um exercício
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
carne vale
O carnaval me movimenta.
Eu acho estranho que me mexa tanto.
Fiquei aqui pensando alguma coisa sobre isso e pouco sei pensar.
Enquanto escrevo vou formando alguma idéia.
Às vezes não. Mas às vezes, claro, às vezes sim.
Vieram dois pensamentos.
Uma característica do carnaval é a quebra da rotina.
É outra rotina. Conhecida de todo mundo. Que não muda.
No Rio são os blocos de rua.
Na tevê têm as escolas de samba durante a noite.
Nas ruas de qualquer lugar fantasia e som de tambor.
Todo mundo já sabe.
Saias curtas, coragem e pintura na cara.
Uns brilhos.
Nascemos e já era assim. Não muda nada.
Talvez um pouco de um lugar pro outro. Muito pouco.
A outra rotina, conhecida, que não muda e é fascinante.
A possibilidade de sair do nosso dia-a-dia chato pra caralho. (é carnaval!)
De quebrar a nossa cara fixa, de movimentar o corpo que você não gostava.
A deliciosa rotina carnavalesca de acordar cedo, escolher a cor da maquiagem que você nunca usou, de colocar o enfeite na cabeça que acha patético, mostrar suas estrias indecentes, tomar um gole de cerveja no lugar do café, esquecer a hora do almoço.
A flexibilidade do carnaval.
A instabilidade que pode iluminar ou fazer cair.
É essa a delícia de estar em carnaval.
É essa a delícia!
Havia dois pensamentos. Esse me serviu tanto que o outro foi sambar.
Vamos?
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
um Kaspar Hauser
Passei anos da vida sendo nada.
Isso parece profundo mas não é nada.
A vida me foi inteira quando criança.
Grama, fruta do pé, terra, água, os vizinhos, bola na rua, rio paraná e família grande, boa de visitar.
Parece aqui bláblá de tia velha mas são imagens quentes na memória e no corpo.
Aí os anos vazios. Adolescência.
Decisivos.
Meninos, amigos, insegurança.
Quanto mais desinteresse, mais interessante.
É hora de preconceitos, discurso pronto, rir do amor, dos velhos, da professora careta, ouvir janis, cheirar loló e definir: você é demais, ou fracasso.
Aos 17 fui morar em outro lugar.
Chorei meses.
Eu era demais.
Conheci gente legal quando ia fumar no intervalo da aula, passou rápido.
Fim do ano vestibular em Curitiba.
Nunca soube física ou matemática. Nem geografia sabia.
Fiz prova de interpretação. Improvisação.
Não abri a boca, não soube abrir.
Passei.
Não contei a eles que nem história eu sabia.
Greve. Fiquei mais tempo na cidade de meus pais.
Alienada que sou não sabia que a gente faz algo na greve.
Cheguei depois. Não entendia nada.
Nem o formato da faculdade.
Tão pouco, nem perguntar eu sabia. Não formava frase. Não sabia o que eu não sabia. Quieta.
Platão!
As pessoas diziam.
Era com intimidade.
Fiquei de fora.
Sem perguntar.
Não sabia, um personagem de Shakespeare, figura mitológica, teatrólogo?
Quieta.
Nem o formato sabia.
Falava quando assunto besta.
Jeito de sobreviver.
Assim por dois anos. Rindo. Besta.
Gostava do que liam, como falavam. Eu não podia.
As coisas andaram. Ignorei a maior parte.
Pensei em sair. Não tinha talento, sabedoria.
Fiquei.
No terceiro ano entrou uma professora nova. Sueli. Invocada. Durona.
Perguntou pra cada um o que pensava em alcançar praquele ano.
Eu disse rápido: Perder o medo.
Vergonha enorme de ter dito.
Do medo, dos amigos que sabiam, agora.
Como se levantasse a saia e baixasse a calcinha rápido!
Foram duas montagens no ano.
A primeira me diverti.
Com medo ainda. Menos. Sem talento.
Ela disse: - canastrona.
Isso eu aprendi.
Canastrona era pra desistir!
Eu senti que estava indo. Quieta.
Queria o prazer.
A segunda montagem enlouquecedora.
Tinha a imagem, o som. A idéia. Era boa a idéia.
Meu corpo não sabia aquela imagem. Meu som idéia frouxa.
Momentos que sim. Perdia em seguida.
Sem talento. Nem sabedoria. Momentos.
O prazer deles viciante.
E o dia da estréia, acho que uma apresentação só.
O maior prazer meu no palco.
Sem medo. Primeiro momento sem medo.
A idéia ali. Nos dedos, na palma da mão.
Uma imagem. Não correta. Viva.
Ali pude falar. Dizer que não sabia.
Ela me viu, vi ela me vendo.
Me reconheceu.
Queria que me visse.
Quis nascer ali, na forma que pude.
Sem vergonha, talento ou sabedoria.
Como pude.
Isso parece profundo mas não é nada.
A vida me foi inteira quando criança.
Grama, fruta do pé, terra, água, os vizinhos, bola na rua, rio paraná e família grande, boa de visitar.
Parece aqui bláblá de tia velha mas são imagens quentes na memória e no corpo.
Aí os anos vazios. Adolescência.
Decisivos.
Meninos, amigos, insegurança.
Quanto mais desinteresse, mais interessante.
É hora de preconceitos, discurso pronto, rir do amor, dos velhos, da professora careta, ouvir janis, cheirar loló e definir: você é demais, ou fracasso.
Aos 17 fui morar em outro lugar.
Chorei meses.
Eu era demais.
Conheci gente legal quando ia fumar no intervalo da aula, passou rápido.
Fim do ano vestibular em Curitiba.
Nunca soube física ou matemática. Nem geografia sabia.
Fiz prova de interpretação. Improvisação.
Não abri a boca, não soube abrir.
Passei.
Não contei a eles que nem história eu sabia.
Greve. Fiquei mais tempo na cidade de meus pais.
Alienada que sou não sabia que a gente faz algo na greve.
Cheguei depois. Não entendia nada.
Nem o formato da faculdade.
Tão pouco, nem perguntar eu sabia. Não formava frase. Não sabia o que eu não sabia. Quieta.
Platão!
As pessoas diziam.
Era com intimidade.
