quinta-feira, 7 de maio de 2009

algumas coisas simplesmente não vão

É incrível essa sensação.
Existem coisas de todos os tipos que deixam de acontecer sem motivo algum.
Deve haver algum, que não faz sentido nenhum.
Já sentiu isso?
Quando não dá pra questionar? Vai ser!
É tão óbvio.
E numa contradição estúpida, pára.
Olhando pra trás você vê.
Pára.
Não vai.
Não anda.
Parece impossível.
Não há
o que
fazer
Fica.
Só.
.
Algumas coisas simplesmente são não.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Leitura e comentário

Quando abri esse espaço, esse blog, pretendia um estímulo a escrever, um lugar público que me sugeria mais um esconderijo que outra coisa.
Não houve o entusiasmo que pretendia.
Escrevia um pensamento.
Meses depois uma foto.
No fim do ano passado repercebi a escrita, e a função que ela tem pra mim.
Chegar onde não chego de outra maneira.
Sou ruim em dizer.
E tímida ao fazer um elogio.
E burra pra encontrar verbalmente o que me mexe tanto no agora.
E mais que tudo, sou lenta.
Preciso de um tempo de absorção.
E vai acumulando o que precisa ser dito.
A escrita me traz esse poder.
Me altera a comunicação.
Um recurso.
O que altera muito o modo de levar minha vida.
O que possibilita ir por onde desconheço.

Se te alcanço ou não é outra questão: competência.

Tenho recebido apoio de pessoas que admiro.
Comentários que mantém o fluxo desse espaço.
Comentários que vêm por e-mail, telefone.
Não são tantos, os meios que variam.

Muitas vezes comentários com tanta dedicação que valem por si.

Esse apoio, esse retorno sincero me faz menos vira-latas.
Me faz até acreditar que posso escrever pra que alguém leia.

Eu quero agradecer muito, quero dizer muito obrigada, mesmo!

O cheiro que tenho em casa

Há algum tempo tenho trabalhado mais do que gosto.
Dormido menos que preciso também.
E minha casa está de chorar.
Troncha, desarrumada.
Como eu.
Dou um jeito aqui e ali e ela parece mais clara, melhor.
Alguém que chega acha limpa.
Como a mim.
E minha casa está de chorar de verdade nos lugares mais difíceis.
Claro.
Preciso chamar Elaine que enxerga e alcança cada grude antigo, o pó de cima, o debaixo e aquela sujeira enorme de tempos, dentro de cada porta aberta na minha casa.
Como as minhas.
Que Elaine não vê.

Ontem terminei um trabalho três da manhã.
Meu olho um rasgo vermelho.
Os homens da casa roncavam.
Pra começar o que Elaine não alcança, um banho quente.
Precisava daquela água.
Do silêncio do ronco.
Do escuro.
Fiquei ali tempo infinito.
Talvez o rasgo vermelho tenha aumentado.
Saí com dificuldade.
Preciso do sono, pouco sono que vou ter.
E antes a mochila do filho arrumada.
Blusa de manga curta.
Bermuda pra cobrir mais e nem tanto.
Separei as usadas.
Tenho o impulso de lavar o que não sai do varal.
Senti o cheiro.
Aquele cheiro um que nem consigo saber.
Maior que posso.
Que não se lava.
Que não o do mercado que comprei pra Elaine deixar depois de ir.

procuro-me

sábado, 2 de maio de 2009

hoje


Sou outra trilha.
Ao sol!

quinta-feira, 30 de abril de 2009

terça-feira, 28 de abril de 2009

encontro

Gostaria de escrever algo sobre essa sensação do encontro.
Gostaria de tocar com alguma letra aquele espaço do organismo que é mexido e movimentado quando há o instante.
Que carrega o pensamento e a sensação, o desejo. Mexe no atrevimento, na falta de senso, no irresponsável, no que está depois e entorno.
Ele, o e não um, te faz o encontro com a você que você tem de melhor.
Te faz mergulhar no seu próprio universo, no que ficou, no que está, no que precisa que seja.
E é rápido, vai passar. Páro de escrever para nadar.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

