Nunca dinheiro foi, pra gente, questão pra ter ou não ter filho.
Pra se ter filho não precisa de quase nada.
Ainda mais pequeninho-inho, que acaba de chegar.
Cabe em qualquer lugar, come peito até bem adiante.
Fralda vem de todo lugar.
Vou corrigir uma coisa.
Alguém precisa ter, a mãe e o pai não.
Os filhos que vieram antes doam coisas incríveis: móveis, roupas, brinquedos - fundamentais.
Incrível, como funciona!
Quando começa a ver que precisa comprar short, Marina vem com a sacola exatamente de short que no Guel apertou. Percebe que uma sandália só não tá dando, Mariana entrega a do tamanho ideal que não entra no João. Depois da festa do amigo de três, descobre um mundo que anda, acende, monta, conversa. Dia seguinte vem Leon e Fernanda trazer a gente e uma mala dessas que faz a bagunça variar melhor.
Corrigir pouco mais:
Algum precisa.
Bem menos que se fala por aí.
Tem o dinheiro da escola, pra escola, esse dinheiro é grande.
Mas uma tal falta de dinheiro que não miserável faz fazer o que a gente paga, inventar.
Mas vou falar o que vim falar.
O que realmente falta e sufoca é contar do barco e não sair cinco da manhã num passeio n'água.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
às vezes Bukowsko
Volta de uma Ida Carnaval, acompanhada do roxo, rasgo, e da pele do dedo que pendurou.
A carona facilita o que sempre transtorna.
Talvez cansada, deu beijo e abanou antes de chegar.
Vejo o ônibus que demora mais à noite, mais no feriado, passando longe de mim, no feriado à noite.
Aproveito o boteco, peço um salgado, assado.
Nele (no boteco, não no salgado), uns moços, desses que não agradam.
Em bando.
A voz firme de quem fez faculdade e um filho.
Estico pra pegar a mostarda, um desses me ajudam, agradeço sem olhar.
Como tudo, salvo o papel que dou pro cesto já vomitado.
Vou andando numa saia de dois palmos e numa blusa vermelha que abre pra mostrar a coluna. Uma flor na cabeça me diz que bebi. O sutiã vermelho aparece e some na meia blusa.
Sigo o caminho que pode me trazer um ônibus.
Vou dando boa noite pros moços na rua, no escuro.
Agora devem dormir.
Devo ser a última que não parei.
Ali do lado de lá vejo um cachorro grande.
Olhando bem, parece um porco.
Comendo saco de lixo.
Um cachorro fazendo graça, óinc.
Os outros sem fantasia.
Percebeu que eu vi, vi o rabo, olhou a flor e parou o olho nela.
Viu o aberto da blusa, talvez o sutiã vermelho, e quase certo o short que não era pra ver embaixo da saia que erguia e voltava enquanto eu corria daquela fantasia.
À frente uma gente.
Um sorriso de cá besta de quem pede desculpa do ridículo.
Volto andar, de imediato.
Quase vejo a casa, a minha.
Dois meninos de treze anos me olham com cara de 32.
Cumprimento com voz de quem separou e trabalha com arte.
Sinto que a vida funciona quando ele abre o portão pra eu entrar.
Boa noite!
Salva.
Finalmente.
Tem ainda ela ali.
Um boa noite só, o último.
Ela tem olho de porco.
Não corro.
Pode ter gente ali.
- Boa N..
- Como é que eu faço pra falar com o Juan?
- ...não conheço.
- Do bloco 8.
- Não sei.
- Vem comigo.
Sai na minha frente, um pouco pro lado, um pouco pro outro.
Eu vou, não pelo Juan, continuo onde ia.
Virei onde ela não ia - Boa noite!
Era o último.
Não esqueci, nem perdi a chave de casa.
Consegui.
Não acendo a luz.
O Juan.
Banho-banho.
Suco de fruta natural.
Mania de agora.
Abacaxi com hortelã.
Sem açúcar que é pra valer.
Sentar.
Santo Deus.
Interfone!
Corro como se meu filho não estivesse em viagem.
- A Mila está aí?
- Quem é Mila?
continuo:
- Quem fala?
- É a Mirian.
- Que Mirian? Que Mirian?
- Do bloco 1.
- Não conheço, ninguém, nenhum nome, nada, nada.
- Desculpa, boa noite.
O último.
O pufe.
O suco.
Escovar o dente, ahhh.
Toca de novo!
De novo!
Que há?
- A Mila está aí?
- Que tá havendo, não tô entendendo, a segunda vez que me perguntam dela aqui, quem é essa?
- Minha mãe. O porteiro deu seu nome e apartamento.
Ódio.
- Sua mãe é uma que estava aqui no prédio, ali fora agora (com olho de porco)?
- Sim, ela.
- Eu não a conheço, só cumprimentei. Está tudo bem?
- Olha, desculpe, desculpe.
Numa vergonha de passarinho.
- Olha, não se preocupe comigo, qualquer coisa que precisar, pode me chamar.
- Desculpe, mesmo. Boa noite.
- Olha...
- Ãhn?
- ...fiquei com a impressão dela pular no Bloco Oito...
A carona facilita o que sempre transtorna.
Talvez cansada, deu beijo e abanou antes de chegar.
Vejo o ônibus que demora mais à noite, mais no feriado, passando longe de mim, no feriado à noite.
Aproveito o boteco, peço um salgado, assado.
Nele (no boteco, não no salgado), uns moços, desses que não agradam.
Em bando.
A voz firme de quem fez faculdade e um filho.
Estico pra pegar a mostarda, um desses me ajudam, agradeço sem olhar.
Como tudo, salvo o papel que dou pro cesto já vomitado.
Vou andando numa saia de dois palmos e numa blusa vermelha que abre pra mostrar a coluna. Uma flor na cabeça me diz que bebi. O sutiã vermelho aparece e some na meia blusa.
Sigo o caminho que pode me trazer um ônibus.
Vou dando boa noite pros moços na rua, no escuro.
Agora devem dormir.
Devo ser a última que não parei.
Ali do lado de lá vejo um cachorro grande.
Olhando bem, parece um porco.
Comendo saco de lixo.
Um cachorro fazendo graça, óinc.
Os outros sem fantasia.
Percebeu que eu vi, vi o rabo, olhou a flor e parou o olho nela.
Viu o aberto da blusa, talvez o sutiã vermelho, e quase certo o short que não era pra ver embaixo da saia que erguia e voltava enquanto eu corria daquela fantasia.
À frente uma gente.
Um sorriso de cá besta de quem pede desculpa do ridículo.
Volto andar, de imediato.
Quase vejo a casa, a minha.
Dois meninos de treze anos me olham com cara de 32.
Cumprimento com voz de quem separou e trabalha com arte.
Sinto que a vida funciona quando ele abre o portão pra eu entrar.
Boa noite!