Fiquei de fora.
Sem perguntar.
Não sabia, um personagem de Shakespeare, figura mitológica, teatrólogo?
Quieta.
Nem o formato sabia.
Falava quando assunto besta.
Jeito de sobreviver.
Assim por dois anos. Rindo. Besta.
Gostava do que liam, como falavam. Eu não podia.
As coisas andaram. Ignorei a maior parte.
Pensei em sair. Não tinha talento, sabedoria.
Fiquei.
No terceiro ano entrou uma professora nova. Sueli. Invocada. Durona.
Perguntou pra cada um o que pensava em alcançar praquele ano.
Eu disse rápido: Perder o medo.
Vergonha enorme de ter dito.
Do medo, dos amigos que sabiam, agora.
Como se levantasse a saia e baixasse a calcinha rápido!
Foram duas montagens no ano.
A primeira me diverti.
Com medo ainda. Menos. Sem talento.
Ela disse: - canastrona.
Isso eu aprendi.
Canastrona era pra desistir!
Eu senti que estava indo. Quieta.
Queria o prazer.
A segunda montagem enlouquecedora.
Tinha a imagem, o som. A idéia. Era boa a idéia.
Meu corpo não sabia aquela imagem. Meu som idéia frouxa.
Momentos que sim. Perdia em seguida.
Sem talento. Nem sabedoria. Momentos.
O prazer deles viciante.
E o dia da estréia, acho que uma apresentação só.
O maior prazer meu no palco.
Sem medo. Primeiro momento sem medo.
A idéia ali. Nos dedos, na palma da mão.
Uma imagem. Não correta. Viva.
Ali pude falar. Dizer que não sabia.
Ela me viu, vi ela me vendo.
Me reconheceu.
Queria que me visse.
Quis nascer ali, na forma que pude.
Sem vergonha, talento ou sabedoria.
Como pude.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Hoje foi mais um dia que passou por cima de mim.
Diversos ônibus pra alcançar o rabo do tempo.
Algo que eu gosto muito nesses dias. Dos ônibus.
Um momento de ficar olhando a cidade, pensando alguma coisa.
Na maior parte coisa nenhuma.
Em alguma dessas viagens pensei bastante em algo pra escrever. O que poderia me fazer escrever.
Eu escrevo a maior parte das coisas pra dizer alguma coisa que eu queira e não consigo ou não posso.
Como o dia foi um desses que atropelam, cheguei em casa tarde.
Chegar em casa é um dos maiores prazeres.
Chegar em casa depois de um desses dias sem almoço.
Chegar em casa depois de um dia assim, com um sol desse de fechar o olho.
Chegar em casa, encontrar meu melhor filho sorrindo de boca inteira é de lascar, de fechar o olho, dos maiores prazeres!
Escrever agora uma da manhã sobre ele que não me deixa escrever.
UM ano!
Já faz um ano que a gente convive, negocia, fecha acordos, surpreende.
Faz hoje, dia 21, UM ano que vivi momentos que lembro com som, lembro o cheiro.
O ritmo do meu corpo era outro. O pensamento não achava espaço.
Ou se achava era uma pequeneza.
O corpo agia, sem parar. Bicho.
Meu menino faz UM ano.
Se movimenta pela casa, fala algumas coisas, gargalha, encara, entende a malícia, o suspense e tudo que a gente conversa com ele.
Chora grosso.
Conhece Curitiba, Campinas, Toledo, Foz e Umuarama. Rio Bonito de Cima. O rio, o mar, a piscina do prédio da madrinha.
A escola também.
Minha criança tem um olho de enlouquecer, um sorriso de boca inteira.
Quase todos os dentes que a idade deixa.
A pele parece brincadeira e o tamanho de quatro gavetas.
Largou o peito, a chupeta.
É cuidadoso. Só come o que cabe na boca.
Meu filho é outro caminho.
É o caminho que é pra todos os lados.
Bate palma, filho!
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
indo pra lá

que ache.
Minha amiga se chama Lucía com acento no i.
Comecei e tremi. Tenho duas horas pra pensar nela sem edição.
Duas horas pra lembrar e sentir tudo que posso. Em duas horas terei novamente em casa meus super-heróis. Que me dão um trabalho de cão.
Bobagem.
Cão não tem trabalho algum. No máximo uma cheirada, uma corrida e um biscoito.
Não tem problema, o que importa é que tenho duas horas pra pensar sem edição sobre a minha amiga com acento no i.
E preciso não editar, pra que esse escrito faça sentido.
Se não pra ela, ao menos pra mim.
Preciso ao menos tentar começar.
Falar dela e não sobre o trabalho do cão.
Falei isso e fui passear um pouco. Passear por aqui mesmo, no computador.
Uma luta começar.
Vou passear mais um pouco.
Fui e voltei um dia depois.
Nesse dia todo não concentrei em você.
Estou indo ao encontro dos meus dois. Amanhã é sábado. Fim da semana.
Vou esperar pela segunda.
...
Segunda, 12 de janeiro de 2009.
Amanhã é meu aniversário.
Ela devia fazer um texto pra mim.
Ela faz tanta coisa pra mim.
Um texto pode ser que não.
Ela me liga pra saber como estou, o que decidi pro aniversário, precisamos nos ver pra fazer as coisas pra festa, se dedica na idéia da piñata, tenho que ligar pra Nina pra ela pintar as crianças, quer buscar Tito na escola hoje, levá-lo à praia outro dia, tomarmos sorvete. Tinha dado ponto final e atendi o telefone. Me convida para o japonês. Tomarmos uma cerveja amanhã.
É assim.
Às vezes as propostas se dividem em alguns dias, na maior parte vêm juntas numa mesma ligação.
Digo que ela é bipolar e ela tem mulheres peruanas pra me darem respostas, que eu não entendo nada de psicologia.
Fico quieta porque elas sabem da vida e da necessidade pós-moderna.
Relacionamentos líquidos, disse o Rafael.
Luci (amiga, psicóloga, bruxa peruana que fala português) diz que ela é viva.
Não cabe mais vida dentro dela. É vida em excesso. Eu digo a besteira, não Luci.
Agora escrevendo sobre ela e ouvindo uma música que ajuda a fluir eu morro de amores. Vontade de sair com ela correndo e gritando por aí.
