domingo, 1 de novembro de 2009

Onde um pauzinho boiando é navio a navegar

Enfim visitei David, nasceu há dois meses.
Pequeno que nem um ratinho não sabe do pânico que causa na gente.
Abre a boca de um tamanho que ela nem tem.
Enruga a cara que parece tartaruga.

Peguei ele tentando fazer entender Um descanço pra sua mãe, David.
Colo, em pé, deitado, experimento o berço, o brinquedo e uma música.
Resmunga, chora, se enruga, abre a boca além do tamanho da boca.
Me mantenho calma, tranquila, finjo bem.

Botei no peito de volta, no dela.
Voltei pra casa e fui procurar o kit.
Disque amamentação, reunião Niterói amigas do peito, syntocinon, homeopatia.

Já tive a mesma cara da Lóri.
Amém por eles crescerem.

Quanto mais tiquinho, mais pesado.
O meu hoje um bolotinha.
Vira-latas.

Eu sempre tive disso.
De comer qualquer coisa em qualquer lugar.
Sofisticado ou trash.
Não passo mal, normalmente não.

Na minha casa de infância pouco tinha almoço.
A gente comia pão, presunto e queijo.

Hoje não compro mais, se tem como até acabar.

Minhas amigas eram loucas pra almoçar lá em casa.
E eu sonhava com bife, arroz, feijão e salada da casa da Alê.

A gente tinha conta na padaria.

Meu pai sempre foi de facilitar.
Pouco exagerado, às vezes.
Dava mobilete e a conta no posto.
Descobriu que eu fumava e deu o pacote, da marca preferida.
Namorando? Sério? A caixinha da pílula que citei.
Ai, pai.

A conta da padaria era alta.
Ele, meu pai, avisava Tem uma doença que aparece pra quem come muito doce, diabetes.
Meu irmão descobriu, diabético.
Achei uma bruxaria.
Ele avisou antes de saber.

Aprendi a beber água na faculdade.
Minha infância toda achei que água era falta da coca-cola.
Lá em casa era.

Mal posso ver refrigerante mais.
Não tenho conta na padaria.
Como quiabo, e posso comer só quiabo.

Minha mãe também come qualquer coisa.
Quando a gente se dizia com fome escutava
Tá cheio de comida, se vira. Maçã, ovo, iogurte, milho.

E meu pequininho que me deu baile na amamentação,
Um vira-latas, graças talvez ao iogurte com milho, ovo e maçã.

Come mamão com a alegria de um toblerone.

A gente tinha há um tempo, decidido dar leite só pela manhã e pra dormir.
Esses dias que tem feito friozinho, lembrei do leite que minha mãe sempre tomou com a gente.
Esse leite que ela oferece na manhã ou madrugada, tarde ou noite,
Vem com um afeto que guardei em todo leite.
Quentinho.
Tenho feito assim com meu tiquinho.

Quebramos a regra pra trazer o afeto lá de trás.

Até pedi esses dias pra Lipe deixar molhar o pão de Tito no Toddy dele.
Tito sabe pouco de chocolate ainda.
Mas lembrei desse prazer de mergulhar o pão no leite com chocolate.
O prazer bateu nele, a gente viu.

Descobriu o não.
Dormir, não. Mamar, não. Banho, não. Doce mais doce que batata doce, não.
Não sei parar de rir.
O prazer da palavra nele contagia.
Fico louca por um beijo, mas não.

Amém que eles cresçam.
Vou lá conversar com David.

Um comentário:

Tatiana Monteiro disse...

Então descobri: você e seus textos são o meu leitinho quente da madrugada. Lindo texto querida. Podia passar a noite te lendo. Beijo!