sexta-feira, 28 de agosto de 2009

E corre por aí que eu sei certo zum-zum

De encontros e conversas que tenho tido com alguns amigos tenho percebido umas coisas.

Eu tenho a vantagem de quem não estuda.
De quem pouco leu.
Não sabendo nada de jung, freud, heidegger, racionalismo, pragmatismo, filosofia analítica ou da libertação eu tenho sempre a sensação de descoberta, da idéia fresca que tive hoje.

Vou mudar a música.

Em alguns momentos que estou em vida, sinto um vazio de arrebentar.
Às vezes mesmo acompanhada de uma pessoa que amo mais que a mim mesma.
A falta desesperada de alguma coisa que não sei fazer o que, nem pra onde ir.

Tenho visto o panorama.
Junto as impressões, falas, e o que não se fala.
Talvez algo da idade.
Talvez proximidade do fim disso tudo.

Meus amigos podem negar.
Eu reconheço meu vazio neles quando o olhar se perde, quando o assunto desanda, quando percebo que não posso preencher o desejo do encanto, que nosso papo é um tempo de espera.

Não sei se na adolescência e pouco depois dela a gente se preenchia mesmo tanto da gente ou se fingíamos melhor.
Porque eu não lembro dessa imagem que vejo agora.

Eu lembro do prazer que tinha por estar sozinha.
As possibilidades, as possibilidades de tudo me alimentavam, me envenenavam.

Ainda sinto assim.
Ainda penso.
Leva tempo voltar a sentir as coisas que pensa.

Ainda acho fascinante a possibilidade do que não senti.

Mas eu quero falar pros meus amigos.
Em tom de verdade.
A gente deseja por faixas.

A gente se carrega pra um mesmo vazio, de faixas também.
A gente precisa conseguir individualizar nosso buraco.

Eu, como em oração, diária, pego me lembrando que a possibilidade de encontro é tão grande e variada que não há permissão pra além do que me faça bem.
Debilitada que sou e estou um pouco mais.
Não é hora de bancar um natimorto.

São tantas combinações possíveis que a gente pode selecionar o fazer bem como quesito.
Um simples fazer bem de alimentar e alimentar-se.
De ver um trajeto que te fascine entrar.
Que flua. Que corra.

E que aquele caso que te fez doer e levou o palavrão com ele,
Foi também vítima da projeção, da expectativa.
Que o pobre tinha a vida de um dia, uma semana ou pouco mais.

E eles avisam.
A gente que tapa o ouvido, olha pro lado, cantarola e faz de conta que É ESSE!

E mesmo a falta de troca não é sempre um desagrado intencional.

Eu mesma que me prometo não fazer mal a ninguém que me deseje bem, às vezes ainda me pego em silêncio a alguém que precisa de uma resposta que só eu posso dar.
E sou cuidadosa.

As coisas acontecem quando acontecem.

Meu texto deve causar um vazio de doer nos meus amigos.

Espero que seja da faixa.
O vazio de tanta gente.
Do texto também.

Também me coloco na torcida para que não seja o fim disso aqui que eu gosto tanto.
Mesmo infestado de desencontro.

Um comentário:

José Aguiar disse...

Mari,
cada um tem o seu caminho, sua bagagem, seu repertório.
Cada um constrói, sem querer, uma história, uma lenda. Sobre si, sobre os outros.
É assombrosso o que eles, os amigos, esperam e imaginam de nós.
É um choque às vezes gostoso, quando não doído.
Mas é nele que encontramos esse frescor que é saber que nossa ignorância em certos campos é muito balanceada pelo que trazemos.Que é o que talvez eles, os amigos, não tenham.Não ainda, não até você mostrar a eles.
Que chato seria se todos tivéssemos a mesma bagagem. Seríamos todos uns malas.