Desenlaçada de tantas coisas lindas que muitas vezes são malditas por nós.
Precisam ser.
Malditas, lindas e desenlaçadas.
A Lu é a amante.
Se um dia o tesão for demais a gente sai correndo e gritando. É a imagem que tenho. Correndo e gritando.
Imagina a cena. Coloca Cat Power pra tocar. É libertador.
Ela riria dessa falta de atitude.
Eu falo dela com todo esse amor e a leitura faz parecer que ela é uma maravilha. E é. E tenebrosa. Horrível. Cheia de vida. Aflita. Nada em paz, ocioso, repetido.
Tem horror a essas coisas deliciosas que não precisam ser pensadas, questionadas, produzidas. Que fluem deliciosamente.
Sem ela.
Pra falar bem a verdade, minha amiga é um saco.
Estraga a rotina.
Dá trabalho ser amíga, com acento no i.
Ela faz essa zona toda, a gente atordoa. Fica puto.
Sei lá que bruxaria peruana ela tem. Em dois minutos a zona, o atordoa e o puto não existem. Não é que ela conserta e a gente ameniza. Somem. Não existem.
Líquidos.
E de novo a imagem da gente correndo e gritando.
Você rindo de tudo que tenho de fixo, retrógrado, de mal gosto, velho e estável.
E eu te amo tanto.
E o melhor aniversário é ter você aqui de volta.
Rindo de mim e enchendo meu saco.
sábado, 27 de dezembro de 2008
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
sem nada melhor a dizer
Tendo um filho pequeno, de 11 meses, passei por alguns momentos diferentes que me deram uma mesma sensação.
É maravilhoso perceber que ele é diferente de tudo que adquirimos.
Portas, apartamento, carro, bolsa, roupa, avental, lençol, tesoura.
Tudo, tudo que adquirimos acumula marcas e acaba.
Dancei no pensamento.
Meu filho faz também esse caminho.
Não quero abrir mão. Meu pensamento é menos profundo, mais rápido e me explico.
Houve um dia, o pior de todos, que ele voou de cima do sofá e caiu de testa no chão. Foi a cena mais terrível que pude ver. Um tiquinho de gente, molinho, voando de corpo todo encima de uma testa. Estava ao lado. Ladinho. Não há tempo.
E dou um conselho: caso aconteça com você, feche os olhos e espere.
Pior do que a impossibilidade de ajudar é ver acontecer.
O registro, a imagem é uma crueldade.
Às marcas.
É bom demais perceber que ele não vai acumular galos, roxos, cortes, mordidas de bichos, picadas, o roxo do dedo preso...
É a mais forte, visível e idiota sensação de eternidade.
fim do segredo
Desde semana passada venho pensando em escrever algo para e sobre meu amigo secreto.
Cheguei até dia 23 sem uma palavra sequer.
Uma turbulência. Trabalhos atrasados. Tem duas entregas pra fazer. A internet não funciona.
Sair logo de casa. Gravar arquivos. Arrumar mochila. Mamadeira, fralda, protetor, roupa de calor, uma de frio, só pra ter.
Rapidinho. Tem que entregar hoje.
O choro quebra a atenção na tela.
Um colo pra ver o que há.
Sangue! Sangue na boca? Puta que pariu!
Taí algo comum e incompatível, sangue na boca de criança.
A mão boba de medo corre pro telefone. Gelo num plástico e dá pra ele morder.
A criança é boa e ri com a boca de sangue. Macabro.
A gente se acalma.
Terminar de arrumar pra sair. Esqueci o lenço umedecido.
Tá quase na hora do almoço dele. A chave tá aqui?
O dinheiro tem que pegar e deixar na mão. O celular também. Na mão não, no bolso da blusa.
Mochila nas costas, canguro na frente e sair.
Os arquivos… tá tudo aqui.
Sair.
Esqueci material em casa!
O motoboy chegou antes de tudo estar pronto.
A boca não sagra mais e não esqueci os lenços umedecidos.
Pra casa todo mundo.
Sono. Sempre sono.
Madrugada uááá.
Tenho que ser persuasiva: - Fechar o olho é muito bom!
Às vezes funciona.
De volta pro berço. iii, mexeu. Ah, dormiu.
Meu amigo secreto.
Tem que ser agora!
Um xixi antes.
Ai, Felipe sempre deixa o pote da escova de dente aberto.
Vou pensando.
Sentada em frente ao computador.
Vou começar assim, como se escrevesse no alto da carta.
M-i-n-h-a a-m-i-g-a s-e-c-r-e-t-a
Fico mais um tempo sem saber por onde ir. É difícil escrever sobre alguém. Ainda mais que quero escrever algo que diga alguma coisa.
Chega o marido. Ele não gosta de me ver fazendo coisas de madrugada.
Tem que ser agora.
Ele vai.
Ouço a voz dele. Vou até lá. Ele falou sozinho, confessa.
Deito ao lado pra saber.
Não dá mais pra levantar. Tinha que ser agora.
Uááá
Oito da manhã.
Mamadeira.
Persuasiva: Fechar o olho.
M-i-n-h-a a-m-i-g-a s-e-c-r-e-t-a,
entende eu não ter escrito antes, entende a turbulência, o trabalho que atrasou, uáááá, o sangue na boca, o puta que pariu, a motoboy chegar antes, o material que ficou em casa, a checagem dos lenços umedecidos, a mamadeira, o almoço, o sono, sempre o sono.
Minha amiga secreta é turbulência. É uma coisa atrás da outra. Pensa que tudo pode ao mesmo tempo.
Minha amiga secreta é de tirar o fôlego.
Tem um amor estupendo. Gritante. Falado. Espaçoso.
Tem também um silêncio inquebrável.
Como se o som tivesse a força da existência.
Tem a capacidade de assumir sozinha. Enfrentar silenciosa.
Construir força
E ressurgir reconstruída incrivelmente inteira e aos berros.
Preenche espaço.
Faz-se ouvir, ser vista, discutida e comentada.
Não dá pra ser pouca não.
Tamanho físico normal.
E magrinha.
Mãe daquelas.
Filho daqueles.
Dos melhores.
Uma imensidão quando é pra se defender.
