quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sou de cobre

Estou botando DIU.
Acho que meu assunto em qualquer lugar poderia começar assim.

Fico orgulhosa, me sinto interessante.
Sabe, não é qualquer uma que pode.
Tem que ter trajetória.

Me sinto maior que quando tomava as bolinhas.
Pílula é diária.
Pra quem tem memória.
Meu DIU tem 10 anos de vida!
Posso esquecer ele lá.
Pílula é coisa de policisto.
Quando adolescente tomei pílula.

Rodrigo é o homem que me faz ter vontade de ter outro filho.
Ginecologista e obstetra.
Quando tive Tito não foi com ele, foi com um médico que ameaçou até a última hora de me fazer uma cesárea. Porque eles agem assim, acham que a palavra final é deles. Não é!
Meu parto foi normal, afinal.

Depois de Tito conheci Rodrigo.
Ir numa consulta com ele é uma das coisas mais agradáveis de fazer.
Como se no boteco com amigo dos melhores.
Ele sabe de tudo meu.
Da separação, do filho e das encrencas.
Cuida do que descuido.
Brinco que ele é o melhor homem pra se ter um filho.

Mas sabe que quando foi colocar descobriu que meu colo do útero é pequeno.
Perguntei sorrindo Não posso mais engravidar?
Ele riu e disse que eu vou mudar essa opinião assim que me apaixonar.
Disse que já mudei, mas também já voltei.

Meu DIU está em análise.
Vou nesses lugares de ultra-som pra ver meu segundo filho.
Com destino traçado até 10 anos, não mais, meu pequeno.
Começamos sabendo que era assim.

Eu tenho 31, daqui 3 meses 32!
O dobro da idade da que quando comecei a conhecer os homens comigo.

Botei óculos escuro e saí pra trabalhar.
Eu e meu DIU.

.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

E que Durango Kid quase me pegou

Esses dias venho tentando escrever um roteiro.
Não achava o caminho.
Hoje acho que achei, achei, certeza!
Escrevi ele quase inteiro em três horas.
Ele pode ser a maior chatice mas eu ri e chorei enquanto fazia.

Gosto de títulos.
O restante pode ser uma porcaria.
O título nunca. Não pode.
Tem que valer qualquer estupidez.
Esse que parece Meg Ryan vale que seja assim, assim!

"Amo você mais que tudo na impaciência de quinze horas"

Ao meu pequeno mais grande




Hoje fui procurar umas músicas dentro da pasta de música pra criança que tenho aqui.

E escutando o que escutei, veio o mesmo cheiro que sentia nos primeiros meses de Tito. E mesmo antes, na gravidez. Minha pele sentia diferente, o olhar, o que eu pensava sem saber o que pensar.

Me carregou lá pra gravidez, pro dia do meu parto que foi o momento mais bonito que já tive em toda a vida.
Um momento em especial, quando depois de algum tempo no trabalho de expulsão o médico falou: Na próxima Tito sai.

O que me fez chorar quase com dor da emoção que era receber essa fala.

Ser mãe é um presente de enlouquecer.
Uma selvageria.

Um filho vive em tantos lugares, pra sempre.


Esse foi o primeiro vídeo que editei.
Aprendi a editar entre uma mamada e outra pra conseguir guardar o que eu vivia todo dia, todas as horas desses dias.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Assim que passou a haver tudo quanto não havia

Eu preciso escrever alguma coisa bonitinha aqui pois minha mãe não gosta quando fico só de escrito triste.
Ela diz que vem olhar com um olho só pra ver o tom que as coisas estão, se estiver deprimente ela fecha e corre pra outra página qualquer.
Meu irmão disse que além de deprê, acha que eu tô dando mais que chuchu na cerca.

Aproveitando o momento eu vou escrever pra eles.
Podem ler até o final!

Estou escrevendo um roteiro que tá me enchendo o saco.
Porque tá me levando de volta a um monte de coisa que tem me deixado em paz por hora.
Melhor não ficar cutucando demais.

Meu filho é um dos melhores, não é por ser meu não.
Ele contagia.
A gente dança estranho juntos, canta gritando em microfone de colher, brinca de composição com palito de sorvete e resto de tecido, tudo ele tá dentro, na maior energia.
Tem três dias que tá um saco!
Hoje conversamos. Falei que antes de ontem achei que ele estava chato, ontem também achei que estava, hoje tenho quase certeza que ele é.
Se ele soubesse dizer ia me retrucar uma maravilha.
Sorte, ou azar o meu.

