quarta-feira, 6 de maio de 2009

O cheiro que tenho em casa

Há algum tempo tenho trabalhado mais do que gosto.
Dormido menos que preciso também.
E minha casa está de chorar.
Troncha, desarrumada.
Como eu.
Dou um jeito aqui e ali e ela parece mais clara, melhor.
Alguém que chega acha limpa.
Como a mim.
E minha casa está de chorar de verdade nos lugares mais difíceis.
Claro.
Preciso chamar Elaine que enxerga e alcança cada grude antigo, o pó de cima, o debaixo e aquela sujeira enorme de tempos, dentro de cada porta aberta na minha casa.
Como as minhas.
Que Elaine não vê.

Ontem terminei um trabalho três da manhã.
Meu olho um rasgo vermelho.
Os homens da casa roncavam.
Pra começar o que Elaine não alcança, um banho quente.
Precisava daquela água.
Do silêncio do ronco.
Do escuro.
Fiquei ali tempo infinito.
Talvez o rasgo vermelho tenha aumentado.
Saí com dificuldade.
Preciso do sono, pouco sono que vou ter.
E antes a mochila do filho arrumada.
Blusa de manga curta.
Bermuda pra cobrir mais e nem tanto.
Separei as usadas.
Tenho o impulso de lavar o que não sai do varal.
Senti o cheiro.
Aquele cheiro um que nem consigo saber.
Maior que posso.
Que não se lava.
Que não o do mercado que comprei pra Elaine deixar depois de ir.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo demais... forte e intenso...