E pra defender você.
Pois tem um amor estupendo. Gritante. Falado. Espaçoso.
Minha amiga secreta tem que ser agora.
Que venha o sangue na boca, os lenços umedecidos, a turbulência, o puta que pariu, o silêncio da dor e o retorno aos berros.
Pois sempre haverá o sono, sempre o sono.
E como iniciaria a carta, no topo, finalizo:
E-u t-e a-m-o m-i-n-h-a a-m-i-g-a s-e-c-r-e-t-a
E todo o amor que te tenho é por ser você assim de preencher espaço e não me deixar silenciar.
Não permitir que seja comedida ao te escrever.
Por ser você, Mari, esse furacão.
Cheguei até dia 23 sem uma palavra sequer.
Uma turbulência. Trabalhos atrasados. Tem duas entregas pra fazer. A internet não funciona.
Sair logo de casa. Gravar arquivos. Arrumar mochila. Mamadeira, fralda, protetor, roupa de calor, uma de frio, só pra ter.
Rapidinho. Tem que entregar hoje.
O choro quebra a atenção na tela.
Um colo pra ver o que há.
Sangue! Sangue na boca? Puta que pariu!
Taí algo comum e incompatível, sangue na boca de criança.
A mão boba de medo corre pro telefone. Gelo num plástico e dá pra ele morder.
A criança é boa e ri com a boca de sangue. Macabro.
A gente se acalma.
Terminar de arrumar pra sair. Esqueci o lenço umedecido.
Tá quase na hora do almoço dele. A chave tá aqui?
O dinheiro tem que pegar e deixar na mão. O celular também. Na mão não, no bolso da blusa.
Mochila nas costas, canguro na frente e sair.
Os arquivos… tá tudo aqui.
Sair.
Esqueci material em casa!
O motoboy chegou antes de tudo estar pronto.
A boca não sagra mais e não esqueci os lenços umedecidos.
Pra casa todo mundo.
Sono. Sempre sono.
Madrugada uááá.
Tenho que ser persuasiva: - Fechar o olho é muito bom!
Às vezes funciona.
De volta pro berço. iii, mexeu. Ah, dormiu.
Meu amigo secreto.
Tem que ser agora!
Um xixi antes.
Ai, Felipe sempre deixa o pote da escova de dente aberto.
Vou pensando.
Sentada em frente ao computador.
Vou começar assim, como se escrevesse no alto da carta.
M-i-n-h-a a-m-i-g-a s-e-c-r-e-t-a
Fico mais um tempo sem saber por onde ir. É difícil escrever sobre alguém. Ainda mais que quero escrever algo que diga alguma coisa.
Chega o marido. Ele não gosta de me ver fazendo coisas de madrugada.
Tem que ser agora.
Ele vai.
Ouço a voz dele. Vou até lá. Ele falou sozinho, confessa.
Deito ao lado pra saber.
Não dá mais pra levantar. Tinha que ser agora.
Uááá
Oito da manhã.
Mamadeira.
Persuasiva: Fechar o olho.
M-i-n-h-a a-m-i-g-a s-e-c-r-e-t-a,
entende eu não ter escrito antes, entende a turbulência, o trabalho que atrasou, uáááá, o sangue na boca, o puta que pariu, a motoboy chegar antes, o material que ficou em casa, a checagem dos lenços umedecidos, a mamadeira, o almoço, o sono, sempre o sono.
Minha amiga secreta é turbulência. É uma coisa atrás da outra. Pensa que tudo pode ao mesmo tempo.
Minha amiga secreta é de tirar o fôlego.
Tem um amor estupendo. Gritante. Falado. Espaçoso.
Tem também um silêncio inquebrável.
Como se o som tivesse a força da existência.
Tem a capacidade de assumir sozinha. Enfrentar silenciosa.
Construir força
E ressurgir reconstruída incrivelmente inteira e aos berros.
Preenche espaço.
Faz-se ouvir, ser vista, discutida e comentada.
Não dá pra ser pouca não.
Tamanho físico normal.
E magrinha.
Mãe daquelas.
Filho daqueles.
Dos melhores.
Uma imensidão quando é pra se defender.
E pra defender você.
Pois tem um amor estupendo. Gritante. Falado. Espaçoso.
Minha amiga secreta tem que ser agora.
Que venha o sangue na boca, os lenços umedecidos, a turbulência, o puta que pariu, o silêncio da dor e o retorno aos berros.
Pois sempre haverá o sono, sempre o sono.
E como iniciaria a carta, no topo, finalizo:
E-u t-e a-m-o m-i-n-h-a a-m-i-g-a s-e-c-r-e-t-a
E todo o amor que te tenho é por ser você assim de preencher espaço e não me deixar silenciar.
Não permitir que seja comedida ao te escrever.
Por ser você, Mari, esse furacão.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
o romance
e de repente foram oito anos.
existem as teorias quanto ao tempo.
eu não tenho nenhuma.
fracasso em teorias.
faço as minhas, muito medianas, me sinto um gênio.
não quero falar das teorias, talvez um pouco do tempo.
mas o assunto aqui é outro.
difícil enxergar coisas quando se mora junto há sete anos.
sempre me cobro.
esfrego os olhos, enxugo bem a orelha, abro e fecho a boca, a língua pra fora e volto a te ver.
nossa possibilidade surgiu há, claro, oito anos atrás.
eu em curitiba, ele, niterói.
2000.
fui na casa da minha mãe no interior e minha irmã lá viciada em internet.
minha nossa. foi fascinante a experiência.
voltei pra curitiba em delírio.
pedia de presente a um amigo. passar a madrugada na casa dele.
tudo na madrugada.
pagava um pulso só.
