sábado, 26 de junho de 2010

eu viro toca, eu viro moita

Enquanto estava deitada esperando ele dormir, fiquei pensando e sentindo a felicidade de ter esse menino, exatamente esse.
Porque o que enlouquece é que melhora, quando não tem mais como melhorar.

Lembro lá atrás, dois anos antes, sim porque dois anos são todos os anos, me vejo com o clique de cuidar, que já é de arrepiar os pelos, mas distante, bem distante da intimidade que achei que acompanhasse o biscoitinho na barriga e saindo dela.

Ter alguém se ajeitando gente dentro de você é se distanciar das bobagens todas que não são ter alguém se ajeitando gente dentro de você.
Explica o mundo visível e inacessível das grávidas.

Depois desses meses todos que fazem a gente não fumar, não beber, comer bem, não menstruar, pousa no braço e no peito um mini rei.
Chora, mama, faz cocô e xixi, pra testar o que domina.
Toda hora, todo o tempo de uma hora.

Aquela amiga me perguntou lá pelo terceiro dia: O que a gente sente sendo mãe?
- Nada, não dá tempo de sentir nada.

Estado de alerta, podia ter dito assim.

Depois de uns meses dá pra começar a entender e sentir umas coisas.
Com um ano explode.
Pessoinha.
Pessoinha toda pessoinha.

Ainda assim, lá pro meio do segundo não encontrei espaço entre outros estouros.

Com dois não tem mais como ser mais.
De arregaçar.

O gesto, o novo toda hora novo, escancarado, inteiro tempo inteiro, de gentileza, entendimento, de voltar atrás, reconhecer melhor que eu que já era pra estar melhor, doação, carinho profundo de olhar aberto de quem quer sem ter medo de querer.

A coragem de ser ele todo em qualquer lugar.
A vontade de ir. A segurança de querer ficar e escolher.
Os amigos, velhos amigos. O beijo em toda boca.
Ter medo e dizer. Pedir a mão pra ajudar.
Escutar e anunciar o galo que eu não ouvia mais.
Dizer que me ama do tamanho dos dois braços toda vez que pergunto quanto.
E a sacanagem, a cretinice, a safadeza que não dá, dói, rasga.

Amor enlarguecedor.

Nenhum desses meninos é ele que é meu filho.
Uns até melhores não passam nem perto de ser esse que é esse cada vez mais.

Em estado completo de mãe, sinto a graça, a benção, a sorte, a luz e a força de ser.
E seguro a mão que persegue a pinta elevada do meu rosto num desejo de agradecer essa enormidade de ser eu, ninguém mais, escolhida pra estar com ele desde o início.

- Mamãe, vamos pra sala?
O olho nem sabe abrir.

Como mãe, não tem coisa que me irrita mais do que quando, morto de sono, finge que não.
Que raiva que dá!


7 comentários:

tainah disse...

"quem quer dormir?"
grr...



Adoro ir lendo e relendo os textos e reescrevendo na minha cabeça de várias formas o que escrevi naquelas primeiras palavras que te mandei pro livro. Tudo só cresce no sentido que você dá a viver e contar.

Tatiana Monteiro disse...

Minha irmã querida, esse é um dos seus melhores textos. Mas deixa eu te explicar porque: quanto mais o Tito cresce, mais o melhor de ti se revela. Quem tem o privilégio de conviver com vocês sabe, que um revela mesmo o melhor do outro. Obrigada por me traduzir um pouco melhor o mundo, o amor, essa coisa indizível que é o amor! Te amo. Amo Tito. Tati

Anônimo disse...

Vou esperar por uma hora bem inspirada para assinar meu nome. O fato é que amei texto e foto, mas faltou conexão entre eu e palavras bonitas para dizer o quanto amei. Beijos anônimos.

Claudia Ebert disse...

Amor enlarguecedor.
Maravilhoso!!!!!!Adorei o texto - é bem isso mesmo que a gente sente!!!!!
Beijos
Claudia

Poesia a Metro disse...

texto lindo, sobre um menino lindo e tudo de maravilhoso que se faz em nós, mães.

beijoenorme.

Rachel Souza disse...

Gostei muito desse texto. Muitão assim ó (meu braço é maior que o dele!)haha

Janine disse...

Mari, estou encantada com seu blog e esse texto é tão lindo que me embaçou a vista antes mesmo de terminá-lo...beijos em vocês!!