viu a menina desmoronar

O choro saía
A menina doía

Certa do que queria
Pediu que ele fosse, que ela iria
E que quando o pé curasse
Ela chegaria

Ele saiu na frente
Mostrando a ela onde pisar
Ela sorriu pra ele
Começando a se levantar

Cada passo que dava
Vinha com choro
Vinha com riso
Mas a vontade da menina
Era chegar onde ele estava, sozinha

O pé começou a ficar dormente
E o fogo que tinha nela cada vez mais quente
Quanto mais o pé doía
Mais ela ria, mais ela ria

Ontem encontrei a menina andando
O pé sangrava, ela cantava
Não entendi nada o que rolava

Perguntei se ela não tinha pressa, dor, calor?

E ela disse que o calor só aumentava
Que ela queria, que precisava
Que era a falta dele que machucava

Que a dor que sentia no pé lhe fazia rir
Pois era quando a sentia que sabia pra onde ir

E que a pressa ela não podia ter
Que precisava saber andar devagar e entender
Que o caminho era lento e sozinho, só assim pro pé curar,
Que quando chegasse até ele, sem dor e sabendo andar
Poderiam pular, correr, dançar.

Um comentário:

Tatiana Monteiro disse...

Amiga querida,
Essa poesia que você fez com a vida da gente, me lembrou muito uma história que tem no "Mulheres que Correm com os Lobos". Você precisa ler SAPATINHOS VERMELHOS... ela fala sobre essa coisa da gente entender como é que faz para o pé ficar um pouco menos machucado... Lindo texto Mari. Mas para quem é menininha, é mais que lindo... é curativo. Obrigada, sempre - Tati