Ainda na casa da minha mãe, esqueci de dizer, entrei na sala de bate-papo.
cinema.
juliette binoche.
comecei a entender também que não era tudo fantástico.
na sala de cinema não soava nem disney.
teve uma discussão. eu me meti.
logo amello veio me dizer em segredo. não, não é esse o têrmo. reservadamente. isso.
concordo com você. e gostava do meu nome. não mariana. juliette que ele gostava.
não dava pra ficar mais.
ele e eu estávamos conhecendo aquilo ali. já detestamos.
trocamos e-mail. nos falamos depois. beijo. beijo.
aí sim. curitiba de volta.
ia sempre na federal, num laboratório de informática.
não sei se sabiam que não era aluna.
a gente começou a escrever e-mail. cada vez maiores.
não era aluna.
eu tinha um namorado. marcelo.
bonito o marcelo. gostava dele.
felipe (amello) tinha uma namorada. bonita. gostava dela.
ele, não eu.
ele há dois anos.
eu há meses.
marcelo tentou gostar de mim.
gostava do que eu era não de mim.
um tanto distante. mas divertido.
uma noite saí sem ele. distante.
do bar barulhento liguei no telefone que ele me deu. ele, felipe.
era tarde. tinha bebido. não existe o tempo depois de beber.
uma teoria.
ele atendeu. tinha bebido, ele também.
acabei de chegar.
ficamos falando alto e escancarados. a primeira vez que a gente se ouvia.
depois disso o telefone foi caro.
bom falar.
uma noite não dormi. dormi mas acordei.
o sono não voltava. virei. virei. peguei colchão, levei pra sala, virei, não vinha.
voltei o colchão pro quarto.
minha mãe liga.
meu pai muito doente.
doente ou morreu?
morreu.
viagem pra lá.
lipe me liga.
nos falamos no dia.
indo ver meu pai.
curitiba de volta. trabalho não tá moleza.
marcelo e eu nos afastamos. eu gostava dele.
ano dureza.
fui pra são paulo com a déa. ela conhecia lipe. como eu, no telefone.
liguei pra ele. ele tinha uma idéia. a idéia e a coragem que a idéia precisava.
passar o fim do ano juntos.
no rio de janeiro. com lipe, amello, da sala de cinema, do bate-papo, que gosta da juliette binoche, e teve uma idéia e a coragem que a idéia precisava.
rodoviária novo rio, 29 de dezembro de 2000.
faz sentido estar viva.
existem as teorias quanto ao tempo.
eu não tenho nenhuma.
fracasso em teorias.
faço as minhas, muito medianas, me sinto um gênio.
não quero falar das teorias, talvez um pouco do tempo.
mas o assunto aqui é outro.
difícil enxergar coisas quando se mora junto há sete anos.
sempre me cobro.
esfrego os olhos, enxugo bem a orelha, abro e fecho a boca, a língua pra fora e volto a te ver.
nossa possibilidade surgiu há, claro, oito anos atrás.
eu em curitiba, ele, niterói.
2000.
fui na casa da minha mãe no interior e minha irmã lá viciada em internet.
minha nossa. foi fascinante a experiência.
voltei pra curitiba em delírio.
pedia de presente a um amigo. passar a madrugada na casa dele.
tudo na madrugada.
pagava um pulso só.
Ainda na casa da minha mãe, esqueci de dizer, entrei na sala de bate-papo.
cinema.
juliette binoche.
comecei a entender também que não era tudo fantástico.
na sala de cinema não soava nem disney.
teve uma discussão. eu me meti.
logo amello veio me dizer em segredo. não, não é esse o têrmo. reservadamente. isso.
concordo com você. e gostava do meu nome. não mariana. juliette que ele gostava.
não dava pra ficar mais.
ele e eu estávamos conhecendo aquilo ali. já detestamos.
trocamos e-mail. nos falamos depois. beijo. beijo.
aí sim. curitiba de volta.
ia sempre na federal, num laboratório de informática.
não sei se sabiam que não era aluna.
a gente começou a escrever e-mail. cada vez maiores.
não era aluna.
eu tinha um namorado. marcelo.
bonito o marcelo. gostava dele.
felipe (amello) tinha uma namorada. bonita. gostava dela.
ele, não eu.
ele há dois anos.
eu há meses.
marcelo tentou gostar de mim.
gostava do que eu era não de mim.
um tanto distante. mas divertido.
uma noite saí sem ele. distante.
do bar barulhento liguei no telefone que ele me deu. ele, felipe.
era tarde. tinha bebido. não existe o tempo depois de beber.
uma teoria.
ele atendeu. tinha bebido, ele também.
acabei de chegar.
ficamos falando alto e escancarados. a primeira vez que a gente se ouvia.
depois disso o telefone foi caro.
bom falar.
uma noite não dormi. dormi mas acordei.
o sono não voltava. virei. virei. peguei colchão, levei pra sala, virei, não vinha.
voltei o colchão pro quarto.
minha mãe liga.
meu pai muito doente.
doente ou morreu?
morreu.
viagem pra lá.
lipe me liga.
nos falamos no dia.
indo ver meu pai.
curitiba de volta. trabalho não tá moleza.
marcelo e eu nos afastamos. eu gostava dele.
ano dureza.
fui pra são paulo com a déa. ela conhecia lipe. como eu, no telefone.
liguei pra ele. ele tinha uma idéia. a idéia e a coragem que a idéia precisava.
passar o fim do ano juntos.
no rio de janeiro. com lipe, amello, da sala de cinema, do bate-papo, que gosta da juliette binoche, e teve uma idéia e a coragem que a idéia precisava.
rodoviária novo rio, 29 de dezembro de 2000.
faz sentido estar viva.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
mama mia!

há pouco tempo venho atualizando esse espaço com certa frequência, sem trema.
tenho tido prazer em escrever.
uma descoberta estupenda.
muitas coisas que tenho a dizer serão ditas!
que sensação!
poder dizer sem precisar que alguém escute.
será dito.
pessoas, histórias, momentos fundamentais.
felipe diz que sou mais inteligente por escrito.
levo como elogio que dá menos trabalho.
me falta a habilidade da criação.
a constância.
minha mãe percebeu.
mãe serve pra parir, dar colo e amamentar.
depois que não pode mais.
percebe.
sou mãe também.
ainda dou colo.
ela, minha, gostou dos escritos que fiz.
a inconstância.
percebeu a inconstância.
atualização! segredo do sucesso, diz.
como não tenho o ofício.
escrevo esse texto bobo.
segredo do sucesso.