Salva.
Finalmente.
Tem ainda ela ali.
Um boa noite só, o último.
Ela tem olho de porco.
Não corro.
Pode ter gente ali.
- Boa N..
- Como é que eu faço pra falar com o Juan?
- ...não conheço.
- Do bloco 8.
- Não sei.
- Vem comigo.
Sai na minha frente, um pouco pro lado, um pouco pro outro.
Eu vou, não pelo Juan, continuo onde ia.
Virei onde ela não ia - Boa noite!
Era o último.
Não esqueci, nem perdi a chave de casa.
Consegui.
Não acendo a luz.
O Juan.
Banho-banho.
Suco de fruta natural.
Mania de agora.
Abacaxi com hortelã.
Sem açúcar que é pra valer.
Sentar.
Santo Deus.
Interfone!
Corro como se meu filho não estivesse em viagem.
- A Mila está aí?
- Quem é Mila?
continuo:
- Quem fala?
- É a Mirian.
- Que Mirian? Que Mirian?
- Do bloco 1.
- Não conheço, ninguém, nenhum nome, nada, nada.
- Desculpa, boa noite.
O último.
O pufe.
O suco.
Escovar o dente, ahhh.
Toca de novo!
De novo!
Que há?
- A Mila está aí?
- Que tá havendo, não tô entendendo, a segunda vez que me perguntam dela aqui, quem é essa?
- Minha mãe. O porteiro deu seu nome e apartamento.
Ódio.
- Sua mãe é uma que estava aqui no prédio, ali fora agora (com olho de porco)?
- Sim, ela.
- Eu não a conheço, só cumprimentei. Está tudo bem?
- Olha, desculpe, desculpe.
Numa vergonha de passarinho.
- Olha, não se preocupe comigo, qualquer coisa que precisar, pode me chamar.
- Desculpe, mesmo. Boa noite.
- Olha...
- Ãhn?
- ...fiquei com a impressão dela pular no Bloco Oito...
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
por minha cabeça não passava
umas coisas ando vendo que meu filho escuta:
filho, chupa o sorvete senão acaba...
Anda na carência do filho que dorme com a mãe na mesma cama.
E que descobriu lobo mau, a bruxa e o fantasma.
A gente correu prum festival de teatro de animação.
Lá uns argentinos, uns bonecos e umas gracinhas bilingues.
Legal.
Chega um fantasma.
Com mais ou menos dez centímetros e alguns metros pra lá.
Cada vez que aparece um susto, pulo e abraço de corpo todo.
Achei uma bobagem o início disso.
Mas lembrei a grandeza.
A morte e o sinistro e as figuras.
Ficou bonito depois que pensei.
Hoje me pede a cada meia hora.
Dormindo já.
Lembrei que depois de casada já (e ainda), depois do pesadelo acordava Lipe e pedia que ficasse acordado até eu dormir.
Segunda decidi não ir à escola.
Levar.
Não tinha nada sério pra fazer, ficamos juntos.
A casa um lixo do fim de semana.
Lá por quatro da tarde, sem sono e muita excitação, não vinha sorriso nenhum. Não me vinha sorriso nenhum.
Martelava a imagem da cozinha de louça na pia, o chão esfarelado e as bolas pretas, o cabelo no ralo do banheiro.
E a voz e o tom mais lindo: desenhar, mamãe, vamos?
Dizendo com raiva de quem TEM que dizer: Não, filho, mamãe não consegue desenhar agora.
Pedi que desenhasse sozinho e mostrasse enquanto limpasse a cozinha.
Bom como é, fez.
Nossa, outra coisa.
Quase tudo mudou.
Quase tudo mesmo, tudo, tudo, quase tudo.
Faltava o pano na sala.
Senta ali no quarto com o quebra cabeça, só enquanto passo aqui.
Santo, santo, senta e mexe nas peças que nem sabe encaixar.
Pano, pano.
Não gosto deles.
Deu e muito bem vindo.
Incrível o riso.
O prazer do filho de volta.
Da gente ali só a gente.
Da bagunça sem sujeira.
Do espaço.
Da sensação de capaz.
Da vontade de recortar.
Lindo.
Nossa, lindo. Delicioso.
Mas ia falar de outra coisa...
filho, chupa o sorvete senão acaba...
Anda na carência do filho que dorme com a mãe na mesma cama.
E que descobriu lobo mau, a bruxa e o fantasma.
A gente correu prum festival de teatro de animação.
Lá uns argentinos, uns bonecos e umas gracinhas bilingues.
Legal.
Chega um fantasma.
Com mais ou menos dez centímetros e alguns metros pra lá.
Cada vez que aparece um susto, pulo e abraço de corpo todo.
Achei uma bobagem o início disso.
Mas lembrei a grandeza.
A morte e o sinistro e as figuras.
Ficou bonito depois que pensei.
Hoje me pede a cada meia hora.
Dormindo já.
Lembrei que depois de casada já (e ainda), depois do pesadelo acordava Lipe e pedia que ficasse acordado até eu dormir.
Segunda decidi não ir à escola.
Levar.
Não tinha nada sério pra fazer, ficamos juntos.
A casa um lixo do fim de semana.
Lá por quatro da tarde, sem sono e muita excitação, não vinha sorriso nenhum. Não me vinha sorriso nenhum.
Martelava a imagem da cozinha de louça na pia, o chão esfarelado e as bolas pretas, o cabelo no ralo do banheiro.
E a voz e o tom mais lindo: desenhar, mamãe, vamos?
Dizendo com raiva de quem TEM que dizer: Não, filho, mamãe não consegue desenhar agora.
Pedi que desenhasse sozinho e mostrasse enquanto limpasse a cozinha.
Bom como é, fez.
Nossa, outra coisa.
Quase tudo mudou.
Quase tudo mesmo, tudo, tudo, quase tudo.
Faltava o pano na sala.
Senta ali no quarto com o quebra cabeça, só enquanto passo aqui.
Santo, santo, senta e mexe nas peças que nem sabe encaixar.
Pano, pano.
Não gosto deles.
Deu e muito bem vindo.
Incrível o riso.
O prazer do filho de volta.
Da gente ali só a gente.
Da bagunça sem sujeira.
Do espaço.
Da sensação de capaz.
Da vontade de recortar.
Lindo.
Nossa, lindo. Delicioso.
Mas ia falar de outra coisa...
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
um dia na vida dessas pessoas cujas histórias se cruzam por coincidência.
Entrei no banho pra preparar, lavei tudo que alcanço.
Desodorante, roupa bonitinha, retoque na bagunça do cabelo, ajeitar coisas, anotar, pastinhas, papéis, enfiar na bolsa.
Pagar conta.
Excitação.
Bora, bora e não dá pra almoçar.
Itaú tudo rápido.
Monopolizo a caixa 20 minutos.
Caixa Econômica.