Ontem num momento caótico que tudo irrita peguei a criança, coloquei no carrinho e Vamos Andar!
No caminho tivemos três convites de carona.
Como não tinha rumo nem pressa, recusei.
Vi que os bares estavam cheios de brucutus de uniforme virados pra uma tv.
Eu já gostei de futebol, antes de morar no Rio.
Aqui devia ser semana sim, semana não.

Bom, de pirracenta eu passo no meio deles que ocupam a calçada toda, faço todo mundo se mexer.
Tito ainda não tem vergonha de mim.

No caminho vi um desses, um senhor, caindo.
Vi que ele ia cair, fiquei apavorada, ele ia de cabeça no chão.
Ele passava pelos outros que não o viam. Não o viam.
Eu gritava coisas, essas coisas que a gente fala e não sabe depois, eles me olhavam e era como se eu estivesse vendo fantasma. Só eu.
Corri com Tito pro outro lado da rua. Onde ele estava.
Caiu antes da gente chegar.
Os outros continuavam passando, sem enxergar.

Chegamos perto e vi que ele teve a sorte de cair num canteiro.
Eu perguntei a ele o que estava sentindo.
Ele disse que estava ruim.
Mamãe, caiu!
Direto ao assunto: O senhor bebeu?
Bebi, bebi.
Ah, que bom! Pensei que fosse coração.
Caiu, caiu.

Parou uma família com a gente.
Mãe, pai e filho.
Eu perguntei onde ele morava, que a gente podia levá-lo pra casa.
Caiu, mamãe, pá!
Perguntei se ele morava sozinho.
Disse que morava com a mulher.
Eu disse que levava ele em casa, que ia escutar um bocado, mas pelo menos chegava lá.
Disse que não precisava.

Começou a dizer que estava puto.
Que na verdade, na verdade, estava puto.
Caiu, caiu!
Eu disse a ele que na verdade, na verdade eu também estava.
E que de verdade, meu filho também estava.
E também de verdade, bem verdade eu não tava afim de escutar a história que ele não conseguia contar.

A mãe da família disse pra eu não falar assim que ele podia ficar irritado.
Só empurrar de volta pro canteiro, eu disse.
Porque eu e eles, esses que caem, temos uma ligação profunda.
Sabemos lidar um com o outro.

Por fim ele saiu se segurando nas grades e foi.
Eu fui até a esquina acompanhando pra ver se ele não corria risco de ser atropelado.
A família já tinha ido.

Hoje estive com o...péra...vou pegar o cartão.
Flávio Eli T. Silva.
Massoterapeuta.
Cego.
Nossa, eu fiquei com essa imagem de um cego fazendo massagem, achei incrível.
No cartão não tem CEGO, falei pra ele que devia colocar.
Riu, por sorte minha.
Vivo em risco.
Conversamos um tanto e eu vou lá qualquer dia.
Não posso deixar essa experiência.

Estive fazendo uma oficina pra professores.
Que foi muito gratificante.
Um público muito carente de tempo e espaço pra aprofundar, ampliar repertório.
E tão aberto, receptivo, rico mesmo no que falta.
Eu me dizia ex-professora e me vi de volta à labuta, com prazer.
Mas lembrei o que me pega na área de educação.
O correto.
Tudo tem que ser dito de forma correta.
Os têrmos.
A gente não pode chamar o Flávio de cego, ele é deficiente visual, agora talvez diferente...Eu me sinto muito mais próxima chamando o Flávio de cego.

Esses dias estava sem um puto e sem nada pra comer.
Virei pro Tito e falei: Vamos brincar de resto?
Conseguimos um almoção, juro!
Estranhíssimo mas imponente!

Voltando pra casa peguei o ônibus que me trás com o cobrador careca que faz do trabalho dele a parte mais agradável que tem no dia.
Ele tem uma gentileza, um prazer em conversar com as pessoas, facilitar, ajudar, fico fascinada.

Queimei meu teclado há um tempo atrás.
Peguei um provisório pra não pagar 180,00 em um novo, por ser da apple.
Não tenho acento nenhum.
O que demorava minutos pra escrever fico horas caçando acentos e cedilhas, completando.
Pedi a uma amiga que me mandasse agora todos os acentos em um e-mail só.

A cor tá de volta pra onde vejo.

Eu quero tudo, tudo, tudo da vida,
E meu tudo é esse quase nada de tudo.



domingo, 4 de outubro de 2009

As coisas são as mesmas, mesmo quando variam

Essa semana trouxe um gosto diferente pra mim.