é bobo mas falta pouco.
parar no meio é demais.
mãe inicia tudo.
mas nesse texto bobo é pra acabar!
está na lista de assuntos a escrever.
sem precisar de alguém pra escutar.
mãe. (quase fim)
ela percebeu mais.
a primeira pessoa, a exposição, a dúvida do retorno.
tem que tomar cuidado.
percebe tudo.
um texto bobo em primeira pessoa pra minha mãe.
segredo do sucesso.
que não pode mostrar pras amigas.
minha mãe, desculpa.
eu, tonta, ainda dou colo.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
para meu amigo
Nessa quarta-feira, dia 10 de dezembro foi aniversário de Lucas.
Tito foi à creche, Lipe pra produtora e eu pro centro de Niterói. Fui comprar presente pra Tito. Encontrei Helena. Encontro gostoso. Fui almoçar com Ângela. Almoço gostoso. Beijinho fui pra Caixa Econômica, Itaú, volta pra Caixa. Acabou. Ônibus pra casa.
Sempre que chego em casa abro e-mail. Mensagem da Marina.
O gmail deixa saber as primeiras palavras: oi Mari, tô escrevendo infelizmente pra dar uma notícia triste.
Abri.
Pai de Fox, JB, faleceu.
Fox já está no avião, chega a noite.
Como agora, fiquei um tempo olhando pra frente...pro computador, pra mensagem, relendo.
A morte quebra a gente.
Liguei pra Lipe. Ele não sabia. Vamos falar com algumas pessoas e pedir que fale com outras.
Atropelado? Meu Deus.
Marcos liga, não morreu.
Meu Deus!
Tem chance de viver!
Seria tão bom se a morte não fosse definitiva.
Que fosse um reencontro a cada dez anos.
Áurea avisou, não morreu!
Fox está no avião com a notícia da morte.
Tem que viver!
Ia dar a notícia a ele, a Marina - foi engano!
Aconteceu com um amigo meu. Ele morreu. Não tem conversa. Muito tempo depois, estou dormindo, já em Niterói, o morto me liga no celular. Vi fantasma. Pra ver fantasma basta ouvir sua voz. Foi mais horrível que a notícia da morte.
Agora não seria.
Tem que viver!
Fiquei em casa, escrevi e-mail resposta pra Marina. Nos falamos on-line.
Cada hora uma informação diferente.
A esperança dói. Mais que a notícia de morte.
Faleceu.
Não tem conversa.
Definitivo.
Dói mais agora.
Chegou de viagem. Foi pro hospital. Amigos pra lá. Tudo parece mais frágil. Vejo se Tito está bem. Dorme.
Marina foi dormir, desligou skype, gmail. Vamos dormir.
Cedo ligo pra Lili. Pode ficar com Tito? Saímos.
Almoçamos e fomos pra câmara municipal. 11 horas? Não, uma.
Júlia liga, não tem ninguém conhecido, Fox não está.
Já estamos chegando.
Na câmara encontramos os amigos. Ainda não liberaram. Todo mundo espera. Tem sol, mormaço. Conversamos. Fazemos silêncio. Esperamos Fox. Chega uma kombi com o caixão.
Atrás, andando, de óculos escuro, chega. Imagem doída, exausta.
Todo mundo concentra.
Machuca te ver.
Não pude dar a notícia que queria.
O peito pede abraço. O abraço é pouco.
O que ele vive, o tamanho do que ele vive.
A lembrança de te ver chegando é uma das mais lindas e doídas.
Tudo vai andar.
As pessoas vão dizer outras coisas.
As coisas vão ser ouvidas.
A morte não anda.
A lembrança de te ver chegando...
Quisera poder aliviar você dessa.
Quisera não ter a lembrança de te ver chegando.
Não tem conversa.
Eu te amo, amigo, é definitivo.
Tito foi à creche, Lipe pra produtora e eu pro centro de Niterói. Fui comprar presente pra Tito. Encontrei Helena. Encontro gostoso. Fui almoçar com Ângela. Almoço gostoso. Beijinho fui pra Caixa Econômica, Itaú, volta pra Caixa. Acabou. Ônibus pra casa.
Sempre que chego em casa abro e-mail. Mensagem da Marina.
O gmail deixa saber as primeiras palavras: oi Mari, tô escrevendo infelizmente pra dar uma notícia triste.
Abri.
Pai de Fox, JB, faleceu.
Fox já está no avião, chega a noite.
Como agora, fiquei um tempo olhando pra frente...pro computador, pra mensagem, relendo.
A morte quebra a gente.
Liguei pra Lipe. Ele não sabia. Vamos falar com algumas pessoas e pedir que fale com outras.
Atropelado? Meu Deus.
Marcos liga, não morreu.
Meu Deus!
Tem chance de viver!
Seria tão bom se a morte não fosse definitiva.
Que fosse um reencontro a cada dez anos.
Áurea avisou, não morreu!
Fox está no avião com a notícia da morte.
Tem que viver!
Ia dar a notícia a ele, a Marina - foi engano!
Aconteceu com um amigo meu. Ele morreu. Não tem conversa. Muito tempo depois, estou dormindo, já em Niterói, o morto me liga no celular. Vi fantasma. Pra ver fantasma basta ouvir sua voz. Foi mais horrível que a notícia da morte.
Agora não seria.
Tem que viver!
Fiquei em casa, escrevi e-mail resposta pra Marina. Nos falamos on-line.
Cada hora uma informação diferente.
A esperança dói. Mais que a notícia de morte.
Faleceu.
Não tem conversa.
Definitivo.
Dói mais agora.
Chegou de viagem. Foi pro hospital. Amigos pra lá. Tudo parece mais frágil. Vejo se Tito está bem. Dorme.
Marina foi dormir, desligou skype, gmail. Vamos dormir.
Cedo ligo pra Lili. Pode ficar com Tito? Saímos.
Almoçamos e fomos pra câmara municipal. 11 horas? Não, uma.
Júlia liga, não tem ninguém conhecido, Fox não está.
Já estamos chegando.
Na câmara encontramos os amigos. Ainda não liberaram. Todo mundo espera. Tem sol, mormaço. Conversamos. Fazemos silêncio. Esperamos Fox. Chega uma kombi com o caixão.
Atrás, andando, de óculos escuro, chega. Imagem doída, exausta.
Todo mundo concentra.
Machuca te ver.
Não pude dar a notícia que queria.
O peito pede abraço. O abraço é pouco.