domingo, 5 de abril de 2009

hoje é dela


Não gostou de esperar.
Fiz esse pedido de aguarde na segunda-feira.
Na quinta recebo a notícia hospital, internada, uti, pressão lá em cima.
Quarto 201 como o apartamento que vivo. Ufa.
Dia dela.
Ela, minha mãe, são várias.
Não tenho cacife pra todas, escolho uma.
A que escreve. A que compõe. São a mesma.
Não posso dizer que as conheço realmente, nenhuma das duas.
Posso falar que estiveram e permanecem comigo desde que não me lembro.
Fico apavorada.
Isso nada tem a ver com a mãe do dia-a-dia, uma chatice.
Essas que permanecem são doídas, de fisgadas, daquele amor visceral que não acha espaço no corpo, daquele tipo de amor que não se aguenta pensar, que faz parte daquela parte da vida que só dá pra viver.
É antes de mim.
Elas fizeram minha construção toda.
Me salvaram. Fizeram de mim maior do que poderia.
Outras pessoas me contruiram, ela me rascunhou, ilimitou.
Não poderia ser outra você, vocês.
Não há como me pensar sem o colo, a liberdade, os beijos, mordidas, bichos, costumes, o jeito de fazer, a falta do jeito, o medo da chuva e a lembrança de quando ameaçava me comer como um porquinho.
Minha mãe é maior do que pode.
Ela precisa de Marte, da população extra-terrestre.
Deixou a música. Acho que a escrita também.
Foi pro hospital. Pra UTI. Hipertensão, talvez coração, talvez dessa dor que faz parte daquela parte da vida que só dá pra viver.
Você é tudo que faço, tudo que escrevo, tudo que gosta, que não, que te aflige, que te espanta.
Essencialmente sou maior do que sou.
A culpa, sempre da mãe.

sábado, 4 de abril de 2009

cansa, não enfraquece

Começo com um pão de queijo pra conseguir emagrecer.
São cinco e meia da manhã.
Ontem a noite fiquei na cama lendo. Há mais ou menos 1 ano e meio que não faço isso.
Nesse último ano não passava da metade da primeira página.
Em qualquer tentativa. Manhã, tarde ou noite.
Tentei os contos.
Poemas. As notícias.
As orelhas dos livros até que andaram. Duas noites e fechado!
O mal dessa mãe é além do sobrepeso, ler deitada.
Não posso entender a mesa na leitura.
Meu umbigo precisa estar pro céu. E pra terra logo depois, bruços.
É assim.
Barriga pra cima, ler.
Pra baixo, mais meia página, fecho olho e orelha.
Esse livro de ontem tem agora 1 mês. Como esse escrito.
Nunca mais abri.
Nenhum.
Há tempo.
Tenho a paciência do permanente.
Enquanto isso tenho comigo a melhor história, que acompanhei desde o rascunho.
Há mais ou menos 1 ano e meio.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Aiaa