Tremo de entrar lá.
Fila pra pegar segunda via.
Fila pra pegar segunda via!
Uma moça simpática que tá lá.
Simpática mas uma só.
Vai indo.
Meu olho deu pra tremer.
Uma vez meu irmão, numa hora assim de olho tremido, fez exame de glicemia em mim, era hipo.
Entra ali no atendimento uma menina.
Cara de novinha.
Cabelo liso, preto, enorme.
Sombra, blush, um batonzinho.
Olho verde, dente e pele branca.
Magra.
Brinco, pulseira, colar de pérola, anéis.
Não sei tirar o olho dela.
Nada sem enfeite.
Exageradíssima.
E linda.
Senta no lugar da outra.
Por que se tem lugar do lado?
A outra despede.
Sombrancelha pra cima e pra baixo, boca aberta, apertada, bico.
Sabe que todo mundo só sabe olhar ela.
Uma mulher cheia de criança pede prioridade.
Resmungos dos 50 minutos da espera.
Outra com barrigão.
E o pessoal.
Converso com gerente: mais atendente!
Não tem, diz simpático.
A que acompanha a grávida fala que é mãe dela, acho mentira, não sei porque mentir sobre isso.
Raivosa no ouvido da filha:
Tem direito.
Eu processo isso aqui.
Trabalho com advocacia.
É lei.
(...) barraqueira.
E repete.
E repete.
Não acaba nunca o atendimento da pessoa antes dela.
Repete.
E eu sem ficar quieta: Faz mais mal isso que se ela esperasse...
E claro:
Primeiro, não falei com você.
Segundo que é lei e ela tem direito.
E não tem que ninguém olhar feio.
E se ela não for atendida eu processo isso aqui.
Trabalho com advocacia, conheço.
Aos berros.
Pronta pra me bater.
Sabendo da minha incompetência com briga, sorriso de mãe: Vai ser atendida, vai ser atendida, mas vai, vai sim, sim, vai ser atendida.
Silêncio.
Atendidas.
Fofoca depois.
Minha vez e ela, a Carol, cabelo preto-preto, pele branca-branca, não tem senha pra segunda via. Não tem senha pra segunda via!
1:50 minutos depois.
Bonita e bem humorada me encaminha.
Rio também.
Bonita.
Bem humorada.
De novo o gerente.
Não tem senha!
Pede pro moço bonito que parece inteligente tirar lá em cima.
Peço pra esperar na fila, levanta o dedão, vai e volta com a segunda via que da próxima vez falo com ele antes da Carol.
Duas horas e vinte.
O gerente me viu: Tadinha...
Entro no ônibus sem ar condicionado.
64 graus.
De repente, sem preparo, e o sol amarelo que nem pisca:
Uma chuva de sapo.
Se não foi, esqueceram os sapos.
Desodorante, roupa bonitinha, retoque na bagunça do cabelo, ajeitar coisas, anotar, pastinhas, papéis, enfiar na bolsa.
Pagar conta.
Excitação.
Bora, bora e não dá pra almoçar.
Itaú tudo rápido.
Monopolizo a caixa 20 minutos.
Caixa Econômica.
Tremo de entrar lá.
Fila pra pegar segunda via.
Fila pra pegar segunda via!
Uma moça simpática que tá lá.
Simpática mas uma só.
Vai indo.
Meu olho deu pra tremer.
Uma vez meu irmão, numa hora assim de olho tremido, fez exame de glicemia em mim, era hipo.
Entra ali no atendimento uma menina.
Cara de novinha.
Cabelo liso, preto, enorme.
Sombra, blush, um batonzinho.
Olho verde, dente e pele branca.
Magra.
Brinco, pulseira, colar de pérola, anéis.
Não sei tirar o olho dela.
Nada sem enfeite.
Exageradíssima.
E linda.
Senta no lugar da outra.
Por que se tem lugar do lado?
A outra despede.
Sombrancelha pra cima e pra baixo, boca aberta, apertada, bico.
Sabe que todo mundo só sabe olhar ela.
Uma mulher cheia de criança pede prioridade.
Resmungos dos 50 minutos da espera.
Outra com barrigão.
E o pessoal.
Converso com gerente: mais atendente!
Não tem, diz simpático.
A que acompanha a grávida fala que é mãe dela, acho mentira, não sei porque mentir sobre isso.
Raivosa no ouvido da filha:
Tem direito.
Eu processo isso aqui.
Trabalho com advocacia.
É lei.
(...) barraqueira.
E repete.
E repete.
Não acaba nunca o atendimento da pessoa antes dela.
Repete.
E eu sem ficar quieta: Faz mais mal isso que se ela esperasse...
E claro:
Primeiro, não falei com você.
Segundo que é lei e ela tem direito.
E não tem que ninguém olhar feio.
E se ela não for atendida eu processo isso aqui.
Trabalho com advocacia, conheço.
Aos berros.
Pronta pra me bater.
Sabendo da minha incompetência com briga, sorriso de mãe: Vai ser atendida, vai ser atendida, mas vai, vai sim, sim, vai ser atendida.
Silêncio.
Atendidas.
Fofoca depois.
Minha vez e ela, a Carol, cabelo preto-preto, pele branca-branca, não tem senha pra segunda via. Não tem senha pra segunda via!
1:50 minutos depois.
Bonita e bem humorada me encaminha.
Rio também.
Bonita.
Bem humorada.
De novo o gerente.
Não tem senha!
Pede pro moço bonito que parece inteligente tirar lá em cima.
Peço pra esperar na fila, levanta o dedão, vai e volta com a segunda via que da próxima vez falo com ele antes da Carol.
Duas horas e vinte.
O gerente me viu: Tadinha...
Entro no ônibus sem ar condicionado.
64 graus.
De repente, sem preparo, e o sol amarelo que nem pisca:
Uma chuva de sapo.
Se não foi, esqueceram os sapos.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
e quem é que sabe a palavra que é
Depois de um dia de churrasco que nunca como e bebo demais, cheguei e deitei dentro da roupa que vim.
Era cedo.
Bom porque era cedo que tinha que acordar também.
Meia noite abri o olho.
Vim, olhei a hora e voltei pra cama dormir.
Não dormi.
Voltei pra cá.
Voltei de novo depois. Pra lá.
Não tenho nunca isso de acordar depois de dormir.
Tenho sempre na verdade, até hoje todos os dias. Mas não assim de madrugada.
E detesto.
Uma vez que foi assim, depois de anos sem insônia, acordei de madrugada, não conseguia mais dormir de jeito nenhum. Levei meu colchão pra sala. Sentia uma coisa estranha no corpo. Na sala também não dormi. Voltei pro quarto. Lá em Curitiba ainda. Então de novo peguei no sono, já quase amanhecendo. Minutos depois minha mãe liga. Era a notícia que meu pai tinha morrido.
