sexta-feira, 22 de maio de 2009

me descasco


Ontem, conversando, falei de quanto sou mexida com as possibilidades.
Como me altera enxergar a quantidade possível de direções.
Sentir que posso tomar uma decisão que não tinha, fazer a viagem que não fiz, encontrar as pessoas que ainda não vi, mudar aquele meu móvel de lugar, pintar a parede que não enxergava mais, andar pelo caminho que não conheço, participar de programas que não me chamavam mais.
Me enfeitiço...
Me levo a um limite.
Quase a minha loucura.
Enquanto escrevo e me carrego pra essa sensação que me vibra, percebo a reação dos meus braços, a palma da minha mão, e uma força que empurra minha cabeça de dentro pra fora pra todos os lados.
Corpo que não parece meu.
Disse ontem nessa conversa que me lembro exatamente do momento primeiro que reconheci essa possibilidade da autoria, a força que isso carrega, a transformação que acompanha a ação que tenho, ou não tenho.
Há 16 anos atrás fumei escondido, com amigas, numa brincadeira, sem pensar.
Num momento rápido, de minutos, esse que me fez contato com esse sentimento que me faz viva, quase insana, eu senti essa força que desespera. As escolhas que só podiam vir de mim, e me fizeram contato com minhas primeiras possibilidades conscientes, que me impressionaram ao me enxergar a partir dali, naquele momento que me decidi fumante.
Me abalo hoje quando lembro e sinto vivo aquele momento.
Fico mexida com a volta da mesma sensação que tive.
Assusta a distância que temos.
É mais difícil sair do lugar. Tenho mais medo.
As direções são menos claras.
O movimento da escolha é mais extremo, valioso.
Eu sinto o cansaço. O consumo de mim é maior.
Meu corpo dói. Minha garganta.
Eu tento não reconhecer a força contra que me bate.
Finjo que o impulso é forte.
Ignoro o socorro que me peço.
Me surpreende a densidade.
Mexo em todos os caminhos com menos convicção.
Tive agora aquela mesma sensação da possibilidade.
Com clareza.
Mesmo chorar eu posso.

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