Quanto Tito fez nove meses, no dia 21 de outubro do ano passado, eu estava dando almoço pra ele numa cadeirinha que balançava e colocava encima do sofá. Ele sempre comeu tudo. Fui colocar o prato vazio na mesa atrás de mim e virei pra tirar ele dali.

Gritei um grito de morte.

Tinha de algum jeito se balançado e estava já no ar, com impulso, indo cadeira e ele inteiro sobre a testa mínima bater no chão.
Eu vi meu filho morto. Vivi a morte dele em segundos.
Peguei ele do chão de qualquer jeito, chorava com ele apertado em mim como se ele nem vida mais tivesse. Carregada de culpa por não proteger quem era naquele momento incapaz de qualquer auto-proteção.

Tito está vivo!
Mas ali eu tive a sensação quase sem ar de quanto é rápido deixar de estar.

Esses dias, esquecida da experiência, ou talvez não me pensando indefesa, me vi no ar também, caindo de testa, sem mão pra me proteger.
Ninguém me empurrou.
De inconsequente eu me balancei na cadeira de cima do sofá.

Tive a mesma sensação de morte.
Gritei também.

Voltei pra mim. Me apertei em mim.
Tive o maior desejo de me cuidar, como faço sendo mãe.

Redescubro na queda o prazer desse cuidado e a máxima necessidade que tenho agora.

Depois foi como se ouvisse a médica que cuidou dele naquele dia, há quase um ano atrás:
"Essa é a parte do corpo mais forte que temos".

sábado, 3 de outubro de 2009

o descaso com a função

Meu irmão quando pequeno pegava uma lupa colocava entre o sol e a formiga pra ela queimar e morrer.
Eu achava aquilo assombroso.

Meu irmão tem olho verde.
A cena piorava.

Eu sempre fui a tapadinha.
Meu irmão era o máximo!
Ainda é.
Rápido pra pegar as coisas, fuça, descobre, fez medicina na Unicamp, ganha bem e tem a vida do jeito que ele programa.

Me espanta esse domínio.

Tenho um jeito estranho de pensar.
Confesso aqui.

Pra mim as coisas são funcionais.
Seja o que seja.
O fio dental, o chá, o cinzeiro, o pensamento, a amizade, a paixão, o filho, o palito de sorvete.
As coisas existem pra funcionar, de algum jeito.
Difícil pra mim entender uma saia que suba com o vento, ou o grampeador que não grampeia a última folha. A mãe que pragueja o filho, a pessoa que detesta a vida, a relação entre duas pessoas que se gostam e não acontece.

A saia é pra cobrir, o grampeador pra grampear, só é mãe quem tem filho, quem não quer viver morre, gente que se gosta se junta.

Queria saber a função das formigas que tenho em casa.
Fazem formigueiro em banana, avançam em resto de água, sobem na pimenta, na tábua de cortar, no varal.

Não me faz sentido nenhum.
A não ser detestá-las.

Me falta a lupa.
E o olho verde pra cena ficar pior.

Continuo lenta.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

"Venha, eu vou cuidar de você" (O Natimorto)

Sentei aqui pra escrever e coloquei, "repeat one" em "Enquanto seu lobo não vem".
Essa música me faz importância de enlouquecer esses dias.

Hoje acordamos mais cedo que de costume.
"mamãe, mamãe..."
Sete e meia da manhã.
Tito anda mais inseguro que de costume também.
Claro, sou eu. Ele sabe quando estou mais maluca.
Pede alto como se me lembrasse: mãe, volta!

Bom, vou lá e agarro ele. Seja a hora que for.
Em pedido de desculpa disfarçado.
Ele tem sido cada vez mais lindeza de vida na vida que eu tenho depois dele.
Tenho me concentrado mais.
Não demais, nem de menos. Acho.

A música na terceira repetição.

Tinha planejado levar Titão na escola, voltar pra casa fazer umas coisas que tinha pra fazer e mais tarde ir pro Rio num encontro que tinha marcado com Gus tan van.
Como mãe e filho acordaram antes, me preparei melhor e depois de deixar filhotudo na escola fui direto pro Rio ver O Natimorto.
Cheguei lá, comprei meu ingresso e sentei no banquinho da praça do Odeon. De frente.
Em seguida vejo Lourenço vindo fumar um cigarro perto.
Fui lá ver ele, agarro um abraço e uma conversa.