Faz tempo tenho vontade de me concentrar em minha mãe pra escrever.
Algo pra ela e pra mim. Uma vida de coisas.
Tenho estado desconcentrada.
Com sono também.
O texto encontra espaço depois da uma.
A questão é que quero que minha mãe saiba e espere.
Eu vou escrever!
Hoje preciso agradecer um agradecimento.
Há algum tempo atrás, quanto tempo será? Talvez dois, três anos. Independe.
Fui convidada a participar de um projeto de uma menina que, segundo quem me convidou, estava querendo adaptar um texto, era dela o texto.
Com os médios anos que tenho, conquistei uma série de liberdade e uma porção de preconceitos, pena.
Quando me convidam para um projeto de alguém eu tenho o entusiasmo do não.
Tantos projetos inacabados participei.
Veio a certeza de mais um.
Enviaram o texto e ficou ali por um tempo, em anexo.
Preconceito.
Aí naqueles dias de espera de nada em frente ao computador, download.
Parece bacana.
E é bom!
Bom texto da menina!
Reunião marcada e foram alguns bons encontros.
Não sou lá a pessoa mais sensível, a praticidade ocupa espaço maior.
Mas olha, quando eu sinto que o negócio não vai...
Não foi.
Era encontro pras pessoas se encontrarem.
Nesse momento estava um tanto distante, envolvida com outras coisas que não lembro quais. Tudo bem.
Todas as peças mudaram de lugar, umas foram pra lá, outras mais pra perto.
Estava grávida! Lembrei agora.
Não tinha pique, minha cabeça estava na barriga e na afirmativa: "não vai sair!"
O projeto pausou, a gravidez seguiu, Tito saiu e com influência de Lucía veio uma idéia.
Não lembro bem se contei a ela sobre essa influência. É que se contei foi naqueles dias de mulheres e cerveja, não memória.
Lucía sempre me cutucou com a questão de usar como material artístico situações, personas do dia-a-dia. Aquilo que te movimenta - seu tema - diz ela.
Fiquei atrás disso.
Não saiu quase nada.
Veio no entanto a vontade,a ansiedade de mostrar ao pessoal distante como era Tito.
Pedi orientação ao cineasta da casa e arrisquei na edição.
Que prazer foi aquilo.
Mandei pra todo mundo, minha irmã sugeriu o nome e virou produto.
Não foi bem isso que Lucía tinha me dito.
Tinha decidido que ia passar a ganhar dinheiro. Pois é.
Quando descobri a edição senti um prazer enorme pelo poder que ela dá, senti um prazer imenso por se poder guardar, ver depois, mostrar, prazer estupendo pela grandeza e pela independência. Descobri o prazer de trabalhar sozinha.
Mas tinha que vir alguém.
Eu posso jurar, mesmo que não convença ninguém, pois a primeira pessoa que pensei foi ela. Aquela menina do texto bom. Que vi algumas vezes há alguns anos.
Não aceitei tão fácil.
Uma escolha difícil. Não era óbvia. Desconhecida, quase.
Eu não sou lá a pessoa mais sensível, mas quando eu sinto que o negócio vai.
Não tinha jeito. Ela ficou presa ali na cabeça.
Chamei ela pra conversar. Pensei que fosse estranhar, pensar - disse sim!
A Tati. Aiaa. Sósia. Tatoca.
Tatoca é um movimento inteiro.
E inteiro parece pedaço pois a palavra é um tico.
A Tati é iiiinnnnttttteeeeiiiiirrrraaaaaa.
É o tango!
Algumas palavras parecem mais fracas do que são.
Vale.
Aiaa parece também mais fraca do que é.
Ela é sim um furacão. Uma tempestade.
É uma aflita.
Estrondosa.
E doce. Gentil.
Minha sósia é urgente.
Se não desse em outro caminho gostaria de dizer: Emergente!
É a Lóri da Clarice.
Adoro que seja agora o que temos a fazer.
Tati é confiança.
Eu, vira-latas, tenho vergonha que gostem do que faço.
A Tati adora.
Ela é rainha. A sócia aristocrata.
Eu tenho o maior prazer no nosso convívio.
Fico feliz mesmo nos nossos dias difíceis. Inteiros, vivos.
Confesso que eu não faria quase nada por você se não fosse tanto assim.
Eu não sou lá a pessoa mais sensível...

domingo, 22 de março de 2009

minha sensação de fim

Com exceção da minha relação com meu filho que chega a queimar, tenho a sensação que as relações foram resfriadas. Entupidas.
Alguma conexão perdida.
Como se a peça de encaixe não estivesse.
Minha sensação de fim de mundo.
Os maiores amores estão quase, estão sub.
Entupimento.
Quieta, escondida no lençol.
Que o desespero de um beijo e uma dança me faça levantar.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

percursos

um exercício

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

carne vale


O carnaval me movimenta.
Eu acho estranho que me mexa tanto.
Fiquei aqui pensando alguma coisa sobre isso e pouco sei pensar.
Enquanto escrevo vou formando alguma idéia.
Às vezes não. Mas às vezes, claro, às vezes sim.
Vieram dois pensamentos.
Uma característica do carnaval é a quebra da rotina.
É outra rotina. Conhecida de todo mundo. Que não muda.
No Rio são os blocos de rua.
Na tevê têm as escolas de samba durante a noite.
Nas ruas de qualquer lugar fantasia e som de tambor.
Todo mundo já sabe.
Saias curtas, coragem e pintura na cara.
Uns brilhos.
Nascemos e já era assim. Não muda nada.
Talvez um pouco de um lugar pro outro. Muito pouco.
A outra rotina, conhecida, que não muda e é fascinante.
A possibilidade de sair do nosso dia-a-dia chato pra caralho. (é carnaval!)
De quebrar a nossa cara fixa, de movimentar o corpo que você não gostava.
A deliciosa rotina carnavalesca de acordar cedo, escolher a cor da maquiagem que você nunca usou, de colocar o enfeite na cabeça que acha patético, mostrar suas estrias indecentes, tomar um gole de cerveja no lugar do café, esquecer a hora do almoço.
A flexibilidade do carnaval.
A instabilidade que pode iluminar ou fazer cair.
É essa a delícia de estar em carnaval.
É essa a delícia!
Havia dois pensamentos. Esse me serviu tanto que o outro foi sambar.
Vamos?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009