Ontem fiquei nesse medo do telefone.
Tanta gente pode morrer.
O do vizinho tocou, 5:25hs.
Fiquei na agonia que Tito não estava, sensação de culpa fortíssima, de ausência, negligência, descaso. Quase liguei três da manhã pra perguntar se todo mundo lá respirava.
Fui escrever no caderninho que faço pra ele desde que nasceu.
Voltei a dormir seis, seis e pouco.
Acordei nove, era pra acordar antes.
Liguei pra Lipe e pedi que não levasse Tito pra escola, que eu estava indo pra lá.
Disse pra mim que precisava descansar um pouco, que Tito acordou uma da manhã e voltou a dormir às seis.
Era cedo.
Bom porque era cedo que tinha que acordar também.
Meia noite abri o olho.
Vim, olhei a hora e voltei pra cama dormir.
Não dormi.
Voltei pra cá.
Voltei de novo depois. Pra lá.
Não tenho nunca isso de acordar depois de dormir.
Tenho sempre na verdade, até hoje todos os dias. Mas não assim de madrugada.
E detesto.
Uma vez que foi assim, depois de anos sem insônia, acordei de madrugada, não conseguia mais dormir de jeito nenhum. Levei meu colchão pra sala. Sentia uma coisa estranha no corpo. Na sala também não dormi. Voltei pro quarto. Lá em Curitiba ainda. Então de novo peguei no sono, já quase amanhecendo. Minutos depois minha mãe liga. Era a notícia que meu pai tinha morrido.
Ontem fiquei nesse medo do telefone.
Tanta gente pode morrer.
O do vizinho tocou, 5:25hs.
Fiquei na agonia que Tito não estava, sensação de culpa fortíssima, de ausência, negligência, descaso. Quase liguei três da manhã pra perguntar se todo mundo lá respirava.
Fui escrever no caderninho que faço pra ele desde que nasceu.
Voltei a dormir seis, seis e pouco.
Acordei nove, era pra acordar antes.
Liguei pra Lipe e pedi que não levasse Tito pra escola, que eu estava indo pra lá.
Disse pra mim que precisava descansar um pouco, que Tito acordou uma da manhã e voltou a dormir às seis.
domingo, 31 de janeiro de 2010
besta é tu, besta é tu
O carioca tem mesmo que ser o brasileiro que todo o mundo conhece e vê na tevê.
Gente protagonista que é.
Quase vomito na festa que bate quando Rio.
Na van com laço rosa na cabeça, seus sessenta e a companhia da mãe, provável, que não estranha o laço na cor máxima. Diz da "gringaiada" que a cidade aloca.
Alto e rasgado vira pra trás perguntando se só gringo tem ali. Reconhece e alivia: ahhh, só carioca...eu, que há nove anos, convivo com o inglês que se fala com quem o sol não pega e o reconhecimento do erre que não consegui rasgar, comemoro enfim o direito de ser um deles. Mas então o olho volta rápido e me aponta: ahhh, tem uma ali...
Nunca, nunca o carioca se engana.
Cor, salto e espalhamento.
Pode ser que não digna de "aahhh, só carioca", aprendi a me espalhar, me reconheci na esparramação e no espaço de rir alto sem constranger e acabar o riso.
De qualquer forma me sinto em preto e branco no vermelho carioca da unha do pé ao cabelo amarelo ainda que seja preto.
Me desleixo no excesso de roupa que carioca não engole, nem deixa de comentar.
Me culpo detestar o sol que faz brilho no Cristo que vê.
Constrangimento na pouca ida à areia que mostra que o Rio é mesmo mar.
Quando criança pedia pra minha mãe falar francês pra eu dormir.
Não conhecia ainda o erre e o x do esse que embala querendo que o ouvido não feche.
Gente protagonista que é.
Quase vomito na festa que bate quando Rio.
Na van com laço rosa na cabeça, seus sessenta e a companhia da mãe, provável, que não estranha o laço na cor máxima. Diz da "gringaiada" que a cidade aloca.
Alto e rasgado vira pra trás perguntando se só gringo tem ali. Reconhece e alivia: ahhh, só carioca...eu, que há nove anos, convivo com o inglês que se fala com quem o sol não pega e o reconhecimento do erre que não consegui rasgar, comemoro enfim o direito de ser um deles. Mas então o olho volta rápido e me aponta: ahhh, tem uma ali...
Nunca, nunca o carioca se engana.
Cor, salto e espalhamento.
Pode ser que não digna de "aahhh, só carioca", aprendi a me espalhar, me reconheci na esparramação e no espaço de rir alto sem constranger e acabar o riso.
De qualquer forma me sinto em preto e branco no vermelho carioca da unha do pé ao cabelo amarelo ainda que seja preto.
Me desleixo no excesso de roupa que carioca não engole, nem deixa de comentar.
Me culpo detestar o sol que faz brilho no Cristo que vê.
Constrangimento na pouca ida à areia que mostra que o Rio é mesmo mar.
Quando criança pedia pra minha mãe falar francês pra eu dormir.
Não conhecia ainda o erre e o x do esse que embala querendo que o ouvido não feche.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
seja o tempo que for
Faz dois anos, ou tanto mais já não tendo como precisar onde é que começa.
Talvez isso mude mas só posso no já, dizer que não tem idade o filho que se tem.
Que muito dele vai mudar, muito nosso talvez, mas que nessa quase inexistência mais perto do que se data inexistente, é a existência inteira.
Uns dias fazem mudança proporcional ao tempo que o olho vê. Como quem conheci aos 23 e reencontro aos 30.
Esse corpo que se tropeça se não cuidar, é um todo de alguém.
Conheço e reconheço todos os dias.
A beleza que nunca mais em lugar nenhum, e que indigna um olho que deixa passar.
Riso de fazer chorar de rir e do que é demais.
E sinais de tantos anos, pessoas e lugares e também de ninguém nem nada que não seja ali.
Talvez isso mude mas só posso no já, dizer que não tem idade o filho que se tem.
Que muito dele vai mudar, muito nosso talvez, mas que nessa quase inexistência mais perto do que se data inexistente, é a existência inteira.
Uns dias fazem mudança proporcional ao tempo que o olho vê. Como quem conheci aos 23 e reencontro aos 30.
Esse corpo que se tropeça se não cuidar, é um todo de alguém.
Conheço e reconheço todos os dias.
A beleza que nunca mais em lugar nenhum, e que indigna um olho que deixa passar.
Riso de fazer chorar de rir e do que é demais.