O que ele vive, o tamanho do que ele vive.
A lembrança de te ver chegando é uma das mais lindas e doídas.
Tudo vai andar.
As pessoas vão dizer outras coisas.
As coisas vão ser ouvidas.
A morte não anda.
A lembrança de te ver chegando...
Quisera poder aliviar você dessa.
Quisera não ter a lembrança de te ver chegando.
Não tem conversa.
Eu te amo, amigo, é definitivo.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
aos poucos

Maior é deus do céu e nada mais, aiai aiai
Quando vem o aiai vira adeus belém do pará.
Hoje foi o primeiro dia depois do fim do workshop.
Processo de formação do grupo Fúria.
O melhor e o pior de um processo teatral são as pessoas.
Importa claro uma boa idéia, o texto do domingos que é demais, a
direção, os truques, a produção, a técnica. Mas nada vale se falta
material. Humano. Ou se sobra.
Nosso grupo. Chamo de nosso pois domingos é generoso. É farto. Mais do
melhor. Pelo que a pouca sensibilidade capricorniana deixa saber.
A primiera grande descoberta foi no primeiro encontro no Laura Alvim.
Sentada esperando sem saber se era pra esperar, vi uma careca e uma
careca fascina qualquer um. Fiquei olhando pra ela (careca) e quando
me disse o nome – fez curso com a ana kfouri? Ela ainda não era careca
mas como esquecer do nome dela, justamente onde tínhamos passado um
tempo num mesmo processo, GLAUCE rocha. curso da ana, ou kfouri, não
sou íntima então melhor não tentar ser. Ana kfouri.
Na volta do primeiro dia encontrei na Van uma pequena tagarela, Opa!
Gente de niterói. Companhia. Falou, falou impressões, falou vida
artística, falou agenda lotada, falou cachorro, falou mãe, falou pai,
falou LUIZA, a chuchu ou xuxu (como diz a poeta as palavras podem ser
qualquer coisa). Eram duas companheiras de viagem de ponte, tinha
também alguém mais quieta. A princípio. Tem nos dedos a fala. Por
e-mail é uma matraca. 33. Lembro desse número. Estava em outro
processo e esbarrou em domingos. BIANCA.
Outra grande descoberta foi GABRIEL. Voltamos falando sobre o que
pensávamos em relação à arte, era a primiera volta no
fusquinha-que-tem-corrente-no-voltante, fiquei encantada com a ligação
e relação dele com a arte, pensando muito em aproximá-lo do pessoal
que conheço. Niterói também. Bairro próximo. Surge a novidade. Eram
mais próximos ele e o "meu" pessoal do que eu de qualquer um deles.
Aí tem uma que na verdade veio antes mas depois. Gravei o nome na
entrevista no pensionato. Ela começou dizendo sou poeta. Definitivo.
Uma poeta bem perto de mim. Alguns dias de curso a gente sentou
próxima e depois disso o caminho afunilou. Nunca escrevi essa palavra.
Afunilou. Tá certo, não tá? Vem de funil. A poeta é RACHEL, pros
desconhecidos.
Aí teve aquela saída, aquelas cervejas. Há um mês falo nisso. Até hoje
sinto uma pontada de dor na cabeça. Tenho 30 e um filho de 10 meses.
Maior bomba.
Na saída o pessoal foi saindo. Vindo. Na verdade voltando. E fiquei
conversando com algumas pessoas que não tinha me aproximado.
Fiquei ali no balcão pegando um tanto de cada cerveja aberta pelo
homem gordo que serve mas tem pinta de dono. Gordo sempre tem pinta de
dono. E conversando com ele sobre as linguiças dependuradas,
empretejadas (como diz a poeta, pode) que tinham no nosso bar. todo
bêbado acha que é sócio. Isso quando é boteco. Se for de marca não,
necas. Botequeiro ele. Pediu até uma porçãozinha de sabe lá o que no
boteco das linguiças do gordo. KAMEL que é magro.
Logo depois sentei, canso logo de estar em pé.
Estavam mais três pessoas sentadas também. Um deles já conhecia à
distância, lá de cOritiba (pra ser cortês). Ele estava atuando em SP.
Fazendo pra lá e pra cá. Saiu pra pegar um táxi, horário do ônibus na
rodoviária. Ele ia e voltava no dia seguinte, ou na outra manhã. Era
isso? Muito preparo. ADRIANO.
Aí tinha uma sardentinha. Se não tiver as sardas tem o rosto pronto
pra elas. Mudamos de teatro pra filhotes. O dela maior que o meu. Isso
já define o papo. Eu pergunto ela responde. POLINHA, PAULA para os que
conhecem rachel ou têm falta de orkut.
Ao lado um minerim. Falamos um pouco de minas. Daquele jeito que todo
mundo sabe e repete. Di miiinassss. No outro dia acordei na residência
minêra. Afe! Dor de cabeça atè hoje. MARCELO, o pires.
Aparece uma de cabelo de bolina, preto, preto, preto. Parecia quicar.
Não sei se quicar é com qu. seria como? Assim mesmo, quicar. Convence
uma porção de gente sobre uma festa. Todo mundo vrum. Na festa chega
sacudindo, sobe, sobe, pista de dança, quica, sacode até a memória
falhar, a minha. JANAÍNA, JANA.
Depois ela. Próxima. Não estranha. Abraça, beija, morde. Não me mordeu
mas aposto que morde. Ri grande com muitos dentes. Tem que morder. A
dela é maior que o meu. Eu pergunto, ela responde. ALETA.
(continua - outro dia)
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
com domingos há
em algum momento do curso ouvi que havia um diário, um registro por
escrito sendo feito.
hoje, depois de ontem ter sido ontem, escrevo.
essa semana recebi um e-mail do luis.
no e-mail havia uma cena do espetáculo do domingos. cena 2. havia uma
letra, acho que a. 2a.
baixei o arquivo e li no corpo do e-mail mariana: vida. glauce: mefisto.
logo em seguida recebi um e-mail da glauce, maaaaari, nós duas. não
poderia ser melhor.
baixado o arquivo. li o texto. beleza. decorar.
enquanto decorava pensava em intenções variadas, movimentos e pensava
que o importante era manter o corpo solto. sempre penso isso. corpo
solto. o corpo tando solto dá pra fazer e desfazer. ficou muito bom.
pena que vocês não viram!
ontem teve curso. as cenas iam sendo feitas. 2a. glauce e marina.
marina ou mariana? mariana.
ia ser muito bom.
corpo solto.
concentra.
glauce entra. legal!