Muito emocionado com a recepção que o filme teve na estréia.
Depois me pergunta: Como é que você tá?
- Caminhando. Pé por pé.
- Difícil, né?
Ele é assim, generoso pra te olhar, pra saber de você enquanto o filme dele estréia no festival.
Apareceu o pessoal da produção, ele se despediu pra encontrar com eles.
Perguntou ainda de gentil que é: Toma um café?
Querendo que ficasse à vontade, disse que não.

Entrei no Odeon que pra mim é sempre especial.
Não fiquei na fila porque sei que sozinha a gente entra fácil em qualquer poltrona que sobra.
Sentei na melhor, atrás do lugar reservado pro júri.

Teve apresentação do filme e depois Lourenço veio vindo pra trás pra sentar e assistir. Disse que na estréia ele não viu direito pelo nervosismo. Já escuro, sentou na poltrona que tinha na minha frente. O cara da produção falou pra ele que ali era reservado. Levantou simples, deu a volta nas cadeiras e sentou na poltrona do meu lado. Eu dei um beijinho no ombro dele e disse: Consegui! Ele riu e de gentil que é: Tava te procurando.

Vimos o filme.
O Lourenço é um dos artistas atuais que mais me tiram do lugar.
Mais ainda depois que conheci o que ele é.

Terminou o filme. Aplaudimos.
Eu tinha que virar e cumprimentá-lo e não conseguia, não sabia sair da tela.
Ele me cutucou e disse: preciso ir, o pessoal tá me esperando.
Tinha debate.
Abraçamos de novo do jeito melhor de abraçar.
Me perguntou: Gostou?
Eu na minha pobreza espontânea: nossa senhora!
Ele foi e eu fiquei ali, escorrendo do olho, até a última letra. Feliz de não estar em cinema que acende a luz nos créditos.

Fui ao banheiro. Fila.
Chorava ainda.
Esperei olhando pra baixo. Dentro do filme.
Xixi.
Saí e lá fora encontro de novo Lourenço entrando na Van.
Abraçamos de novo.
Digo a ele que tenho uma reunião e não posso ir vê-lo no pavilhão.
Ele diz: Gostou, então, não?
Eu de novo na idiotice: - Puta que pariu. Queria ficar lá.
Despedimos.

Se houvesse outra sessão eu ficaria, e se mais uma de novo.
Como o repeat do Caetano.
Podia estar até agora lá, e até amanhã.

Não preciso de muitos lugares diferentes, mas desses poucos que me dão casa.

Me derreto com esse encontro.
Com esse tipo de.
Com ele, Lourenço, o encontro tem sempre um pouco de melancólico.
Mas melancólico do jeito correto, como diz um amigo que gosto.
De poder entregar também o que não tá sorriso.
Sempre saio melhor.
E dá certeza que nada precisa ser forçado.
Que as coisas se atraem.

Eu precisava dos três abraços dele hoje.
Também de assistir a esse filme que me mexeu tanto desde o livro, ao lado dele.

Obrigada, Lourenço querido.
Sem saber mais como agradecer do cuidado que me tem.


terça-feira, 29 de setembro de 2009

Caetano não me deixa desafetar



Tenho sentido um estado de paz estranho, leveza nessas coisas todas.
Depois de tanto perigo a gente duvida da trégua.

Apesar de duvidar eu não digo alto sobre a dúvida que me dá,
Quero mais disso que estou sentindo, pianinho.
Não quero me armar, ou me desarmar,
Mas torço pra ir sem chamar atenção pra mim agora.
Não suporto a atenção que me dão, pulo encima dela.

E sei agora que essa coisa de estar bem, sozinha, é balela.
A gente tá o tempo todo em companhia.
As pessoas, as mais diversas, interferem em você o tempo todo, de todas as maneiras,
E hoje, quebrando a pose auto suficiente, agradeço a cada uma delas.

O agradecimento vai para as pessoas que me deram o que me surpreendeu por ser aquilo que precisava delas, as que machucaram, me fizeram chorar ou choraram, e as que me provocaram saudade do que não pude viver, que não me deram o que pedi.
Tudo vem com substância,
Umas que exigem mais tempo pra reconhecer, mas vêm, batem juntas depois.

Claro, o que me faz vibrar melhor é estar próxima de pessoas que me trazem algo melhor pra vibrar.
Podendo acompanhá-las ou não.

Quero me ligar com sinceridade e viver o que posso e tenho de real em cada lugar,
Procurando ainda a leveza que preciso pra tudo,
Fazendo minha relação de confiança sobre o que sinto,
E me carregar clara, sã e essencial, independente do que posso trazer ou preciso deixar.

A caminhada não está moleza,
Insisto em me dar sem precisar de volta,
Mas também me recolher, me quero pra mim agora.

