quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

às vezes Bukowsko

Volta de uma Ida Carnaval, acompanhada do roxo, rasgo, e da pele do dedo que pendurou.
A carona facilita o que sempre transtorna.
Talvez cansada, deu beijo e abanou antes de chegar.
Vejo o ônibus que demora mais à noite, mais no feriado, passando longe de mim, no feriado à noite.
Aproveito o boteco, peço um salgado, assado.
Nele (no boteco, não no salgado), uns moços, desses que não agradam.
Em bando.
A voz firme de quem fez faculdade e um filho.
Estico pra pegar a mostarda, um desses me ajudam, agradeço sem olhar.
Como tudo, salvo o papel que dou pro cesto já vomitado.
Vou andando numa saia de dois palmos e numa blusa vermelha que abre pra mostrar a coluna. Uma flor na cabeça me diz que bebi. O sutiã vermelho aparece e some na meia blusa.
Sigo o caminho que pode me trazer um ônibus.
Vou dando boa noite pros moços na rua, no escuro.
Agora devem dormir.
Devo ser a última que não parei.
Ali do lado de lá vejo um cachorro grande.
Olhando bem, parece um porco.
Comendo saco de lixo.
Um cachorro fazendo graça, óinc.
Os outros sem fantasia.
Percebeu que eu vi, vi o rabo, olhou a flor e parou o olho nela.
Viu o aberto da blusa, talvez o sutiã vermelho, e quase certo o short que não era pra ver embaixo da saia que erguia e voltava enquanto eu corria daquela fantasia.
À frente uma gente.
Um sorriso de cá besta de quem pede desculpa do ridículo.
Volto andar, de imediato.
Quase vejo a casa, a minha.
Dois meninos de treze anos me olham com cara de 32.
Cumprimento com voz de quem separou e trabalha com arte.
Sinto que a vida funciona quando ele abre o portão pra eu entrar.
Boa noite!
Salva.
Finalmente.
Tem ainda ela ali.
Um boa noite só, o último.
Ela tem olho de porco.
Não corro.
Pode ter gente ali.
- Boa N..
- Como é que eu faço pra falar com o Juan?
- ...não conheço.
- Do bloco 8.
- Não sei.
- Vem comigo.
Sai na minha frente, um pouco pro lado, um pouco pro outro.
Eu vou, não pelo Juan, continuo onde ia.
Virei onde ela não ia - Boa noite!
Era o último.
Não esqueci, nem perdi a chave de casa.
Consegui.
Não acendo a luz.
O Juan.
Banho-banho.
Suco de fruta natural.
Mania de agora.
Abacaxi com hortelã.
Sem açúcar que é pra valer.
Sentar.
Santo Deus.

Interfone!

Corro como se meu filho não estivesse em viagem.
- A Mila está aí?
- Quem é Mila?
continuo:
- Quem fala?
- É a Mirian.
- Que Mirian? Que Mirian?
- Do bloco 1.
- Não conheço, ninguém, nenhum nome, nada, nada.
- Desculpa, boa noite.
O último.
O pufe.
O suco.
Escovar o dente, ahhh.

Toca de novo!
De novo!
Que há?

- A Mila está aí?
- Que tá havendo, não tô entendendo, a segunda vez que me perguntam dela aqui, quem é essa?
- Minha mãe. O porteiro deu seu nome e apartamento.

Ódio.

- Sua mãe é uma que estava aqui no prédio, ali fora agora (com olho de porco)?
- Sim, ela.
- Eu não a conheço, só cumprimentei. Está tudo bem?
- Olha, desculpe, desculpe.

Numa vergonha de passarinho.

- Olha, não se preocupe comigo, qualquer coisa que precisar, pode me chamar.
- Desculpe, mesmo. Boa noite.
- Olha...
- Ãhn?
- ...fiquei com a impressão dela pular no Bloco Oito...

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