Preciso dizer que meu corpo tem algumas rachaduras.
Que elas estão doídas hoje.
São buracos que posso cobrir ou enfiar pontas pra ver o sangue sair.
Enfiei. Enfiaram.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

um Kaspar Hauser

Passei anos da vida sendo nada.
Isso parece profundo mas não é nada.
A vida me foi inteira quando criança.
Grama, fruta do pé, terra, água, os vizinhos, bola na rua, rio paraná e família grande, boa de visitar.
Parece aqui bláblá de tia velha mas são imagens quentes na memória e no corpo.
Aí os anos vazios. Adolescência.
Decisivos.
Meninos, amigos, insegurança.
Quanto mais desinteresse, mais interessante.
É hora de preconceitos, discurso pronto, rir do amor, dos velhos, da professora careta, ouvir janis, cheirar loló e definir: você é demais, ou fracasso.
Aos 17 fui morar em outro lugar.
Chorei meses.
Eu era demais.
Conheci gente legal quando ia fumar no intervalo da aula, passou rápido.
Fim do ano vestibular em Curitiba.
Nunca soube física ou matemática. Nem geografia sabia.
Fiz prova de interpretação. Improvisação.
Não abri a boca, não soube abrir.
Passei.
Não contei a eles que nem história eu sabia.
Greve. Fiquei mais tempo na cidade de meus pais.
Alienada que sou não sabia que a gente faz algo na greve.
Cheguei depois. Não entendia nada.
Nem o formato da faculdade.
Tão pouco, nem perguntar eu sabia. Não formava frase. Não sabia o que eu não sabia. Quieta.
Platão!
As pessoas diziam.
Era com intimidade.
Fiquei de fora.
Sem perguntar.
Não sabia, um personagem de Shakespeare, figura mitológica, teatrólogo?
Quieta.
Nem o formato sabia.
Falava quando assunto besta.
Jeito de sobreviver.
Assim por dois anos. Rindo. Besta.
Gostava do que liam, como falavam. Eu não podia.
As coisas andaram. Ignorei a maior parte.
Pensei em sair. Não tinha talento, sabedoria.
Fiquei.
No terceiro ano entrou uma professora nova. Sueli. Invocada. Durona.
Perguntou pra cada um o que pensava em alcançar praquele ano.
Eu disse rápido: Perder o medo.
Vergonha enorme de ter dito.
Do medo, dos amigos que sabiam, agora.
Como se levantasse a saia e baixasse a calcinha rápido!
Foram duas montagens no ano.
A primeira me diverti.
Com medo ainda. Menos. Sem talento.
Ela disse: - canastrona.
Isso eu aprendi.
Canastrona era pra desistir!
Eu senti que estava indo. Quieta.
Queria o prazer.
A segunda montagem enlouquecedora.
Tinha a imagem, o som. A idéia. Era boa a idéia.
Meu corpo não sabia aquela imagem. Meu som idéia frouxa.
Momentos que sim. Perdia em seguida.
Sem talento. Nem sabedoria. Momentos.
O prazer deles viciante.
E o dia da estréia, acho que uma apresentação só.
O maior prazer meu no palco.
Sem medo. Primeiro momento sem medo.
A idéia ali. Nos dedos, na palma da mão.
Uma imagem. Não correta. Viva.
Ali pude falar. Dizer que não sabia.
Ela me viu, vi ela me vendo.
Me reconheceu.
Queria que me visse.
Quis nascer ali, na forma que pude.
Sem vergonha, talento ou sabedoria.
Como pude.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009


Hoje foi mais um dia que passou por cima de mim.
Diversos ônibus pra alcançar o rabo do tempo.
Algo que eu gosto muito nesses dias. Dos ônibus.
Um momento de ficar olhando a cidade, pensando alguma coisa.
Na maior parte coisa nenhuma.
Em alguma dessas viagens pensei bastante em algo pra escrever. O que poderia me fazer escrever.
Eu escrevo a maior parte das coisas pra dizer alguma coisa que eu queira e não consigo ou não posso.
Como o dia foi um desses que atropelam, cheguei em casa tarde.
Chegar em casa é um dos maiores prazeres.
Chegar em casa depois de um desses dias sem almoço.
Chegar em casa depois de um dia assim, com um sol desse de fechar o olho.
Chegar em casa, encontrar meu melhor filho sorrindo de boca inteira é de lascar, de fechar o olho, dos maiores prazeres!
Escrever agora uma da manhã sobre ele que não me deixa escrever.
UM ano!
Já faz um ano que a gente convive, negocia, fecha acordos, surpreende.
Faz hoje, dia 21, UM ano que vivi momentos que lembro com som, lembro o cheiro.
O ritmo do meu corpo era outro. O pensamento não achava espaço.
Ou se achava era uma pequeneza.
O corpo agia, sem parar. Bicho.
Meu menino faz UM ano.
Se movimenta pela casa, fala algumas coisas, gargalha, encara, entende a malícia, o suspense e tudo que a gente conversa com ele.
Chora grosso.
Conhece Curitiba, Campinas, Toledo, Foz e Umuarama. Rio Bonito de Cima. O rio, o mar, a piscina do prédio da madrinha.
A escola também.
Minha criança tem um olho de enlouquecer, um sorriso de boca inteira.
Quase todos os dentes que a idade deixa.
A pele parece brincadeira e o tamanho de quatro gavetas.
Largou o peito, a chupeta.
É cuidadoso. Só come o que cabe na boca.
Meu filho é outro caminho.
É o caminho que é pra todos os lados.
Bate palma, filho!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