E sinais de tantos anos, pessoas e lugares e também de ninguém nem nada que não seja ali.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Invadiu minha casa
A foto guardada, festival de música que não vi, a Clarice, a Gal de 2 e 2, a dança dele com o braço erguido pra trás que parece pássaro e é, o olho pra dentro pra enxergar a sensação nova na pele, rio em janeiro, cobrir o corpo pra dormir, estrada, carro, criança, cachorro, prazer, idéia escrita, conversada, em imagem e pra escutar, abandonar e ver que segue, mudar ontem imutável, fazer com medo pra encorajar, paciência no que rasga, agradecer, voltar atrás pra aproximar, concluir pro espaço de outra coisa, querer não parar, Cassavetes, (re)perceber o que sempre faz, gosto da mudança, reencontrar e querer perto, pão manteiga e chapa, cerveja sem ter que acordar cedo, convite de viagem, carinho e piada onde pesou, cerveja tendo que acordar cedo, Novos Baianos, rede pra balançar, não saber nada do que vem, ter as pessoas sem que elas saibam, gostar do que foi e como vem agora, visita sem combinar, esquecer da morte, bloco de carnaval.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Retrô
Queria um texto especial pra falar do que foi 2009 por aqui.
Não consigo.
Vai passar da hora (se já não passou) e só barata chega pra mim.
Atrás de solução, vasculhei o histórico das mensagens e descobri rascunhos de palavras, frases, diálogos salvos pelo blog que não publiquei e pensava ter descartado.
Além disso fiz uma seleção de textos que me mexeram ou fiz mexida, ali na barra lateral, em ordem cronológica.
Então!
Ele disse que na frente, na lateral esquerda da frente, tá excedendo o tamanho.
MULHER BOMBA
Vídeos capturados, casa um caos, seleção de música, marido doente, filho com sono, projeto que não fiz, dinheiro que não recebi. Silêncio!
Eu não vou postar essa bobagem.
Difícil que são dois.
Um dá consistência.
Um me joga por aí.
- Não entendo pessoas que por acaso nao se apaixonam por você.
- Doendo como se tivesse apanhado.
- Mas que bom que você vai, mesmo sabendo que tem volta.
- Distraída.
- Como diz Clarice, "chega a sair sangue".
Minha música não faz trilha
Mas tem cena aí, algumas.
Hoje quando acordei encontrei ontem espalhado na casa.
- Precisamos marcar para colocar a conversa em dia.
- Sim, precisamos.
- Faz algum tempo que eu não te leio.
- Entendo.
- Vou colocar a leitura em dia, os últimos poemas que eu li estavam lindos.
- Fico contente que goste.
- Você é nossa Clarice Lispector do cinema, é como dizia Sartre, quando escolhemos nos reconhecemos na humanidade inteira. Sua foto não está aparecendo.
- E agora?
- Ah... linda. E você tem ido ao teatro? faz tempo que eu não vou, nós podíamos marcar de ver uma peça.
- Fui hoje.
- Toda vez que eu me lembro de ti penso na música do chico, Beatriz.
- Ex, ex-atriz.
- Pathos atriz.
- Não quero nada com os patos.
- Não tem como fugir ao pathos.
Na praticidade de cozinhar em minutos, nunca me coube espaço pra entender gente que cai.
Conversa com amigos era reduzir suas coisas.
E sei agora que nem escutar podiam.
Não me admitir foi sempre o exercício de atrasar a me ver.
Imutável. Até mudar.
Mas vou dizer: me sei pouco além do que soube.
Parte da trajetória de não trajetar.
Que trajeta.
Ir como não quer.
E vai.
a gente inventa uma quantidade de coisas pra viver enquanto não ama amado
daquele jeito em cada um de um jeito e o jeito um jeito mesmo em todo mundo.
matou ela em slêncio.
como alguém que asfixia o bebê que dormia.
nem som de sapato no chão ouvi.
outra luz acabou.
um sapato ou vassoura, uma luz que escurece.
Tem gente que me faz saber não saber fazer.
1 ANO E 7 MESES
BORA que eu quero correr, SUBIR na velocidade que vi aquele CARRO sair. CAIR, ficar de ponta-cabeça de MÃO no chão. Sentir sacudir BANANA, MAMÃOm, PÃOm no BARRIGÃO e COCÔ, PUM, olha COCÓ que LEGAL! MAMÃE convida: Quer tomar BANHO, xuxu?
Houve um Natal que a gente pôde caprichar.
Minha irmã um aparelho 3 em 1 - Rádio, fita e disco.
Conhecia tudo de música.
Meu irmão um fliperama.
Preenchia a sala, a varanda.
Eu uma Bilu-Bilu.
Não quero explicar o que é.
Não consigo.
Vai passar da hora (se já não passou) e só barata chega pra mim.
Atrás de solução, vasculhei o histórico das mensagens e descobri rascunhos de palavras, frases, diálogos salvos pelo blog que não publiquei e pensava ter descartado.
Além disso fiz uma seleção de textos que me mexeram ou fiz mexida, ali na barra lateral, em ordem cronológica.
Então!
Ele disse que na frente, na lateral esquerda da frente, tá excedendo o tamanho.
MULHER BOMBA
Vídeos capturados, casa um caos, seleção de música, marido doente, filho com sono, projeto que não fiz, dinheiro que não recebi. Silêncio!
Eu não vou postar essa bobagem.
Difícil que são dois.
Um dá consistência.
Um me joga por aí.
- Não entendo pessoas que por acaso nao se apaixonam por você.
- Doendo como se tivesse apanhado.
- Mas que bom que você vai, mesmo sabendo que tem volta.
- Distraída.
- Como diz Clarice, "chega a sair sangue".
Minha música não faz trilha
Mas tem cena aí, algumas.
Hoje quando acordei encontrei ontem espalhado na casa.
- Precisamos marcar para colocar a conversa em dia.
- Sim, precisamos.
- Faz algum tempo que eu não te leio.
- Entendo.
- Vou colocar a leitura em dia, os últimos poemas que eu li estavam lindos.
- Fico contente que goste.
- Você é nossa Clarice Lispector do cinema, é como dizia Sartre, quando escolhemos nos reconhecemos na humanidade inteira. Sua foto não está aparecendo.
- E agora?
- Ah... linda. E você tem ido ao teatro? faz tempo que eu não vou, nós podíamos marcar de ver uma peça.
- Fui hoje.
- Toda vez que eu me lembro de ti penso na música do chico, Beatriz.
- Ex, ex-atriz.
- Pathos atriz.
- Não quero nada com os patos.
- Não tem como fugir ao pathos.
Na praticidade de cozinhar em minutos, nunca me coube espaço pra entender gente que cai.
Conversa com amigos era reduzir suas coisas.
E sei agora que nem escutar podiam.
Não me admitir foi sempre o exercício de atrasar a me ver.
Imutável. Até mudar.
Mas vou dizer: me sei pouco além do que soube.
Parte da trajetória de não trajetar.
Que trajeta.
Ir como não quer.