Estando mais consistente, pra talvez me esparramar,

Debaixo da lama.
Debaixo da cama.

Sem que me juntar me custe tanto depois.


segunda-feira, 28 de setembro de 2009

sábado, 26 de setembro de 2009

Essa minha tensão pós-moderna tem que menstruar

Nunca liguei muito pra gente.
Sempre teve uma via rápida entre nós.
Como ator e agência de casting.

Rio como tonta, deve ser isso.
Agora ainda tem Tito, outro tonto.
Sai os dois catando gente pra perto da gente.

Ao contrário do que parece,
Não sou de grupo.
Sou monogâmica.
Mais que gostaria até.
Como diz Tatoca, minha amiga: um canal só, né nega?

Eu gosto de estar na companhia de uma pessoa só.
Não como as minhas amigas, mas ainda assim a idéia do canal funciona também.

Depende muito do que a gente está querendo dividir,
Mas se a gente sabe o que é também sabe com quem fazer.
Tem gente que te tira de dentro e não deixa voltar,
Que vai lá pra dentro com você e te mergulha pouco mais.
Uns que gostam de teatro. Outros só querem a praia.
E a gente sabe da energia e conexão pra encontrar.

Bom, isso quando tá tudo colorido.
Porque quando a coisa aperta, aperta mesmo, pra valer
Vejo minha imagem pequeninha lá embaixo, a câmera lá do alto, a voz baixinha:
- Tá tudo branco aqui. Cadê vocês?

Que sufoco, Geni.

Esse é o desespero que meu filho tem quando acorda sem abrir o olho.
Berra como se em sessão de tortura.
Quando lembra que tem olho pra abrir: faz-se a luz.

Hoje fui com Tito para um dos lugares mais bonitos de Niterói,
Praia da Boa Viagem.
Encontramos algumas pessoas boas de encontrar pelo caminho,
Seguimos andando.
Corrijo.
Eu andando empurrando carrinho, ele deitado na maior banca de bonachão.
Até que dormiu.

Andei até o último lugar com sol.
Estava um vermelhão por toda parte, ali.
Parei num quiosque e pedi uma cerveja, como não?

Só que no quiosque eles não servem na mesa.
Ai saco, detesto quebra de clima.
Fiquei ali atrapalhada pensando em como fazer pra pegar a cerveja, empurrar o carrinho, não ia deixar Tito ali sozinho, dormindo.
Um senhor que estava de pé no balcão me gritou: Deixa que eu te levo!
Eu dei um sorriso rasgado e: ai, que bom!

Ele me trouxe, serviu meu copo também.
Agradeci, muito agradecida.
Ele disse que eu estava parecendo muito feliz.
- Com esse filho lindo também!
Eu sorri menos rasgado.
Agradeci mais uma vez, ele voltou pro lugar onde tava.

Olhei pro meu filho lindo e resmunguei da idiotice de não lembrar disso a cada segundo.

Voltei a olhar o vermelho, lá na frente agora, em cima do Rio.
O senhor me sorria do balcão.
Eu percebi que não ia parar, desviei o olhar pra baixo, olhando o mar.
Sim, porque eu sei do meu público forte,
A juventude da década de setenta.
E eu os adoro também.
Mas o senhor de gentileza impecável não tirou minha vontade de estar sozinha.

Terminados sol e cerveja, comecei a me arrumar pra voltar.
O senhor veio vindo na minha direção.
Quando bem próximo deu uma paradinha:
- Essa foi cortesia minha. Tchau, querida.
Meu sorriso de agradecida e envergonhada.
- Poxa, muito obrigada pela gentileza.
Ele me acenou. Foi.

E eu me lembrei o tamanho de quase nada que tem meu universo.
Esse que me emburacou.

Que meus amigos estão por perto, ainda os que longe, os que estão pra chegar.
Que a ansiedade de sair daqui faz o tempo arrastar.
Que vale a pena respirar, parar de me bater.
Perceber o movimento natural e fluido que tem.
O tempo todo, pra todo lado,
Só o olho abrir.

.

Godot




Em um lugar indefinido, estrada (caminho) do campo, com árvore, à noite, dois amigos se encontram, esperam - nada a fazer.
Interrompidos por dois homens, um deles que segura a ponta de uma corda, o outro que tem a corda amarrada no pescoço. Algumas palavras e saem os dois homens da corda.
Entra um garoto que diz que quem eles esperam não vem hoje, talvez amanhã.