indo pra lá

Você pode achar engraçado, estranho ou mentira,
que ache.
Minha amiga se chama Lucía com acento no i.
Comecei e tremi. Tenho duas horas pra pensar nela sem edição.
Duas horas pra lembrar e sentir tudo que posso. Em duas horas terei novamente em casa meus super-heróis. Que me dão um trabalho de cão.
Bobagem.
Cão não tem trabalho algum. No máximo uma cheirada, uma corrida e um biscoito.
Não tem problema, o que importa é que tenho duas horas pra pensar sem edição sobre a minha amiga com acento no i.
E preciso não editar, pra que esse escrito faça sentido.
Se não pra ela, ao menos pra mim.
Preciso ao menos tentar começar.
Falar dela e não sobre o trabalho do cão.
Falei isso e fui passear um pouco. Passear por aqui mesmo, no computador.
Uma luta começar.
Vou passear mais um pouco.
Fui e voltei um dia depois.
Nesse dia todo não concentrei em você.
Estou indo ao encontro dos meus dois. Amanhã é sábado. Fim da semana.
Vou esperar pela segunda.

...

Segunda, 12 de janeiro de 2009.
Amanhã é meu aniversário.
Ela devia fazer um texto pra mim.
Ela faz tanta coisa pra mim.
Um texto pode ser que não.
Ela me liga pra saber como estou, o que decidi pro aniversário, precisamos nos ver pra fazer as coisas pra festa, se dedica na idéia da piñata, tenho que ligar pra Nina pra ela pintar as crianças, quer buscar Tito na escola hoje, levá-lo à praia outro dia, tomarmos sorvete. Tinha dado ponto final e atendi o telefone. Me convida para o japonês. Tomarmos uma cerveja amanhã.
É assim.
Às vezes as propostas se dividem em alguns dias, na maior parte vêm juntas numa mesma ligação.
Digo que ela é bipolar e ela tem mulheres peruanas pra me darem respostas, que eu não entendo nada de psicologia.
Fico quieta porque elas sabem da vida e da necessidade pós-moderna.
Relacionamentos líquidos, disse o Rafael.
Luci (amiga, psicóloga, bruxa peruana que fala português) diz que ela é viva.
Não cabe mais vida dentro dela. É vida em excesso. Eu digo a besteira, não Luci.
Agora escrevendo sobre ela e ouvindo uma música que ajuda a fluir eu morro de amores. Vontade de sair com ela correndo e gritando por aí.
Desenlaçada de tantas coisas lindas que muitas vezes são malditas por nós.
Precisam ser.
Malditas, lindas e desenlaçadas.
A Lu é a amante.
Se um dia o tesão for demais a gente sai correndo e gritando. É a imagem que tenho. Correndo e gritando.
Imagina a cena. Coloca Cat Power pra tocar. É libertador.
Ela riria dessa falta de atitude.
Eu falo dela com todo esse amor e a leitura faz parecer que ela é uma maravilha. E é. E tenebrosa. Horrível. Cheia de vida. Aflita. Nada em paz, ocioso, repetido.
Tem horror a essas coisas deliciosas que não precisam ser pensadas, questionadas, produzidas. Que fluem deliciosamente.
Sem ela.
Pra falar bem a verdade, minha amiga é um saco.
Estraga a rotina.
Dá trabalho ser amíga, com acento no i.
Ela faz essa zona toda, a gente atordoa. Fica puto.
Sei lá que bruxaria peruana ela tem. Em dois minutos a zona, o atordoa e o puto não existem. Não é que ela conserta e a gente ameniza. Somem. Não existem.
Líquidos.
E de novo a imagem da gente correndo e gritando.
Você rindo de tudo que tenho de fixo, retrógrado, de mal gosto, velho e estável.
E eu te amo tanto.
E o melhor aniversário é ter você aqui de volta.
Rindo de mim e enchendo meu saco.