é a vez de dizer.
não soltou.
domingos fala, tem outra vez a cena.
o corpo esquisitíssimo.
entra na da glauce!
puta de vida.
não foi.
próxima cena. acho que 2b.
intervalo. um café.
algumas cenas depois. domingos fala.
domingos é aquela pessoa que de vez em quando acho que tá de bobeira,
não tá muito ligado.
domingos também é uma pessoa que todas as vezes que penso que ele tá
de bobeira ele tá ligadão.
Ele falou.
incrível.
falou que a gente fica burro em cena. ele sabe simplificar.
não parou não. disse mais.
falou que é pra ter prazer.
só isso.
é ululante
domingos simplifica, diz e a gente escuta.
depois fomos tomar uma cervejinha. de leve. no bar aqui perto. tem
nome o bar. tava cheio e fomos pro pé-sujo das linguiças.
há 9 meses e meio não bebo uma cerveja assim, sem hora.
tem festa, diz janaína.
estou no carro do marwin indo pra festa. há 9 meses e meio.
aleta me abraça por saber que tenho um filho. aleta é a vida.
luis me acorda. aleta e marwin. são dez da manhã. há 9 meses e meio.
descemos.
tem uma feira.
eles avisam que estamos na gávea. achava que era ipanema.
beijo neles.
tomo caldo de cana.
pego o 996. niterói.
desço no centro. vou almoçar no mac donald`s. compro uma mac oferta e
um sorvete.
passo mal. não dá pra comer. dou tudo pra um moço que varria o
terminal. ele vai ter que tomar o sorvete antes do sanduíche.
pego ônibus pra casa. durmo.
chego em casa. durmo. meu filho está na escolinha.
acordo quatro da tarde. tomo um banho pra ele não me ver com essa cara.
há nove meses e meio.
escrito sendo feito.
hoje, depois de ontem ter sido ontem, escrevo.
essa semana recebi um e-mail do luis.
no e-mail havia uma cena do espetáculo do domingos. cena 2. havia uma
letra, acho que a. 2a.
baixei o arquivo e li no corpo do e-mail mariana: vida. glauce: mefisto.
logo em seguida recebi um e-mail da glauce, maaaaari, nós duas. não
poderia ser melhor.
baixado o arquivo. li o texto. beleza. decorar.
enquanto decorava pensava em intenções variadas, movimentos e pensava
que o importante era manter o corpo solto. sempre penso isso. corpo
solto. o corpo tando solto dá pra fazer e desfazer. ficou muito bom.
pena que vocês não viram!
ontem teve curso. as cenas iam sendo feitas. 2a. glauce e marina.
marina ou mariana? mariana.
ia ser muito bom.
corpo solto.
concentra.
glauce entra. legal!
é a vez de dizer.
não soltou.
domingos fala, tem outra vez a cena.
o corpo esquisitíssimo.
entra na da glauce!
puta de vida.
não foi.
próxima cena. acho que 2b.
intervalo. um café.
algumas cenas depois. domingos fala.
domingos é aquela pessoa que de vez em quando acho que tá de bobeira,
não tá muito ligado.
domingos também é uma pessoa que todas as vezes que penso que ele tá
de bobeira ele tá ligadão.
Ele falou.
incrível.
falou que a gente fica burro em cena. ele sabe simplificar.
não parou não. disse mais.
falou que é pra ter prazer.
só isso.
é ululante
domingos simplifica, diz e a gente escuta.
depois fomos tomar uma cervejinha. de leve. no bar aqui perto. tem
nome o bar. tava cheio e fomos pro pé-sujo das linguiças.
há 9 meses e meio não bebo uma cerveja assim, sem hora.
tem festa, diz janaína.
estou no carro do marwin indo pra festa. há 9 meses e meio.
aleta me abraça por saber que tenho um filho. aleta é a vida.
luis me acorda. aleta e marwin. são dez da manhã. há 9 meses e meio.
descemos.
tem uma feira.
eles avisam que estamos na gávea. achava que era ipanema.
beijo neles.
tomo caldo de cana.
pego o 996. niterói.
desço no centro. vou almoçar no mac donald`s. compro uma mac oferta e
um sorvete.
passo mal. não dá pra comer. dou tudo pra um moço que varria o
terminal. ele vai ter que tomar o sorvete antes do sanduíche.
pego ônibus pra casa. durmo.
chego em casa. durmo. meu filho está na escolinha.
acordo quatro da tarde. tomo um banho pra ele não me ver com essa cara.
há nove meses e meio.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
educare
sábado, 31 de maio de 2008
domingo, 4 de maio de 2008
quase nada em tudo que foi...quase tudo em quase nada que faz
hoje, dia 04 de maio de 2008, volto a escrever sem muita pretensão, sem muita perspectiva com meu escrito.
Vivi algo intenso dentro da minha família, vivo algo intenso dentro da minha família, e sinto falta da minha família...
A minha família toda é minha família, nada dela é disfarçável...
Tenho me visto tão pouco, me imaginado quase nada.
Sou algo, sou além de mim.
Meus olhos pouco olham pra dentro, estou disposta a te ver.
Vivi algo intenso dentro da minha família, vivo algo intenso dentro da minha família, e sinto falta da minha família...
A minha família toda é minha família, nada dela é disfarçável...
Tenho me visto tão pouco, me imaginado quase nada.
Sou algo, sou além de mim.
Meus olhos pouco olham pra dentro, estou disposta a te ver.
domingo, 13 de janeiro de 2008
trans-forma-ação
Em meio a tantas "naturais" parece que me exijo alguma proposta por mim.
Talvez entre hormônios esteja me confundindo.
Talvez seja mesmo isso de entre tantos, ir além.
Além, nem frente nem trás.
Investigar.
Talvez entre hormônios esteja me confundindo.
Talvez seja mesmo isso de entre tantos, ir além.
Além, nem frente nem trás.
Investigar.
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