Em um lugar indefinido, estrada (caminho) do campo, com árvore, à noite, dois amigos se encontram, esperam - nada a fazer.
Interrompidos por dois homens, um deles que segura a ponta de uma corda, o outro que tem a corda amarrada no pescoço. Algumas palavras e saem os dois homens da corda.
Entra um garoto que diz que quem eles esperam não vem hoje, talvez amanhã.

Em um lugar indefinido, estrada (caminho) do campo, com árvore, à noite, dois amigos se encontram, esperam - nada a fazer.
Interrompidos por dois homens, um deles que segura a ponta de uma corda, o outro que tem a corda amarrada no pescoço. Algumas palavras e saem os dois homens da corda.
Entra um garoto que diz que quem eles esperam não vem hoje, talvez amanhã.

- Então, devemos partir?
- Sim, vamos.

Eles não se movem.


.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Uma aprendizagem

ULISSES
Não pense que te afasto! Mas não pense que não me assusta também.
Você me fez lembrar de outros momentos na minha vida que mudaram muita coisa em mim. Nem tanto na vida prática, mas em como eu via tudo, em como reagia, nas minhas ações e na minha percepção dos outros.

LORI
Uma coisa se desconecta da outra?

ULISSES
Posso te confessar uma coisa? Sem promessas, nem propostas, nem nada? Só pra te dizer o que tenho muita vontade de dizer?

LORI
Por favor.

ULISSES
Você me faz muito bem. Não sei o que é, não sei o que significa, nem o que pode se tornar. Ao contrário do que você diz, é você quem me trata muito bem!

LORI
Uma pergunta, a última. Você sente vontade de estar aqui?

ULISSES
Sempre.

LORI
E por que não parece?

ULISSES
Só não sei o que pode acontecer de fato. Não sei, mesmo.
Você tá bem?

LORI
Estou bem.

ULISSES
Até amanhã. Mês que vem. Ou qualquer dia no meio.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Ele veio hoje mas não de volta





Eu não tenho pena de mim.
Normalmente não.

Mas hoje senti a falta que sinto do meu pai.
E o choro que tive foi de pena.
De mim.

Eu queria agora ter meu pai aqui comigo.
Queria que ele conhecesse meu filho e visse o humor que veio dele ali no pequeninho.
Que chorasse comigo como ele fazia, de manteigão que era.
Chorando e rindo, como eu aprendi.

Depois de muito tempo sem escutar, botei Vinícius pra ouvir.
Vinícius é minha casa.
Sou eu vendo meu pai.
O whisky que ele virou até o final.
O queijo em cubo.
A bacia de salada pra não engordar.
Com cerveja. E um pãozinho.

E a mesa de fora.
O Landau que dava vergonha na escola.
Do meu pai nunca.
Um príncipe meu. Mais pra rei. Gordo. Pequeno.
E sempre vi meu pai enorme. Pra todos os lados dele.

Eu não posso chorar alto.
Queria chorar aquele choro que parece gargalhada.
Meu pai nunca chorou assim,
Escorria, e falava asfixiado, até que ria da graça que tinha nisso.

Dentista de dente feio.
De roupa branca de babar, impecável.
Passava aquela pastinha no sapato.
Que tinha um nome parecido com steak de frango, nugget.

Mês que vem faz nove anos que fiquei sem ele.
E lembro que uns dias antes estive na nossa cidade.
Ele tinha uma dor na perna, nada de assustar, sempre a gota.
Fomos no mercado juntos.
Fazer compra pra casa dele e pra nossa.
A Lu, minha irmã, foi buscar a gente na Moreira.
Deixamos ele em casa.
Pedi pra ele não carregar nada, eu levava.
Ele carregou.
Fiquei chateada.
Ele sentindo dor.
Briguei, comecei a chorar.
Chorei esse choro de soluço.
Entrei no carro e chorei, chorei.
Choro daquele que parece gargalhar.

Foi a última vez que nos vimos.
Talvez 23 de setembro de 2000.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

eu quero é botar meu bloco na rua

Acredito em uma quantidade de coisas em mim.
Confio na percepção que tenho, na impressão que me fica do que me conecto.
Sei saber das pessoas.

É um tipo de relação que sei estabelecer.
Não leio jornal, não vejo tv há meses, não sei nada das guerras, das relações entre países e que partido devo tomar em relação à crise.

Tenho palpite pra mim.
Não interessa a ninguém de tão ingênuo.

E não é que eu não queira, que gosto do discurso de não saber.
É que depois de muito tempo fui percebendo que não podia tentar ocupar um lugar que não absorvo, que não me alcanço através dele.

