quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

um dia na vida dessas pessoas cujas histórias se cruzam por coincidência.

Entrei no banho pra preparar, lavei tudo que alcanço.
Desodorante, roupa bonitinha, retoque na bagunça do cabelo, ajeitar coisas, anotar, pastinhas, papéis, enfiar na bolsa.
Pagar conta.

Excitação.

Bora, bora e não dá pra almoçar.
Itaú tudo rápido.
Monopolizo a caixa 20 minutos.

Caixa Econômica.
Tremo de entrar lá.
Fila pra pegar segunda via.
Fila pra pegar segunda via!
Uma moça simpática que tá lá.
Simpática mas uma só.
Vai indo.
Meu olho deu pra tremer.
Uma vez meu irmão, numa hora assim de olho tremido, fez exame de glicemia em mim, era hipo.

Entra ali no atendimento uma menina.
Cara de novinha.
Cabelo liso, preto, enorme.
Sombra, blush, um batonzinho.
Olho verde, dente e pele branca.
Magra.
Brinco, pulseira, colar de pérola, anéis.
Não sei tirar o olho dela.
Nada sem enfeite.
Exageradíssima.
E linda.
Senta no lugar da outra.
Por que se tem lugar do lado?
A outra despede.

Sombrancelha pra cima e pra baixo, boca aberta, apertada, bico.
Sabe que todo mundo só sabe olhar ela.

Uma mulher cheia de criança pede prioridade.
Resmungos dos 50 minutos da espera.
Outra com barrigão.
E o pessoal.

Converso com gerente: mais atendente!
Não tem, diz simpático.

A que acompanha a grávida fala que é mãe dela, acho mentira, não sei porque mentir sobre isso.
Raivosa no ouvido da filha:

Tem direito.
Eu processo isso aqui.
Trabalho com advocacia.
É lei.
(...) barraqueira.

E repete.
E repete.

Não acaba nunca o atendimento da pessoa antes dela.

Repete.

E eu sem ficar quieta: Faz mais mal isso que se ela esperasse...
E claro:

Primeiro, não falei com você.
Segundo que é lei e ela tem direito.
E não tem que ninguém olhar feio.
E se ela não for atendida eu processo isso aqui.
Trabalho com advocacia, conheço.

Aos berros.
Pronta pra me bater.

Sabendo da minha incompetência com briga, sorriso de mãe: Vai ser atendida, vai ser atendida, mas vai, vai sim, sim, vai ser atendida.

Silêncio.
Atendidas.
Fofoca depois.

Minha vez e ela, a Carol, cabelo preto-preto, pele branca-branca, não tem senha pra segunda via. Não tem senha pra segunda via!
1:50 minutos depois.
Bonita e bem humorada me encaminha.
Rio também.
Bonita.
Bem humorada.
De novo o gerente.
Não tem senha!

Pede pro moço bonito que parece inteligente tirar lá em cima.
Peço pra esperar na fila, levanta o dedão, vai e volta com a segunda via que da próxima vez falo com ele antes da Carol.

Duas horas e vinte.

O gerente me viu: Tadinha...

Entro no ônibus sem ar condicionado.
64 graus.
De repente, sem preparo, e o sol amarelo que nem pisca:
Uma chuva de sapo.
Se não foi, esqueceram os sapos.

3 comentários:

José Aguiar disse...

Mas que dia... que bom que passou!

Marcos Braz disse...

As pensionistas da marinha que atendia quando eu era colega de profissão da Carol, deviam ter dificuldade de tirar os olhos de mim também...

Rachel Souza disse...

Pague pela internet!