E vai.
a gente inventa uma quantidade de coisas pra viver enquanto não ama amado
daquele jeito em cada um de um jeito e o jeito um jeito mesmo em todo mundo.
matou ela em slêncio.
como alguém que asfixia o bebê que dormia.
nem som de sapato no chão ouvi.
outra luz acabou.
um sapato ou vassoura, uma luz que escurece.
Tem gente que me faz saber não saber fazer.
1 ANO E 7 MESES
BORA que eu quero correr, SUBIR na velocidade que vi aquele CARRO sair. CAIR, ficar de ponta-cabeça de MÃO no chão. Sentir sacudir BANANA, MAMÃOm, PÃOm no BARRIGÃO e COCÔ, PUM, olha COCÓ que LEGAL! MAMÃE convida: Quer tomar BANHO, xuxu?
Houve um Natal que a gente pôde caprichar.
Minha irmã um aparelho 3 em 1 - Rádio, fita e disco.
Conhecia tudo de música.
Meu irmão um fliperama.
Preenchia a sala, a varanda.
Eu uma Bilu-Bilu.
Não quero explicar o que é.

sábado, 2 de janeiro de 2010
eu sei que você fez os seus castelos
01º/01/10, veio pra gente a esperança.
Já de noite.
De algum jeito entrou, nós dois vimos.
Apesar de detestar barulho que asa faz, comovente ela ali, no dia tal.
Disfarcei o terror pra ele não aprender esse medo desajeitado.
Carreguei pro quarto como se com interesse em dormir.
De manhã, sempre cedo demais.
Acordo num beijo no braço.
Demais também.
Enrolando na cama, a gente troca os lados, tenta acordar.
Será que nosso bicho tá lá?
Rio fingindo.
Corre pra ver.
Funciona!
Controlo agonia, lembro sempre do meu irmão que disse da adrenalina atrair inseto.
Não sei se ignorância, sabedoria ou sacanagem.
Só caçulo.
Adrenalina pelo bicho, adrenalina pelo medo da adrenalina.
Asa não tinha.
Ouço asa no preparo pro vôo.
Fomos pro chão, olhando bem e pronta pra correr.
Ali!
Encontro com entusiasmo pra enganar filho e adrenalina.
Quietinha no chão.
Num canto.
Comemos ali do lado.
Massinha, desenho, filme.
Estranho.
Ontem voava mais que pousava.
Cheguei mais perto.
Adrenalina nenhuma.
Fui gostando da esperança assim.
Tinha uma perna pra cima.
Andava lenta.
O ventilador ficou ligado a noite, porque dormi sem saber.
Bateu.
Não voava mais.
Passou o dia andando ali, devagar.
A perna levantada caiu.
Colocamos ela pra fora, achando que podia ficar melhor.
Mas não sei se ficou.
A perna ficou em casa.
Sobe e desce a parede.
Pra formiga, uma perna de esperança é demais.
Fechava assim.
Vou atrás do mouse levar a seta pra onde clica e faz o texto público.
Olho de volta pra frente e, em cima de onde faz o texto público, a maior barata que vi em 31 anos e 11 meses e meio. Grosseira, marrom marrom, cascas, várias cascas, muitas, muitas cascas, duas antenas caem e levantam num contrabalanço que sustenta aquele comprimento estúpido.
Faz graça, cospe em mim.
Voa.
Não bate no ventilador.
Já de noite.
De algum jeito entrou, nós dois vimos.
Apesar de detestar barulho que asa faz, comovente ela ali, no dia tal.
Disfarcei o terror pra ele não aprender esse medo desajeitado.
Carreguei pro quarto como se com interesse em dormir.
De manhã, sempre cedo demais.
Acordo num beijo no braço.
Demais também.
Enrolando na cama, a gente troca os lados, tenta acordar.
Será que nosso bicho tá lá?
Rio fingindo.
Corre pra ver.
Funciona!
Controlo agonia, lembro sempre do meu irmão que disse da adrenalina atrair inseto.
Não sei se ignorância, sabedoria ou sacanagem.
Só caçulo.
Adrenalina pelo bicho, adrenalina pelo medo da adrenalina.
Asa não tinha.
Ouço asa no preparo pro vôo.
Fomos pro chão, olhando bem e pronta pra correr.
Ali!
Encontro com entusiasmo pra enganar filho e adrenalina.
Quietinha no chão.
Num canto.
Comemos ali do lado.
Massinha, desenho, filme.
Estranho.
Ontem voava mais que pousava.
Cheguei mais perto.
Adrenalina nenhuma.
Fui gostando da esperança assim.
Tinha uma perna pra cima.
Andava lenta.
O ventilador ficou ligado a noite, porque dormi sem saber.
Bateu.
Não voava mais.
Passou o dia andando ali, devagar.
A perna levantada caiu.
Colocamos ela pra fora, achando que podia ficar melhor.
Mas não sei se ficou.
A perna ficou em casa.
Sobe e desce a parede.
Pra formiga, uma perna de esperança é demais.
Fechava assim.
Vou atrás do mouse levar a seta pra onde clica e faz o texto público.
Olho de volta pra frente e, em cima de onde faz o texto público, a maior barata que vi em 31 anos e 11 meses e meio. Grosseira, marrom marrom, cascas, várias cascas, muitas, muitas cascas, duas antenas caem e levantam num contrabalanço que sustenta aquele comprimento estúpido.
Faz graça, cospe em mim.
Voa.
Não bate no ventilador.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
último gole ao ano das quedas (e erguidas)
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
seja rico, seja pobre
Durante todo o dia, vejo as coisas e escrevo, escrevo sem sentar e escrever, faço texto e idéia sobre o que vejo enquanto vejo.
Tenho tido momentos muito fortes com meu filho, de tremer, de gargalhar de boca aberta e todos os dentes até chorar com som de risada.
Quero registrar de alguma forma, materializar essas sensações, chegar de algum jeito onde chegam em mim.
Mas entendi.
Não chego.
Não vou chegar.
Em pé não.
Fumante não senta mais.
Muita área livre.
Mas gente, não se pode fazer assim, pode?
Quando vai mudar a mão de uma rua, precisa outra opção pra então mudar.
Uma obra na rua faz com que outro trajeto funcione enquanto ali não.
Como é que um lugar que não tem banco de rua, nem cesto de lixo e só tem falta de praça pode fazer assim?
E vai te fazendo acreditar.
Tava almoçando com Tito naquele lugar em frente ao Campo São Bento, onde se bebe cerveja, fuma. Cadeira na calçada. Os fumantes com cadeiras pra lá do toldo. E veio fumaça na gente. Olhei pra lá na hora. Nervoso, pediu desculpa, de jeito vira-lata, foi indo mais longe. Eu não consegui mudar, dizer que eu queria que ele voltasse, que não fizesse assim.
E como é que não tem a opção de um lugar ser só de fumante?
Como é que não?
Mulher. Pedestre. Fumante.
Pra onde é que eu quero ir?
Só posso ir.