Meu aprendizado só se faz no que experimento.
Lembrei agora de uma professora que dizia 'experienciar'.
Não sei se está certo mas o som eu gosto muito.

Antes desse texto eu comecei outros três.
Nada era o que tinha a dizer.

Não sei se sentem isso,
Eu percebo, muitas vezes, onde falo por falar,
Faço por fazer.
E descubro o que sai sem vida.

Se eu só posso dizer do que experimento,
Preciso que isso seja o que seja, realmente.
Tenho que procurar isso do jeito que está em mim.
Com referência visual, sensação que me provoca, lembrança.

Muitas vezes preciso de tempo pra chegar em mim.
Noutras eu vomito. Em segundos.

Esse texto me foi mais difícil encontrar.
Porque foi difícil encontrar o que me fez começar.
Reconhecer essa sensação em outro lugar.

Porque a gente reconhece o movimento daqui lembrando do que viu ontem com alguém,
A gente relaciona uma pessoa a outra, leva um autor à outro.
O encontro afetivo que a gente precisa.

O que me fez começar o texto não me foi fácil, como disse.
Porque não tinha disso por onde eu ia.

Voltei a ele.
E pude reconhecer algo que me quebrou depois desse contato.

O que tenho encontrado antes daqui me traz a imagem de uma loucura conjunta.
Uma paranóia afetiva.
O medo de se alimentar da comida que é pouca.
A escolha da fome total por medo de saber o sabor da falta que vem depois.

Me vi assim em defesa,
Pensando que não.
Me desviando.
E me reconheci assim por me ver com outra cara.
Por me descobrir toda, sem receio do depois.
Porque estar ali sem fuga vale qualquer depois que venha.

Minha convicção é na confiança.
Confio nas pessoas, em todas.
Umas mais, outras nem tanto.
Uso o que recebo, tento não pedir o que não me deram.
Cada relação se estabelece dentro do possível que cada uma tem.

Dentro dessa confiança nem sempre meu jogo é bom.
Muitas vezes saio atropelada, desacostumada com as passagens de agora.
Ainda mais que venho de um trajeto que é uma lindeza,
Sem economia, também sem invasão. De vida junta e separada.

Qualquer defesa não parece caber quando se pretende estar junto.
Incompatível, não me traz sentido algum
E mesmo assim me vi ali, desconfiada sem saber.

Muitas vezes me engano na confiança,
Mas não desacredito dela,
Eu que preciso treinar melhor a percepção do limite dela em cada lugar.

A exaustão desse movimento de ida e volta é menor que o reencontro cheio que tenho agora com o que acredito.

Tanta coisa que mexe,
Não consigo organizar o texto.
Vou deixar ele assim esparramado.
Me sinto um pouco desse jeito.

Confiar no que coloquei aqui,
No que sinto, no que ficou em mim,
Com a confiança enorme que tenho comigo agora.

Aprendizado meu que só se faz no experimento.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

História sem fim

Era uma vez uma menininha
Já não tão menina
Nem tão pequenininha

Vivia de sorriso aberto
Num lugar calmo
De cor, sabor e afeto

Sabia o que fazer
Sabia o que dizer
E o que não sabia não fazia

Um dia ela reparou
Gente, o fogo acabou!

E sem o fogo o ar parou.

A menininha, já não menina, nem pequenininha
Não sabia mais o que fazia, o que dizia
Nem sorriso mais saía

Viu então uma saída, a única que tinha.

Olhou por ela e viu como era
Era alta como num prédio uma janela

Sem saber bem como pular ela pulou
Caiu lá embaixo, machucou
Caída e machucada veio o ar que respirou

Chegou alguém e lhe ajudou
Pegou no colo, levou
E a sensação do fogo voltou

Já não menina, nem pequenininha
O dono do colo não conseguiu
Pôs a menina no chão
E o pé que parecia melhor, abriu

Outro colo apareceu
E o pé nem doía mais
Mal conseguiu dois passos
E o dono que era fraco
Largou ela que nem saco

Alguém chegou e viu
Disse pra menina que o pé abriu
E que a melhora só vinha
Quando ela pisasse sozinha

A menina agora mais pequenininha
Abriu a boca pra chorar
Não aguentava mais lamentar
Da dor que doía e fazia também respirar

O ar agora vinha
Faltava saber andar
Pra chegar onde ela tinha
Onde via o fogo queimar

Mais um colo ela ganhou
Calmo
De cor, sabor e afeto
E nesse colo ela notou
Esse é meu predileto

