terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

por minha cabeça não passava

umas coisas ando vendo que meu filho escuta:
filho, chupa o sorvete senão acaba...

Anda na carência do filho que dorme com a mãe na mesma cama.
E que descobriu lobo mau, a bruxa e o fantasma.

A gente correu prum festival de teatro de animação.
Lá uns argentinos, uns bonecos e umas gracinhas bilingues.
Legal.
Chega um fantasma.
Com mais ou menos dez centímetros e alguns metros pra lá.
Cada vez que aparece um susto, pulo e abraço de corpo todo.
Achei uma bobagem o início disso.
Mas lembrei a grandeza.
A morte e o sinistro e as figuras.

Ficou bonito depois que pensei.

Hoje me pede a cada meia hora.
Dormindo já.
Lembrei que depois de casada já (e ainda), depois do pesadelo acordava Lipe e pedia que ficasse acordado até eu dormir.

Segunda decidi não ir à escola.
Levar.
Não tinha nada sério pra fazer, ficamos juntos.
A casa um lixo do fim de semana.

Lá por quatro da tarde, sem sono e muita excitação, não vinha sorriso nenhum. Não me vinha sorriso nenhum.

Martelava a imagem da cozinha de louça na pia, o chão esfarelado e as bolas pretas, o cabelo no ralo do banheiro.

E a voz e o tom mais lindo: desenhar, mamãe, vamos?

Dizendo com raiva de quem TEM que dizer: Não, filho, mamãe não consegue desenhar agora.

Pedi que desenhasse sozinho e mostrasse enquanto limpasse a cozinha.
Bom como é, fez.

Nossa, outra coisa.
Quase tudo mudou.
Quase tudo mesmo, tudo, tudo, quase tudo.
Faltava o pano na sala.

Senta ali no quarto com o quebra cabeça, só enquanto passo aqui.
Santo, santo, senta e mexe nas peças que nem sabe encaixar.

Pano, pano.
Não gosto deles.
Deu e muito bem vindo.

Incrível o riso.
O prazer do filho de volta.
Da gente ali só a gente.
Da bagunça sem sujeira.
Do espaço.
Da sensação de capaz.
Da vontade de recortar.
Lindo.
Nossa, lindo. Delicioso.

Mas ia falar de outra coisa...

4 comentários:

Rachel Souza disse...

nessa idade que ele está eu era artista plástica!rs
Eram tantos os desenhos e massinhas e paredes...

José Aguiar disse...

Desenhar nunca pode ser obrigação! Disso eu sei um pouquinho.:-)
Quero muitover o que o Tito anda rabiscando!

tainah disse...

Preta pretinha, que imagens mais lindas desses dias. Lindas, lindas... de emocionar esse jeito de sem mãe tão pouco distraído, mesmo quando tem que lavar a louça.

saudade de ti.

bianca disse...

Chorei "ouvindo você" neste relato- texto-poesia, quantas vezes Mariana me sinto assim..me economizando (pois não tenho da onde tirar sorrisos, energia...tudo que sei é que ele merece, a questão não é merecer é termos de onde tirar, sinto que nestes dias poupo ele do meu olhar vazio. Mas o tempo vai tratando de mudar o foco e aí depois o sorriso volta e a energia começa a aparecer, meio tímida.
adorei entrar aqui e ler sua sensibilidade em palavras! beijos Bianca (mãe do pedro... e mulher)