Quando é que eu posso parar?
Sentar, acender um cigarrinho, tomar um negocinho?
Tenho tido momentos muito fortes com meu filho, de tremer, de gargalhar de boca aberta e todos os dentes até chorar com som de risada.
Quero registrar de alguma forma, materializar essas sensações, chegar de algum jeito onde chegam em mim.
Mas entendi.
Não chego.
Não vou chegar.
Em pé não.
Fumante não senta mais.
Muita área livre.
Mas gente, não se pode fazer assim, pode?
Quando vai mudar a mão de uma rua, precisa outra opção pra então mudar.
Uma obra na rua faz com que outro trajeto funcione enquanto ali não.
Como é que um lugar que não tem banco de rua, nem cesto de lixo e só tem falta de praça pode fazer assim?
E vai te fazendo acreditar.
Tava almoçando com Tito naquele lugar em frente ao Campo São Bento, onde se bebe cerveja, fuma. Cadeira na calçada. Os fumantes com cadeiras pra lá do toldo. E veio fumaça na gente. Olhei pra lá na hora. Nervoso, pediu desculpa, de jeito vira-lata, foi indo mais longe. Eu não consegui mudar, dizer que eu queria que ele voltasse, que não fizesse assim.
E como é que não tem a opção de um lugar ser só de fumante?
Como é que não?
Mulher. Pedestre. Fumante.
Pra onde é que eu quero ir?
Só posso ir.
Quando é que eu posso parar?
Sentar, acender um cigarrinho, tomar um negocinho?
sábado, 19 de dezembro de 2009
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Bem que isso podia nunca mais ter fim
Dormi depois, acordei antes.
Como sempre quando apaixonada.
Olhando pra ele, espalhado como se um metro e noventa.
Boca aberta.
Cheguei perto pro cheiro da boca que cheira bem, apesar da saliva parada.
Uma hora.
Ouvindo, vendo, cheirando.
Foi acordando.
Virando, enfiando as pernas debaixo de mim, as mãos.
Virou do outro lado, mais de uma vez.
Escuto "minhoca, minhoca..."
Volta o sono que sei pelo som de quem não pensa pra fazer.
Vira de volta, de frente pra mim.
Fecho o olho como aprendi a fazer de um jeito que vê.
Estica o braço, passa a mão na minha cara, de levinho.
No meu braço.
Não tira o olho de mim, como fiz há pouco.
Senta.
Procura meu peito pra enfiar a mão.
Se levanta mais, não consigo ver sem mexer a cabeça.
Uns tapinhas na minha bunda "boi, boi, boi...preta..nino...êta".
Virei pra ver, olho aberto, rindo.
Riu como se acordasse de verdade enquanto ria.
Levanta minha blusa, a dele, deita barriga com barriga.
Estica o dedo machucado "Bêju". O outro "Bêju". Bico "Bêju".
"Abraço".
Pega meu óculos, sempre pega, e entrega.
Acha a sandália, obsessivo nela sempre.
O livro dele que tava ali.
O meu, O meu não!
Um susto Meu deus, tenho um filho.
Nunca sonhei estar grávida.
E mesmo em mim sensação louca de grandeza.
Um corpo fazendo outro.
Nove meses, passar a ser.
Inteiro desde o início.
Mesmo na falta.
Parte do que se é inteiro.
Falta pra mim alcançar a sensação que não entendo.
Da parte minha maior que eu.
Em você me vejo mais que posso.
Falo só o que entendi.
Simples, me dá o que mal suporto.
Ocupa espaços que não cheguei.
Nem dois anos.
Grande como nunca vi ninguém.
Esqueço o tamanho.
E lembro.
E quando lembro mal sei falar.
Como sempre quando apaixonada.
Olhando pra ele, espalhado como se um metro e noventa.
Boca aberta.
Cheguei perto pro cheiro da boca que cheira bem, apesar da saliva parada.
Uma hora.
Ouvindo, vendo, cheirando.
Foi acordando.
Virando, enfiando as pernas debaixo de mim, as mãos.
Virou do outro lado, mais de uma vez.
Escuto "minhoca, minhoca..."
Volta o sono que sei pelo som de quem não pensa pra fazer.
Vira de volta, de frente pra mim.
Fecho o olho como aprendi a fazer de um jeito que vê.
Estica o braço, passa a mão na minha cara, de levinho.
No meu braço.
Não tira o olho de mim, como fiz há pouco.
Senta.
Procura meu peito pra enfiar a mão.
Se levanta mais, não consigo ver sem mexer a cabeça.
Uns tapinhas na minha bunda "boi, boi, boi...preta..nino...êta".
Virei pra ver, olho aberto, rindo.
Riu como se acordasse de verdade enquanto ria.
Levanta minha blusa, a dele, deita barriga com barriga.
Estica o dedo machucado "Bêju". O outro "Bêju". Bico "Bêju".
"Abraço".
Pega meu óculos, sempre pega, e entrega.
Acha a sandália, obsessivo nela sempre.
O livro dele que tava ali.
O meu, O meu não!
Um susto Meu deus, tenho um filho.
Nunca sonhei estar grávida.
E mesmo em mim sensação louca de grandeza.
Um corpo fazendo outro.
Nove meses, passar a ser.
Inteiro desde o início.
Mesmo na falta.
Parte do que se é inteiro.
Falta pra mim alcançar a sensação que não entendo.
Da parte minha maior que eu.
Em você me vejo mais que posso.
Falo só o que entendi.
Simples, me dá o que mal suporto.
Ocupa espaços que não cheguei.
Nem dois anos.
Grande como nunca vi ninguém.
Esqueço o tamanho.
E lembro.
E quando lembro mal sei falar.
domingo, 13 de dezembro de 2009
morre bebê de Helena e Marcos
Vivo encontrando notícia dessa sobre gente que não conheço e sem sobrenome.
Essa história de saber de coisas assim de gente que não sabe quem...
No facebook sinto que estou por engano.
Alguém diz: e nosso ano novo?
Não é comigo, não é.
Fica ali, como se fosse.
E sei das respostas.
Por que sei das respostas?
Uma diz que vai pra aula de street dance, outro que dormiu o dia todo.
Eu, como na janela, atrás do vidro sujo ou fumê.
Não sei, só me sinto íntima do que tenho intimidade.
Um dia, lembro das coisas não pelo que lembro, lembro da sensação forte.
De novo, um dia, um ex-namorado foi me buscar no teatro, e ficamos conversando dentro do carro, no estacionamento.
Ele tinha uma cara e jeito de quando a gente tem algo novo e parece demente.
Ele dizia sobre voyeurismo.
Não sabia o que era.
Me contou. Explicou.
Disse que umas pessoas fazem algo assim.
Gostam de olhar a intimidade de outras.
E fazia bem pra esse que olhava.
Disse mais uma quantidade de coisas, gostava de falar.