Pediu então pra descer

Viu o pé rasgado
E sangue pra todo lado

Não se assustando mais
Firmou no chão o calcanhar
Sabia agora o que não soube lá atrás
Insistir, tentar, até andar

O antigo colo lhe deu a mão
Mas sem conseguir segurar
Viu a menina desmoronar

O choro saía
A menina doía

Certa do que queria
Pediu que ele fosse, que ela iria
E que quando o pé curasse
Ela chegaria

Ele saiu na frente
Mostrando a ela onde pisar
Ela sorriu pra ele
Começando a se levantar

Cada passo que dava
Vinha com choro
Vinha com riso
Mas a vontade da menina
Era chegar onde ele estava, sozinha

O pé começou a ficar dormente
E o fogo que tinha nela cada vez mais quente
Quanto mais o pé doía
Mais ela ria, mais ela ria

Ontem encontrei a menina andando
O pé sangrava, ela cantava
Não entendi nada o que rolava

Perguntei se ela não tinha pressa, dor, calor?

E ela disse que o calor só aumentava
Que ela queria, que precisava
Que era a falta dele que machucava

Que a dor que sentia no pé lhe fazia rir
Pois era quando a sentia que sabia pra onde ir

E que a pressa ela não podia ter
Que precisava saber andar devagar e entender
Que o caminho era lento e sozinho, só assim pro pé curar,
Que quando chegasse até ele, sem dor e sabendo andar
Poderiam pular, correr, dançar.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

cada dia que tenho é meu

Cheguei da rua preparada pra minha noite sozinha em casa.
Até babei.

Eu não preciso afirmar aqui o quanto é bom ter Tito comigo.
Não, claro que não.

Preciso sim dizer com ênfase que é sensacional, essencial e delicioso a sensação de estar sozinha
Sozinha inha
inha.

Sempre tive um prazer de gargalhar ao me ver assim.

Me vejo um pouco louca
A minha boca aberta
O sorriso demente
O olho ansioso, arregalado.

Mas claro, eu me preparo pra mim.

Preparo uma comida com prazer como se domingo que nunca cozinho
Compro as cervejas, que sempre acabam
Ponho pra gelar
Tomo um banho de lavar cabeça
Uma roupa bonita
Cabelo desarrumado, milimetricamente desarrumado

E me sento em frente ao computador como se no melhor bar da Lapa
Abro ali nova postagem pra começar
Vou ver uns e-mails que eu gosto
Dou uma passeada no orkut, msn e skype
Volto ao post que me desviei.

Separei agora um filme pra ver
Western Django

Me perco nas conversas boas possíveis on-line
Com ainda alguma bebida pra beber
E bem provável, fico aqui me acompanhando com as músicas que me fazem tanto
Nada assisto, nada leio
Vai assim, se tudo seguir bem.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

cada um é cada um no individual de si só

O único modo de realmente me conectar com as coisas do mundo é no contato que tenho com as pessoas.

Fico sedenta.
Tanto universo que esbarro todo dia.

Gosto de estar bem perto.
De olhar bem, sentir o que tem pra sentir.
Escutar o que não escuto em mim.
Nem em ninguém. Só ali.

Atordoa.
Uma pessoa só é tudo nela só.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Cuidado com as peças pequenas e móveis

Tenho receio de me proteger demais
E medo de me abrir além do que posso

É assim
Escancaro, recolho

Mas tem jeito não
Quando encontra motivo a gente se abre todo

Vê aquela belezinha de causa que te ri
E vai até não saber mais por onde entrou

Se perde todo por lá

Esquece um bocado de coisa sua,
Traz uma porção nova,

Fica nessa misturada toda
Em brincadeira de combinação

Me esquenta a variedade possível,
As possibilidades que têm ali,

Mexo na cor, testo o encaixe, viro um tanto pra lá, pelo outro lado
Monto, desmancho

Riso bobo todo o dia

Às vezes se descobre que um desses amontoados não cabe em lugar nenhum
Por mais que tenha cara e jeito do que te serve

Fica sem entender

Depois de insistir muito nas tentativas
Com algumas peças já quebradas no esforço
Que machucam

Sem saber brincar, a gente devolve

E aí a cara não fica tão boa
A diversão já não funciona

A vontade é de bater pé
Às vezes bate

Com a experiência que tiver

E chega uma hora que a gente só se retoma
Puxa de volta o que não pode mais dar

Se recolhe

Sem brinquedo
Uns arranhões
Sensação de incompetência

Riso frouxo todo o dia
Querendo escancarar

É assim