Não sei fazer como se não descobrisse.
Quando conheço o que não conheci me apavoro.
Não enxergo mais, não escuto, tropeço as palavras.
Páro de aprender.
O limite que tenho é um dado novo.
Como o dia que o professor na pós, de novo, na pós, disse que podia ser que o giz caísse ou o chão subisse.
Gargalhei.
Ninguêm riu. Olharam pra mim.
Ninguém se assustou.
Ri mais.
Não podia continuar ali.
Pedi pra sair.
Lá no carro não ouvi mais.
Nem tinha o que perguntar.
Além dali.
Pedi pra irmos prum café.
Bem cheio de gente.
Essa história de saber de coisas assim de gente que não sabe quem...
No facebook sinto que estou por engano.
Alguém diz: e nosso ano novo?
Não é comigo, não é.
Fica ali, como se fosse.
E sei das respostas.
Por que sei das respostas?
Uma diz que vai pra aula de street dance, outro que dormiu o dia todo.
Eu, como na janela, atrás do vidro sujo ou fumê.
Não sei, só me sinto íntima do que tenho intimidade.
Um dia, lembro das coisas não pelo que lembro, lembro da sensação forte.
De novo, um dia, um ex-namorado foi me buscar no teatro, e ficamos conversando dentro do carro, no estacionamento.
Ele tinha uma cara e jeito de quando a gente tem algo novo e parece demente.
Ele dizia sobre voyeurismo.
Não sabia o que era.
Me contou. Explicou.
Disse que umas pessoas fazem algo assim.
Gostam de olhar a intimidade de outras.
E fazia bem pra esse que olhava.
Disse mais uma quantidade de coisas, gostava de falar.
Não sei fazer como se não descobrisse.
Quando conheço o que não conheci me apavoro.
Não enxergo mais, não escuto, tropeço as palavras.
Páro de aprender.
O limite que tenho é um dado novo.
Como o dia que o professor na pós, de novo, na pós, disse que podia ser que o giz caísse ou o chão subisse.
Gargalhei.
Ninguêm riu. Olharam pra mim.
Ninguém se assustou.
Ri mais.
Não podia continuar ali.
Pedi pra sair.
Lá no carro não ouvi mais.
Nem tinha o que perguntar.
Além dali.
Pedi pra irmos prum café.
Bem cheio de gente.
sábado, 12 de dezembro de 2009
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
domingo, 6 de dezembro de 2009
que importância isso tem
Terminei o livro.
E então como se a vida na escrita.
Não tem mais o que escrever.
Não sei mais.
Toda frase parece boba, assunto, jeito.
Não que antes não fosse.
Não fazia por ser bom,
Ia fazendo.
Não sei, parou.
Foi parando.
Não tenho ficado tanto em casa.
Pode ser isso.
Não vejo tv há meio ano, também pode.
Depois de semanas ontem tinha mais uma na cozinha, sempre lá.
Planejo fechar, vedar janela e porta e ligar o gás.
Mas não me mexem mais.
Fiz dela minha última.
Desde o início do ano afundada.
Embaralhada, toda enroscada.
Derrapando pros lados.
Enchendo o saco de todo mundo.
Tudo grande, insuportável.
Um drama.
Já tudo resolvido, tudo.
Problema mais nenhum.
Posso sentar pra ver o ano acabar.
Nenhuma questão mais.
Alisado, tudo alisado, sem dobra, fora as do corpo, que diminuiram também.
Até dos dentes tratei.
Faltam os 7 quilos.
E então como se a vida na escrita.
Não tem mais o que escrever.
Não sei mais.
Toda frase parece boba, assunto, jeito.
Não que antes não fosse.
Não fazia por ser bom,
Ia fazendo.
Não sei, parou.
Foi parando.
Não tenho ficado tanto em casa.
Pode ser isso.
Não vejo tv há meio ano, também pode.
Depois de semanas ontem tinha mais uma na cozinha, sempre lá.
Planejo fechar, vedar janela e porta e ligar o gás.
Mas não me mexem mais.
Fiz dela minha última.
Desde o início do ano afundada.
Embaralhada, toda enroscada.
Derrapando pros lados.
Enchendo o saco de todo mundo.
Tudo grande, insuportável.
Um drama.
Já tudo resolvido, tudo.
Problema mais nenhum.
Posso sentar pra ver o ano acabar.
Nenhuma questão mais.
Alisado, tudo alisado, sem dobra, fora as do corpo, que diminuiram também.
Até dos dentes tratei.
Faltam os 7 quilos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
sua cara 04/11
Gabriel Sanna
nasceu em 1981 no rio de janeiro e aos 7 anos mudou-se pra belo horizonte, onde nos anos 90 participou de diversas bandas de punk autoral, dentre elas o clone de albuquerque, junto dos amigos mateus bahiense e wagner carvalho. em 2003 viveu em tokio, onde rodou seu primeiro curta, "o estrangeiro". no ano seguinte voltou a bh e fundou com dellani lima e rodrigo lacerda o coletivo "eu morri em 1999", que até hoje realiza diversos curtas e também alguns projetos para tv. em 2006 iniciou uma parceria com a escritora e psicanalista lucia castello branco, afim de produzir documentários sobre alguns sujeitos singulares da literatura em lingua portuguesa. em 2007 viveu em portugal, onde rodou seu segundo longa, "redemoinho-poema", e mais 4 curtas. de volta ao brasil, foi morar no rio de janeiro onde prepara, junto de lucia, o longa "mar interior", sobre a cantora maria bethania e sua relação com alguns escritores portugueses. está também filmando há dois anos seu primeiro longa-metragem de ficção, com lançamento previsto para 2011.
http://www.youtube.com/user/sannagabriel
nasceu em 1981 no rio de janeiro e aos 7 anos mudou-se pra belo horizonte, onde nos anos 90 participou de diversas bandas de punk autoral, dentre elas o clone de albuquerque, junto dos amigos mateus bahiense e wagner carvalho. em 2003 viveu em tokio, onde rodou seu primeiro curta, "o estrangeiro". no ano seguinte voltou a bh e fundou com dellani lima e rodrigo lacerda o coletivo "eu morri em 1999", que até hoje realiza diversos curtas e também alguns projetos para tv. em 2006 iniciou uma parceria com a escritora e psicanalista lucia castello branco, afim de produzir documentários sobre alguns sujeitos singulares da literatura em lingua portuguesa. em 2007 viveu em portugal, onde rodou seu segundo longa, "redemoinho-poema", e mais 4 curtas. de volta ao brasil, foi morar no rio de janeiro onde prepara, junto de lucia, o longa "mar interior", sobre a cantora maria bethania e sua relação com alguns escritores portugueses. está também filmando há dois anos seu primeiro longa-metragem de ficção, com lançamento previsto para 2011.
http://www.youtube.com/user/sannagabriel

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